31/03/2019

141 12 4
                                    


Ontem após a briga as horas passaram mas nada aconteceu. Voltei pro meu isolamento no baú do caminhão e pros meus maus pensamentos de costume. Estava cético e cego sobre tudo fora daquele meu úmido e escuro mundinho e por lá fiquei sendo consumido mais uma vez pelos meus próprios demônios.

Naquele momento quis apenas não ser eu e ao relembrar de tudo que acontecera desde o inicio de toda essa droga não foi difícil notar que há muito tempo eu já não era mais eu. E o que me tornei ao final das contas? Estando deitado neste baú de caminhão sinto que talvez ao menos um zumbi conseguimos colocar aqui.

As feridas já haviam coagulado e o sangue antes quente já esfriara e escurecera quando decidi sair do baú e voltar ao encontro dos outros. Todos estavam reunidos dentro do galpão, repassando o plano e talvez também o modificando durante minha ausência.

Ao contrário de mim, Igor já havia se banhado e nem aparentava tanto que havia saído de uma briga algumas horas antes, enquanto eu era um amontoado de trapos rasgados e ensanguentados, fedendo a algo podre. Aproximei-me deles sem dizer nada.

- Que bom que se juntou a nós. – Frank disse assim que sentei.

- Repassando o plano? – Perguntei após fitar os olhos de todos.

- Eles precisarão de mais tempo lá dentro. – Igor se pronunciou.

- Isso nos dará problema com a entrada do caminhão e a morte deste último grupo de busca também. – Vitor completou.

- Se esperarmos muito eles irão desconfiar e talvez se preparem pra algo. – Questionei.

- E se atacarmos muito cedo Diego não vai conseguir organizar a fuga lá dentro. – Frank rebateu.

- Precisamos rever o plano. – Igor reforçou.

- Não. – Respondi enfaticamente. – Precisamos seguir o plano e atacar. Não haverá oportunidade perfeita e talvez não tenhamos momento melhor do que esse. Você espera há meses por esse ataque Frank, diz pra mim se já teve algum momento mais propício?

Eu vi que Frank queria discordar mas a realidade é que ele não podia. Não podia pois sabia que eu estava certo.

- O plano já é uma loucura mas executá-lo sem que tudo esteja no lugar deixa de ser loucura e vira suicídio coletivo. – Vitor se interpôs. – Concordo com seu plano Jotah e com os riscos estabelecidos antes, mas não esperem de mim apoio se for pras coisas serem feito sem o preparo correto.

Era uma situação difícil de contornar, estávamos num impasse. Realmente atacar sem que Diego tivesse tudo organizado lá dentro era decretar a morte de muitos inocentes, mas esperar de mais também era e ninguém quer assumir a responsabilidade por estas mortes.

A primeira conversa entre nós não foi de fato tão produtiva e acabou por se encerrar sem que nada fosse resolvido de fato. As opiniões se divergiam e ninguém até então conseguia pensar em algo que contornasse todos aqueles impasses.

Com a reunião desfeita cada um partiu para um lado e foi fazer o que bem lhe cabia fazer. Eu dei de costas e voltei pro lado de fora do galpão, me sentando sobre o capô de um dos carros enquanto observava o sol cair no horizonte.

Não muito depois Igor veio até mim e ao se escorar na parte de frente do carro deu inicio a conversa.

- Sempre quis saber se você era mesmo bom de briga ou se os outros caras que eram muito fracotes.

- E descobriu?

- É... Acho que é bom evitar outra troca de socos contigo.

- Mas eu que me dei mal dessa vez.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now