Já havia dado as costas para o carro e começado a caminhar quando ouvi uma voz vinda de trás de mim.
- Espera, por favor. – O rapaz fala.
- É. Não nos deixe aqui. – A garota reforçou.
Eu parei por um segundo mas voltei a caminhar sem olhar para trás.
- Por favor, cara. Não vai embora. Não temos para onde ir. – O rapaz continuou. – Por que nos salvar se irá nos deixar para morrer?
Continuei a caminhar...
Os dois continuaram pedindo para que eu os levasse enquanto eu continuava a me distanciar, até que senti uma mão puxando meu ombro. Me virei e vi que era o garoto que me puxara e logo o respondi com um empurrão.
- Vocês são cegos? Por que não se afastaram daqui? Por que não leram as malditas mensagens?
- Desculpa, cara. Nós não vimos nada. Estávamos perdidos, por favor.
- É. – A garota reforçou. – Nem a nossa droga de carro funciona mais. Não sabemos nos virar sozinhos, não sabemos lidar com os monstros. Por favor, não nos deixe.
Depois de ouvir mais e mais apelos deles eu não suportei mais.
- Parem. PAREM! PAREM! – Gritei. – Cala boca! Calem a boca! – Continuei a esbravejar apontando para os rostos dos dois.
Em meio a nossa discussão, e particularmente minha gritaria, um zumbi surgiu de próximo ao carro e veio em nossa direção. A garota e o rapaz estavam mais próximos dele do que eu e logo o mordedor avançou contra eles.
Eu esperei por um instante e observei a cena. Enquanto o zumbi se aproximava o garoto se pôs a frente da menina para protegê-la, mas claramente por sua postura ele não aparentava ter a menor habilidade para combater o mordedor.
Ao continuar da aproximação do zumbi o garoto erguia mais os punhos enquanto a menina aflita trocava constantemente o olhar da direção do zumbi para mim e vice-versa.
Esperei por mais alguns instantes e após o mordedor se aproximar de mais e ao perceber que eles realmente não teriam muitas chances de defesa eu me senti obrigado a intervir. Corri e me pus entre eles e o zumbi, empurrando a criatura com tudo para o lado oposto.
Com o escorão o zumbi foi ao solo e eu sem titubear cravei a lamina em seu crânio. Levantei-me e os dois olhavam para mim temerosos. Pude ouvir um "por favor" quase sussurrado vindo de um deles, apontei a lamina ainda suja de sangue para frente e os mandei andar.
- Vão, andem.
- Não vamos incomodá-lo. – A garota insistiu pensando que eu os havia mandado partir.
- Não falem nada, apenas andem. – Reforcei. – E se me atrasarem eu deixo os dois. – Conclui e passei a caminhar na direção deles, que não demoraram a entender o recado e também se puseram a andar.
Começaram a caminhar à minha frente mas por não saberem bem por onde ir eu logo tomei a dianteira. Caminhei na direção de volta a região dos galpões, pro lugar onde eu havia largado o carro.
O percurso até lá não levava muito tempo e pelo menos até então, ambos estavam a cumprir o que pedi. Seguimos em silêncio até alcançar o carro e onde os mandei entrar no banco de trás.
Com eles já dentro do carro eu alcancei no porta-luvas um pente carregado da pistola e o troquei pelo que havia esvaziado há pouco tempo.
- Fiquem aí e não mexam em nada ou eu atiro nos dois. – Falei e saí do carro em direção ao galpão.
Fui até lá para checar se tudo esta em ordem no último galpão que enchi no dia. Fiquei um pouco receoso que o barulho pudesse ter agitado de mais os zumbis mas felizmente nada de mais aconteceu. Após certificar que tudo estava ok eu voltei para o carro e dirigi.
Fui até a casa para onde eu já planejava passar a noite antes de ter me deparado com o casal. De carro o caminho se tornava até bastante curto, não levei mais que cinco minutos para chegar lá.
Desembarcamos e ao entrar na casa eu apresentei por cima o lugar.
- Vamos passar a noite aqui e só um dos quartos tem cama, então os pombinhos vão ficar na sala. – Disse enquanto ascendia um lampião na mesa da sala para iluminar o ambiente.
- Não tem problema. O Garoto respondeu.
- Se quiserem comer algo podem ir até a cozinha. No armário tem leite, aveia e amido. O fogão funciona então podem cozinhar. – Fui falando enquanto levava minhas duas mochilas para o quarto. – Também tem arroz em algum lugar, mas não toquem nas latas de feijão. E eu não vou cozinhar para vocês.
- Tudo bem. eu posso cozinhar. – A garota respondeu. – Você quer algo também?
- Tudo o que eu preciso pra esse resto de noite está aqui. – Falei, da porta do quarto, levantando uma garrafa de uísque.- Depois de comer, desliguem o lampião e durmam, sem barulhos. – Deixei claro e fechei a porta do quarto deixando os dois em paz, e a mim também.
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Diário de Um Sobrevivente
General FictionNo ano de 2018 um tipo de praga ou infecção atacou a humanidade e nós nem ao menos sabemos de onde isso surgiu. Com a rápida degradação da sociedade e com o caos se instalando a única opção para mim e minha família é sobreviver a todo custo. nos aco...