27/11/2018

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Analisamos um pouco a redondeza antes de entrar ontem no condomínio. O muro que o cerca não é tão alto e sua metade superior é apenas gradeado, o que facilita a visão para a parte interna e era o necessário para ter a primeira noção do que nos aguardava aqui dentro.

Apesar das casas serem de alto padrão suas fachadas em deterioração mantinham a mesma aparência sombria e fantasmagórica do restante das edificações que encontramos por todo o caminho.

Nem foi preciso chegar à entrada do condomínio para saber que o local já tinha sido invadido inúmeras vezes. Era de se esperar, um local rico como este deve ter sido um dos primeiros alvos dos saqueadores. Por sorte dos antigos moradores e pra nossa também o condomínio fica numa região um pouco isolada, não tão próxima ao centro ou grandes aglomerações residenciais. Essa distância serviu como barreira para muitos destes saqueadores pelo visto e devemos encontrar muita coisa útil por aqui.

A entrada estava obstruída por algumas tralhas e um carro mas foi possível passar sem muitos problemas. Assim que passamos pelos obstáculos meu irmão parou o carro e passou a direção pra mim:

- Aqui, pegue a direção.

- Por quê? O que você vai fazer?

- Vou pegar o rifle, Izabel, e observar o local de cima da caçamba.

- Precisa? Já deu pra ver que não tem muitas ameaças por aqui.

- É exatamente por não parecer que há que precisamos estar atentos. Agora dirija, lentamente, por favor.

Após alguns instantes parados até que estivéssemos prontos nas novas posições e então seguimos lentamente pelas ruas. As primeiras casas pareciam ser as mais afetadas, janelas destruídas, portas arrombadas, algumas estavam deterioradas por incêndios e nessas nós nem demos o trabalho de entrar.

Seguimos mais alguns metros pelas ruas imundas e cheias de destroços, alguns corpos carbonizados e semi-devorados espalhados pelo chão. O cenário era aterrador mas por incrível que pareça as coisas que vimos fora daqui por todo esse tempo conseguiam superar por muito a podridão deste lugar.

Em nenhum momento Igor ou mais alguém viu algo suspeito. Como esperávamos o local não estava livre de zumbis e alguns poucos foram aparecendo pelas ruas e jardins a medida que avançávamos. Eram poucos e não valeria a pena parar o carro ali para derrubá-los e nem muitos menos gastar nossa pouca munição com eles.

Enfim após dobramos mais algumas esquinas decidimos parar em frente a uma grande casa ou pequena mansão, ainda não me decidi. Paramos os carros em cima do jardim e Rodrigo entrou para vasculhar o local junto com Leonardo.

Normalmente fazemos algum barulho em frente a locais que queremos entrar e suspeitamos que contivessem zumbis. Eles são facilmente atraídos pelo som e costumam tentar alcançar o que ou quem esteja fazendo a zoada. E quando não saem, ao menos ficam alertas e isso é bom porque eles próprios fazem barulho quando estão ativos e acabam denunciando sua posição, assim não somos pegos desprevenidos.

Infelizmente não dá pra fazer isso desta vez, na rua em que estamos não apareceu nenhum mordedor mas as ruas laterais e arredores não estão vazios, não podemos arriscar e acabar trazendo eles pra cá.

Os meninos não demoraram muito, o pouco tempo que me distraí procurando o diário pra escrever foi o necessário para eles voltarem e no chamarem pra dentro.

A casa é realmente grande vista de dentro, são dois andares com cômodos bem espaçados e pé direito alto, o que dá uma amplitude ainda maior pro ambiente. Estou em um dos quartos que fica no primeiro andar, é consideravelmente maior que o do apartamento em que estivemos e bem mais luxuoso. As cortinas decoradas, os grandes espelhos com adornos de ouro, móveis caros, a cama imensa e com manchas de sangue no lençol, um closet totalmente bagunçado e a droga de um corpo no banheiro. Por melhor que as coisas aparentam estar no começo à realidade deste mundo sempre nos mostra que nada mais será bom como antes.

O corpo no banheiro não parece ser de um mordedor e sim de humano, uma mulher. Eu não consegui ver bem da primeira vez pois o cheiro lá dentro estava insuportável. Desci as escadas à procura de algo para limpar o banheiro e Alessandra veio me ajudar, ela sempre foi muito prestativa mas eu sabia que dessa vez havia um pouco de interesse ali.

Realmente foi exaustivo tirar aquele cheiro para que eu pudesse dormir no quarto e foi difícil jogar o corpo pela janela, até uma noite de sono dá trabalho de conseguir atualmente.

Alessandra também deu duro me ajudando aqui e ficamos tão cansadas que decidimos tirar um cochilo, na verdade ela já dormiu antes mesmo de eu parar pra escrever e agora eu também não agüento mais, preciso de um pouco de descanso.

Dormi bastante, o cochilo passou da hora e acordei já no inicio da noite com Rodrigo entrando no quarto:

- Aí estão vocês. Muito obrigado pela ajuda de vocês lá embaixo – ele fala ironicamente.

- Não precisa agradecer, só retribui o esforço que você fez nos salvando dos zumbis no outro prédio – respondi com um sorriso.

- Isso é golpe baixo Izabel. – ele finalizou sorrindo e nos chamando para jantar.

Descemos as escadas e antes de alcançar o térreo ouço meu irmão falar:

- Já que estavam tão bem acomodadas lá em cima podem ficar com o quarto. Já dividimos o grupo nos outros aposentos.

- É claro que o quarto é nosso Igor – diz Alessandra – tivemos o maior trabalho de limpá-lo, o merecemos.

Eu sorri, Igor acenou com a cabeça e todos sentaram a mesa para jantar. Esse foi um dos dias mais normais que tivemos. Agora só quero dormir, sei que amanha o dia será puxado com tudo isso que temos para vasculhar.


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