25/01/2019(Continuação)

306 35 2
                                    


Permaneci ali deitado mesmo sem conseguir dormir e vi o tempo passar até o amanhecer chegar. Mesmo assim estava debilitado de mais, tanto físico quanto psicologicamente, para conseguir pensar em algo ou ao menos me retirar dali.

Com a chegada do amanhecer a exaustão me venceu de vez e eu sucumbi ao sono. Praticamente desmaiei de cansaço e só acordei próximo ao meio dia com raios solares castigando minha pele. Meu corpo todo dói e eu pareço um imenso monte de sujeira e lama, meus ferimentos expostos estão quase completamente cobertos por areia, lama e folhas. Além das formigas que não param de me atacar.

Levantei-me com dificuldades e fui em direção ao rio. Tentei manter a mochila e a pistola longe da água mas a essa altura não sei se era de muita serventia já que não tive o mesmo cuidado ontem ao nadar até aqui.

Ao alcançar a margem do rio retirei as roupas sujas que vestia e me lavei para tentar limpar ao menos superficialmente os ferimentos. Na bolsa que ficou comigo há algumas poucas mudas de roupa, que terão de servir, alguns enlatados, um cantil, um canivete, cigarros, duas mangas, um pouco de arroz numa garrafa pet e sete munições da pistola.

Depois de certificar-me do que havia me restado pus tudo de volta na bolsa, menos uma camiseta bege e uma calça jeans, que vesti ao jogar as roupas sujas fora, e o canivete que decidi manter em meu bolso.

A essa altura não vi mais sinais do bando que quase me encurralou e nem dos homens que me perseguiam. Também não faço a menor idéia de para onde Frank fugiu, mas eu sei para onde vou.

Nas últimas semanas passamos a maior parte do tempo visitando seus esconderijos e eu sei que lá estarão às maiores chances de eu encontrar suprimentos e também de poder reencontrar Frank para dar um fim a essa história.

O abrigo mais próximo é a cabana de onde fugimos antes de vimos para mata, mas o lugar foi comprometido e é certo que há homens lá esperando a minha volta ou a de Frank. Então precisarei me locomover até um abrigo não deflagrado por eles e preciso fazer isso antes de Frank.

O primeiro passo para isso é sair da mata, mas para isso eu preciso ter cuidado para não acabar dando de cara com os homens do grupo de buscas, então apesar da pressa preciso avançar com cautela, principalmente quando estiver próximo de alcançar as bordas da floresta.

Um pouco antes de sair da mata decidi parar e comer um das mangas, me hidratei um pouco e após a pausa curta logo voltei a caminhar. Alcancei uma pequena estrada ao sair da floresta e ela me levou de volta a cidade de onde eu e Barbara havíamos fugido há um tempo. Foi aqui que eu vi os homens do grupo de buscas perseguindo um carro e ao relembrar disso uma esperança ascendeu de que eu pudesse reencontrá-lo.

Fiquei atento aos zumbis que poderiam estar pela área, principalmente quaisquer sinais daquele bando imenso que perambula pela região mas as coisas estavam aparentemente calmas. Ainda assim caminhei com cuidado e sem chamar atenção. Rodei por alguns quarteirões e até passei pela rua da casa de rações onde quase fui encurralado com Barbara mas nenhum sinal do carro que eu procurava.

Seguindo mais ao centro da cidade entrei em alguns prédios em busca de algo útil mas nada ali me parecia de muita serventia. Não quis perder mais tempo por ali e sabia que já que não encontraria o carro, minha prioridade seria alcançar os abrigos de Frank antes dele.

Os ferimentos no meu rosto começam a incomodar mais, principalmente após um tempo de caminhada com o sol castigando e o suor escorrendo pela face. Meu tronco também está dolorido e pelo jeito devo ter machucado seriamente pelo menos uma das minhas costelas.

Os machucados e o clima quente não estão ao meu favor e por vezes preciso interromper meus passos para descansar um pouco. Os momentos de parada estão servindo não só para descansar o corpo mas também para me fazer pensar no que fazer. Eu precisava decidir pra onde seguir, qual dos abrigos escolher e esta escolha pesará bastante a favor ou contra mim.

O primeiro local que vem a minha cabeça é o pequeno apartamento no qual ficamos mais tempo escondidos. É o que tenho mais recordações sobre a região e que sei há bastante coisas, porém é um tanto distante de onde estou e caminhando nestas condições levaria uma eternidade para alcançá-lo.

Ao pensar melhor lembrei que o abrigo mais próximo é o galpão onde eu corri atrás de alguém que espiava o local na ausência de Frank. Nunca mais voltamos lá por acharmos que era alguém do grupo de reconhecimento e que a essa altura todo o local já havia sido vasculhado, esvaziado e dominado ou destruído. Mas ainda assim, pela proximidade, talvez fosse minha opção mais viável.

Segui o caminho um pouco relutante mas não havia muitas opções a se tomar. Caminhei sempre discreto e atento, seguindo os padrões da ultima cidade e após um bom tempo de caminhada alcancei os arredores do galpão. Circundei a área algumas vezes em busca de qualquer coisa suspeita mas nada vi, então decidi ser a hora de entrar.

Caminhei até a entrada menor, a porta na lateral do galpão, para manter a discrição e ao chegar até lá tive uma surpresa. A porta estava apenas entreaberta e quando acessei ao interior vi que o local permanecia exatamente como havia o deixado naquele dia da fuga.

Não consegui entender o motivo das coisas permanecerem ali intactas, não fazia sentido para mim, mas não era eu que questionaria aquilo bem nesta hora. O galpão era como a materialização de um sonho cheio de suprimentos, com carros e combustível, e com certeza não é o tipo de sonho que se deixa escapar.

Lotei a mala de um dos carros com comida e os melhores materiais que encontrei lá dentro e parti, dirigi até uma parte um pouco afasta e escondi o carro em meio a um terreno baldio. Voltei a pé até o galpão e repeti o processo mais duas vezes, espalhando os carros com suprimentos pela redondeza.

Adotei a idéia dos abrigos como Frank mas adaptei com o que havia em mãos. Quando estava prestes a levar o quarto carro um bando de cerca de 40 zumbis passou a se aproximar pelo fim da rua e eu agilizei meus passos até o galpão, ainda havia dois carros lá e um deles já abastecido para partir.

Liguei o motor do carro mas decidi fazer algo antes. Desci do carro em que estava e preparei o alarme do veiculo que sobrou dentro do galpão, voltei ao carro em que estava e ao chegar na porta do galpão acionei o alarme do carro acertando uma lata de milho verde no pára-brisa.

A sirene do alarme inundou o local com um barulho alto e irritante que atraiu todos os zumbis do bando enquanto me afastei vagarosamente com o outro carro. Ao observar pelo retrovisor que todos os mordedores caíram na armadilha eu dei ré até a entrada do galpão e fechei os grandes portões com todos os infelizes lá dentro.

Antes de partir em definitivo saquei o canivete no bolso e talhei nos portões do galpão a frase "NÓS AINDA NOS ENCONTRAREMOS". Após a mensagem dada, eu parti.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now