09/12/2018

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Acordei apenas hoje, com uma forte dor de cabeça e com Barbara sentada ao meu lado numa cama de solteiro empoeirada. Passei a mão na cabeça e senti que estava envolvida por ataduras que enrolavam toda parte superior do meu crânio.

- O que é isso? – Perguntei assim que senti a faixa com os dedos. – O que aconteceu?

- Você acordou. – Barbara disse surpresa enquanto enxugava os olhos. – Primeiro você tem que ficar calmo.

- Eu estou calmo. O que está acontecendo? – Olhei em volta fitando o cômodo de ponta a ponta com os olhos e não avistei mais ninguém. – Onde Edinho está?

Antes que Barbara pudesse responder uma porta que dava acesso ao quarto se abriu, era Edinho.

- Ele acordou?

- Sim. Mas não sei se vai ficar acordado ou apagar de novo como na outra vez.

- Ei amigão, como você tá? – Edinho disse aproximando-se de mim.

- Não muito bem. Alguém pode me dizer o que tá rolando?

- Você se lembra do que aconteceu na estrada? – Edinho perguntou.

- Dos homens nos quadriciclos? – Barbara emendou.

Minha cabeça latejou e eu passei a mão levemente pela testa antes de responder. Acho que estava tentando lembrar-se da situação, que não demorou a me ocorrer.

- É. Foi uma armadilha, eles nos atacaram. Eu lembro.

- Isso. E Jotah, eles acertaram um tiro em você. – Edinho concluiu.

Levei a mão novamente à cabeça e passei levemente os dedos por cima da faixa.

- É. E por sorte foi de raspão. – Barbara disse também passando a mão próxima ao ferimento.

- E onde Natalia está?

Edinho e Barbara se entreolharam e demoraram alguns instantes para responder.

- Acho melhor você não se lembrar disso agora.

- É. Precisamos que você se recupere e fique bom logo pois eles ainda estão atrás de nós. – Edinho disse batendo levemente no meu ombro e logo depois saiu do quarto.

- Ela não conseguiu não é? – Perguntei a Barbara depois que Edinho fechou a porta.

Barbara respondeu apenas balançando a cabeça negativamente.

- Você vai ficar bom logo e vamos dar um jeito nisso. – Barbara disse sem jeito, apenas para acabar com o silencio mórbido que tomava o lugar.

- Ela morreu por minha causa.

- Não. Ela morreu por causa dos homens que nos atacaram. Se você é responsável por algo, é pela nossa sobrevivência e jamais pela morte dela.

- Eu acho que preciso ficar um tempo sozinho, se importa?

- Não. Chame se precisar de algo.

- Tudo bem.

Depois que Barbara também saiu do quarto eu permaneci em silêncio refletindo comigo mesmo e em luto pelo acontecido com Natalia. Fiquei assim até a fome ser forte o bastante para me desconcentrar então decidi me levantar e ir até os outros atrás de comida.

Caminhei lentamente mas sem muitas dificuldades até a porta do quarto e a abri. A passagem dava acesso diretamente à sala do que notei ser um casebre bem simplório. Edinho estava sentado próximo a uma pequena mesa enquanto Barbara, de costas pra mim, observava o exterior pela janela.

- Ei você não devia estar de pé. – Edinho disse se levantando da cadeira e vindo a minha direção.

- Eu estou bem. – Disse levantando uma das mãos na altura do peito, Barbara virou-se pra nós. – Só estou com um zunido chato na cabeça.

- Melhor você sentar, Jotah. Deixa eu olhar você e trocar seu curativo.

Caminhei até a mesa com ajuda de Edinho enquanto Barbara foi pegar o kit de primeiros socorros. Ela foi rápida e logo depois de eu me acomodar a cadeira Barbara já estava de volta até nós.

Ela passou a luz de uma pequena lanterna em frente aos meus olhos e depois com cuidado passou a retirar a atadura que envolvia minha cabeça. Pude ver um pouco de sangue na faixa mas não me preocupei. Não sentia mais tanta dor, apenas o zunido realmente me incomodava.

Barbara aproximou-se do lado esquerdo da minha cabeça depois que já havia tirado toda a atadura, foi nessa região que fui atingido. Ela parou por um momento e logo se pôs novamente a minha frente.

- Jotah, você disse que está ouvindo um zunido, não é?

- Isso. Como se tivesse uma abelha dentro do meu ouvido.

- Isso é por conta da bala... O tiro acertou bem próximo do seu ouvido – Barbara deu uma pequena pausa – decepou parte da sua orelha.

- O quê? – Falei levando a mão ao lugar onde deveria estar minha orelha mas fui interrompido por Barbara.

- Não. Não toque, ou acabará infeccionando.

- Eu vou ficar com esse zunido pra sempre na cabeça?

- Não, não vai. Em um ou dois dias deve passar, mas a sua audição deve ficar prejudicada.

Baixei a cabeça e balancei negativamente.

- Me deixa terminar de limpar e fazer outro curativo, está bem? Vai ser pior se isso ficar exposto.

Assenti com a cabeça e deixei com que Barbara terminasse.

Depois que ela concluiu os cuidados voltamos ao diálogo. Desta vez com Edinho ocupando a posição inicial de Barbara quando cheguei até a sala, observando o exterior pela janela.

- E os homens que nos atacaram? Algum sinal deles? – Perguntei.

- Até agora não. Mas com certeza estão atrás de nós e se ficarmos aqui não demorarão a nos encontrar. – Edinho respondeu sem tirar os olhos da janela.

- Vamos esperar mais um dia até Jotah estar completamente bem e partiremos. – Barbara falou enquanto guardava as coisas de volta no kit de primeiros socorros.

- Eu já estou bem.

- Não vamos conseguir fugir a pé.

- Fugir? – Falei enquanto levantava-me da cadeira.

- Acha que é o único aqui que quer vingança? – Edinho respondeu olhando por cima do ombro.

- Não vamos voltar a essa discussão pessoal, por favor. – Barbara fala amenizando a situação.

- Eu vou sair e procurar um transporte para nós. – Edinho disse enquanto eu caminhava de volta para o quarto.

- Boa sorte. – Falei de costas pra ele antes de fechar a porta do quarto.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now