10/02/2019

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Venho vagando em circulo basicamente há dias e cada dia vem sendo uma cópia enjoativa do predecessor. Vasculhei boa parte dos locais que julguei serem interessantes mas não encontrei nada de mais em nenhum deles. Deitei para descansar ontem em uma casa qualquer e acabei por passar a noite aqui.

Ao acordar fui ao banheiro e antes de sair de lá me deparei com a minha imagem no espelho da parede sobre a pia e após muitas semanas parei para me observar por um instante.

As cicatrizes e escoriações de todas as lutas deixaram sua marca em meu rosto e corpo. A facada que levei de Adônis cicatrizou mal e gerou uma queloide na parte superior do meu peito, os machucados no rosto deixados pela última luta com o Frank se somaram as antigas marcas e agora tenho uma parte do lábio inferior faltando, além de uma cicatriz no supercílio direito e metade de uma orelha decepada pelo tiro do rifle.

Carrego um semblante cansado, que é reforçado pelos cabelos grandes e a barba por fazer, mas a aparência não me incomoda, não é isto que me importa e sim a mudança que sofri. Com certeza meu eu de um ano atrás não se reconheceria caso se visse assim.

Observei o reflexo do espelho durante alguns minutos refletindo sobre tudo aquilo que vim passando. Talvez também fizesse como uma forma de ter companhia por alguns instantes, minha imagem no espelho é a coisa mais próxima de um humano que esteve perto de mim em dias e por mais que eu me sinta cada vez menos humano, ainda sou a única coisa que me afasta da solidão total.

Venho trafegando pela região e decidi que seria interessante criar delimitações de área para saber melhor por onde estou andando. Já reconheço bem as fronteiras e o raio de ação dos homens do comandante e recordo-me bem dos avisos de Frank sobre os grupos de reconhecimento. A área do Frank anteriormente era delimitada pela linha por onde seguiam seus abrigos, mas agora com todos eles deflagrados não sei mais por quais caminhos ele segue.

Eu decidi me estabelecer sempre no raio entre as áreas de domínio do comandante e antigas áreas de Frank. É interessante pois de um lado sempre tenho uma região infestada de zumbis e do outro uma localidade com uma boa reserva de abrigos.

Os carros com mantimentos que peguei no galpão não seguem a mesma linha de localização que meus movimentos. Estão afastados numa área bem mais ampla, o que me favorecerá caso precise fugir inesperadamente.

Fiquei um tempo na casa após o amanhecer e partir apenas depois do café da manhã. Só costumo usar mais o carro quando preciso ir a algum lugar especifico logo, mas hoje decidir vagar com ele. O som desse carro em que estou ainda funciona e apesar de nenhum dos CD's que encontrei nele ser um dos meus favoritos, ainda assim é música e eu gosto disso.

Trafeguei com o carro por um tempo passando por locais já conhecidos apenas para certificar-me que as coisas continuavam na mesma, como sempre. Às 15h estacionei o carro em um beco, botei mais alguns suprimentos na bolsa e decidi segui a pé a partir dali.

Não muito tempo depois e nem tão longe dali eu parei em frente a uma pequena lanchonete, levantei uma das mesas derrubadas logo na entrada, assim como uma cadeira e me sentei abrigado do sol pela marquise do pequeno estabelecimento.

Tirei da mochila uma lata de sardinhas e as comi junto com um punhado de amendoins que restavam numa embalagem que havia aberto mais cedo. Finalizei a refeição com uma das últimas mangas que me restavam, o que não é de se preocupar, pois sei bem onde conseguir sempre mais um punhado delas.

Esperei mais um tempo após terminar a refeição apenas observando a rua vazia e sentindo o tremular do vento, apesar de tudo foi um tempo de calma. A partir dali segui a pé e voltei a caminhar por entre a mata que envolve boa parte da região.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now