26/11/2018

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Acordei ao som de batidas na porta do quarto. Espantei-me ao ouvir a intensidade do barulho produzido e pela voz que soou logo em seguida.

- Precisamos ir. Agora!

Em um segundo eu já estava de pé, ignorando a dor que rasgava meu peito. Puxei a camisa sobre o criado mudo e corri com ela na mão até chegar no corredor, onde Barbara veio de encontro a mim.

- Vamos. Temos que partir. – Ela disse apressada.

- Por quê? O que houve? – Perguntei enquanto vestia a camisa.

- Eles voltaram. – Barbara falou e seguiu caminho.

Aquilo me acertou como uma bomba. Eu sabia da chance dos homens voltarem, inclusive fui eu quem ressaltou essa possibilidade, mas não estava preparado para vê-la se concretizar assim.

Fui até a janela no fim do corredor e observei a rua à procura de algum sinal deles mas não avistei nada além dos zumbis. Voltei caminhando o mais rápido que pude, refazendo o caminho trilhado por Barbara logo antes. Ao seguir por alguns segundos e dobrar a direita no inicio do corredor deparo-me com ela deixando um apartamento colocando uma pistola na cintura e carregando meu arco nas costas.

- Quem os viu?

- Eu.

- Onde?

- Passaram a alguns poucos quarteirões daqui. Estão dando voltas a procura de algo, provavelmente atrás de nós.

- E o que vamos fazer? Você pensou no plano ontem?

- Meu plano era seguir aquele que já havíamos pensado, mas eu não esperava fazer isso com eles nos caçando.

Estávamos ainda em meio ao corredor discutindo sobre o que fazer quando Natália apareceu pela escadaria atrás de nós, roubando nossa atenção.

- Eles estão mais perto. Passaram a duas quadras a esquerda. Se chegarem mais perto verão os canibais ai da frente.

- Droga! – Barbara praguejou.

- Temos que tirar os zumbis da frente do prédio, agora. – Falei tentando tomar as rédeas da situação e prossegui. – Eu e Barbara levamos os zumbis pra longe e aproveitamos a horda para distrair esses caras. Você e Edinho ficam aqui nos dando cobertura.

- Você não vai. Não neste estado. – Barbara se opôs a mim.

- Eu estou em plenas condições. Não vamos discutir.

Ela então tirou o arco das costas e pôs na minha mão.

- Prove.

Segurei o arco que pareceu mais pesado do que nunca e me esforcei ao máximo para empunhá-lo corretamente enquanto tentava tensionar a corda e por pouco mal consegui mantê-lo estável. Barbara notou meu esforço maior que o habitual para completar aquele gesto simples e por um instante pensei que ela reprovaria mais uma vez minha intenção em ir com ela, mas pra minha surpresa ela assentiu e concordou comigo.

- Certo. Eu voltarei pro terraço e vou ficar lá dando cobertura a vocês junto com Edinho. – Natalia falou.

- Tudo bem. Eu e ele vamos então. - Barbara continuou.

- Voltaremos logo pra pegar vocês. – Falei antes de nos despedirmos e seguirmos com o plano.

Natalia voltou pela escadaria por onde veio enquanto eu e Barbara fomos até a janela do corredor onde estávamos para termos acesso a escada externa de emergência que dava para o beco a lateral do prédio.

Barbara levava consigo uma faca de médio porte além da pistola e me devolveu também minha faca além do arco e as flechas. Senti que precisava de mais equipamentos, mas visto a situação que estávamos eu não pensara em perder mais tempo e acabar deixando que eles nos encontrem.

Assim que cheguei à janela eu pude observar o beco por onde passaríamos e vi que havia poucos zumbis nele, mas que ainda assim poderiam nos dar trabalho. Então tratei de acertá-los com as flechas enquanto Barbara ia à frente descendo pela escada. Eu a segui depois de mandar o terceiro zumbi pro chão e melhorar o nosso caminho até a outra rua.

Demos a volta por trás do prédio como o planejado, sempre andando pela lateral da rua e fazendo de tudo pra chamar a mínima atenção possível por enquanto, até que enfim conseguimos dar a volta no quarteirão e avistar a horda de zumbis à frente do prédio assim que dobramos a esquina.

Olhei para Barbara e dei o sinal positivo com a cabeça e ela seguiu dando mais alguns passos à frente para que pudesse chamar a atenção do máximo de zumbis possível. Ela então pôs os dedos na boca e deu um assobio bem alto seguido de gritos que logo fizeram os zumbis perderem interesse no prédio e voltarem à atenção a ela.

Ela continuou chamando os zumbis para nossa direção e quando percebeu que a maioria já a seguia ela se virou para mim e começou a correr. Voltamos pela esquina por onde tínhamos vindo e seguimos por alguns metros, pegamos uma rua à esquerda e continuamos até encontrar uma passagem entre dois prédios a nossa direita. Este beco era mais comprido e estreito do que o que tínhamos ao lado do nosso prédio e já estávamos na metade dele quando os zumbis começaram a alcançar seu inicio e foi aí que escutamos um disparo.

O som ecoou pelo beco o que dificultava para nós sabermos de qual direção vinha. Paramos por um momento pensando no que podia ter acontecido e então escutamos mais dois disparos em sequência. Na minha cabeça veio logo a idéia que os homens tinham encontrado nosso prédio e estavam lutando para invadi-lo, mas àquela altura não tínhamos mais como voltar.

O beco estava se enchendo cada vez mais de zumbis e nossa única opção era seguir em frente. Continuamos correndo e no instante que alcançamos a rua do outro lado um zumbi investiu contra mim e por reflexo eu o acertei com o arco, tive sorte de ter sido rápido o bastante. O zumbiu caiu no chão mas ainda estava ativo, Barbara que vinha logo atrás de mim já se preparava para atirar nele quando eu a interrompi.

- Não! – Segurei a sua mão e falei firme mas mantendo o tom de voz bem baixo.

- O que você ta fazendo?

O zumbi já estava quase de pé e pronto para nos atacar mais uma vez e Barbara engatilhou a arma e voltou ao movimento para concluir o disparo mas eu levantei seu braço a interrompendo novamente e acertei o zumbi mais uma vez com o arco.

- Mas que droga é essa, Jotah? – Barbara indagou transtornada.

- Tem alguém ali. – Falei apontando para um carro uns 30 metros a nossa frente.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now