14/10/2018

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São 07h da manhã e acordei ainda há pouco. Ontem no fim da tarde viemos todos para Várzea, já que a cidade estava vazia não fazia sentido dormir ao relento. Ocupamos unas casas em uma ruazinha de barro. As casas estavam reviradas, poucas coisas foram deixadas para trás, roupas, objetos domésticos, comida, alguns móveis pequenos, álbuns de família tudo isso foi levado. A idéia de que as pessoas saíram daqui com um destino certo só se concretiza mais, mas pra onde elas foram? Onde fica esse campo de sobreviventes?! São perguntas e mais perguntas sem nenhuma resposta concreta.

Fiquei em uma casa com três quartos, uma sala grande, terraço, cozinha e dois banheiros que infelizmente não funcionam. Estou aqui com minha mãe, meu pai, meu avô, minha avó, Edinho, Thamara, Heloíse e Tainá. Pela primeira vez em meses tive uma noite de sono merecida e me senti seguro outra vez. Agora vou correr um pouco pela cidade, quando chegar irei perguntar a Wendell se vamos ficar aqui ou se vamos cair na estrada atrás de um campo de sobreviventes. Eu particularmente me sinto bem aqui e moraria nessa pequena cidade abandonada sem problema algum. Podemos fechar a entrada principal, temos casas para dormir, só precisamos sair atrás de água e comida e não será tão difícil. Tem o açude do Jatobá próximo a Patos e podemos ir uma vez por semana lá pra pegar água e pescar, mas a decisão não cabe só a mim, quando voltar vou debater sobre isso com os outros.

São 09h14m e corri por uma parte da cidade. As ruas vazias, as casas também, e não vi absolutamente nada vivo por onde passei. A única coisa que havia nas ruas eram carros abandonados, que depois vou roubar a gasolina deles. Quando cheguei Wendell estava reunindo um grupo para vasculhar as casas atrás de algo útil ,mas eu não vou ,estou um pouco cansado e quero descansar.

Ainda não tive tempo de falar com Wendell sobre a idéia de ficarmos aqui, vou esperar ele voltar da patrulha para falar sobre o assunto.

Depois de alguns minutos os primeiros grupos de patrulha começam a voltar e até agora nenhuma noticia nova. Não acharam nada de importante nas casas e nas ruas apenas alguns litros de gasolina nos carros abandonados.

Wendell chegou ainda a pouco e não trouxe nenhuma noticia nova e eu decidi falar sobre minha idéia. Contei a ele, Edinho e a Igor, nós discutimos por alguns minutos e eles não querem ficar. Disseram que saímos de João Pessoa atrás de um campo de sobreviventes e esta cidade não é o que procuramos. Posso dizer que estou bastante chateado com a decisão deles e ainda mais pela bronca que levei. Disseram-me pra ficar calado e esquecer essa idéia, não querem que aconteça aqui o que aconteceu em João Pessoa, não querem um pequeno grupo com uma idéia defasada acabando com a paz de todos.

Pra distrair um pouco eu decidi conversar com Izabel. Conversamos por alguns minutos, falamos sobre as nossas vidas antes de tudo isso acontecer e depois fomos treinar novamente com o arco e flecha que é uma arma da qual eu nunca vou aprender a usar. Já Izabel tem uma habilidade excepcional, não me surpreende ela ter ganho os campeonatos que participou. Bom, conversamos e treinamos até Igor nos ver e chama - lá novamente. Essa implicância dele já começa a me encher.

Voltei e estou em casa agora, minha mãe está deitada com meu pai, meu avô também está dormindo, as meninas estão brincando com Thamara no quintal e eu não sei onde minha avó e Edinho estão .Acho que vou dormir um pouco,refrescar minhas idéias, ainda estou chateado com a decisão dos outros em partir.

15/10/2018

Eu apaguei ontem. Dormi às 17h da tarde e só acordei hoje pela manhã. Assim que acordei fui dar uma olhada na rua e as pessoas do grupo estavam andando por toda cidade, as crianças correndo pra lá e pra cá, pessoas conversando, passeando, parecia que eu tinha acordado de um pesadelo horrível e tinha voltado para o mundo real. Pena que essa sensação não durou muito. Pouco depois que sai fui chamado por Igor para debater nosso novo destino. Quando cheguei o destino já estava marcado, me chamaram apenas pra informar o local mesmo. Nosso próximo destino é a cidade de São Mamede, município pequeno com cerca de 10.000 habitantes e que fica a 20 km de Patos.

A cidade é perto daqui e vamos sair só após o almoço e faremos o mesmo esquema de patrulha que fizemos aqui. Vamos ficar nos arredores da cidade e um grupo vai até o centro pra ver como as coisas estão. Pelo sossego que tivemos aqui espero que a situação lá seja a mesma.

São 12h agora e a maior parte do grupo já almoçou e os poucos que ainda não almoçaram começam a chegar. Vamos partir para São Mamede por volta das 13h30m e eu já estou arrumando minhas malas e revisando o carro. Eu já almocei e minha família também. Já estamos prontos para sair, mas ainda falta algumas pessoas terminarem de almoçar.

Já chegamos a são Mamede e a cidade está vazia assim como Várzea. Paramos nos arredores da cidade como planejado, mas logo que o grupo de patrulha veio à cidade viu que não havia ninguém aqui e então o grupo todo se deslocou para a cidade.

Eu já estive aqui, lembro-me de que passava a manhã aqui quando vinha passar o São João em Patos, bons tempos aqueles. A cidade está completamente vazia, casas vazias, ruas vazias, não há nada em lugar algum. Sem pessoas, sem zumbis, sem animais, só as árvores nas calçadas.

Decidi ficar numa casa que pertencia a um velho amigo meu. É uma casa grande, de esquina e bem arejada, vai servir bem para aliviar o calor. O grupo alojou-se nas ruas vizinhas, a cidade parece vazia, mas é melhor não arriscarmos nossa segurança. A casa em que estou tem o mesmo porte da casa de Várzea e estou com a minha família nela como lá.

Eu sei que existe um açude nas redondezas da cidade, amanhã pela manhã eu vou pedir a moto de Igor emprestada para procurá-lo. Mas vou fazer isso apenas amanhã, por hoje quero descansar um pouco e ter mais uma ótima noite de sono, afinal, não sei quando terei outra oportunidade dessas, mas antes vou correr um pouco, são 15h30m e o sol não está tão quente então vou aproveitar para correr um pouco.

São 17h e voltei ainda pouco da corrida e como em Várzea eu não vi nada vivo pela cidade, a não ser as pessoas do próprio grupo que estavam vasculhando as casas. Eu também entrei em algumas casas, mas não achei muita coisa de útil, apenas algumas mudas de roupas, panelas e colchonetes, mas é melhor que nada.

Eu estou um pouco preocupado, minha mãe sentiu algumas dores e está deitada na cama agora. Eu acho que é algum problema com o bebe, mas não podemos confirmar o que é. Ela estava tão bem, não quero que nada de mal aconteça com ela ou com o bebe. Eu vou sair um pouco agora, depois volto pra ver se ela melhorou.

Eu saí um pouco antes de anoitecer e voltei logo depois que anoiteceu. Eu fui falar com Izabel e nós conversamos durante um tempo. Ela disse que sente muita falta da antiga vida e principalmente de seus amigos, em especial da sua melhor amiga Bruna. Eu também sinto falta da minha antiga vida e falando nisso ela me perguntou sobre meu apelido, "por que Jotah?". Admito que senti um aperto no peito com a pergunta, não gosto de falar sobre isso, mas não podia sair sem responder antes. Eu falei a ela e expliquei o motivo do meu apelido, logo depois me despedi e fui embora, acho que ela notou o quanto fiquei chateado com a pergunta.


Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now