07/12/18

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Acampamos aqui a alguns minutos da estrada e foi onde passamos a noite. Já é dia agora e acho que todos já acordaram, estou sozinha na barraca e consigo ouvir passos e ver sombras através da lona. Vou ver como as coisas estão.

Por enquanto está tudo tranqüilo, meu irmão ficou de vigia ontem e disse que nada chegou próximo dali, nem zumbi e nem humano. Dayse e Leonardo estão preparando o almoço e estou aqui no carro vendo as garotas brincarem um pouco mais a frente. É bom ver que pelo menos alguém do grupo tem momentos bons de diversão.

Minha cabeça não está doendo mais e os ferimentos mais antigos já estão melhores, minha perna não está incomodando tanto mas não estou segura a ponta de correr, saltar e coisas do tipo, acho que preciso de mais uns dias para estar realmente 100%.

Castilho veio até mim ainda há pouco enquanto eu vigiava as meninas e ele me disse que queria aprender a usar o arco. Falou que ficou preocupado com o que aconteceu e que se sentiria mais útil se estivesse apto para defender o grupo. Vi que ele falava com um tom triste e parecia segurar com dificuldades a vontade de chorar, talvez ele pode se sentir culpado pelo que aconteceu a seus pais e seu antigo grupo, mas a verdade é que pelo jeito que aquilo aconteceu nada que ele soubesse fazer seria o bastante para salvá-los.

Admiro a coragem do garoto, pelo jeito voltamos à época em que as crianças precisam envelhecer mais cedo do que deveriam. Eu vou ensiná-lo a usar o arco, vamos começar a treinar agora mesmo antes que o almoço esteja pronto, eu o mandei pegar o arco e as flechas na caçamba da Ranger e vou aproveitar pra deixar as meninas com Alessandra enquanto isso.

Voltei ainda há pouco da primeira aula com Castilho, passamos mais tempo treinando do que eu esperava, até perdemos a hora do almoço. Estou no carro agora e aproveitei pra escrever enquanto eu como um pouco do arroz com sardinha, que está muito bom aliás.

Sobre o treino foi o que eu esperava pro primeiro contato dele, dificuldades com o manuseio e mira mas se continuarmos firmes ele vai aprender. Foi inevitável lembrar-me do Jotah hoje, ensiná-lo a usar o arco foi um das primeiras coisas que fizemos juntos e foi algo que ajudou a nos aproximar. Eu adorava ensiná-lo e amava o jeito que suspirava toda vez que errava o alvo. Droga... Eu não queria mais pensar nele mas é difícil...

Já é meio de tarde e até agora as barracas continuam montadas e eu não vi nenhum sinal de que sairíamos daqui, vou falar com meu irmão pra saber o que ele pretende fazer.

Falei com ele e nós vamos passar mais uma noite aqui até termos certeza para onde ir, as cidades por aqui tem se mostrado bem mais perigosas do que as que passamos no interior e isso tem preocupado bastante ele, mais até do que a gente. Igor agora lidera o grupo só basicamente, Rodrigo tenta ajudar e eu também mas a realidade é que não somos tão bons nisso, nossas palavras não tem tanto peso e convicção como as de Luciano, Edinho, jotah e até mesmo as do desgraçado do Wendell.

Me ofereci pra ficar de guarda hoje mas meu irmão preferiu que eu descanse e me recupere completamente antes, ele disse que vai ficar de vigia mais uma vez e vai revezar a noite com Leonardo e que vão dar conta disso. Não vamos jantar hoje porque precisamos racionar a comida, apenas as garotas vão jantar e elas vão comer o pouco que sobrou do almoço.

Já está quase anoitecendo e vai começar a ficar difícil de escrever, estou de volta ao carro e vejo o sol se pondo no horizonte com um brilho alaranjado que percorre parte do céu em contraste com a negritude do céu noturno. É uma paisagem incrível, um momento que passou despercebido por quase toda minha vida mas que agora, nesse momento, parece ser a única coisa que tenho.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now