30/11/2018

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Realmente o local era bom e decidimos nos estabelecer por aqui. A noite já estava prestes a cair então não perdemos tempo, apenas limpamos as camas e nos preparamos pra dormir.

Assim que acordei hoje subi para o primeiro andar e estava observando a redondeza pela janela do corredor quando Edinho veio até mim.

- Olha, eu ainda pensando sobre aquilo que falei ontem.

- O quê?

- Sobre ir atrás do outro grupo.

Balancei a cabeça para demonstrar que sabia do que Edinho estava falando e ele continuou.

- Talvez eu não tenha pensado muito bem na hora que disse aquilo.

- Como assim?

- Não seria muito inteligente da nossa parte caçar briga com eles.

- Pensei que a idéia seria fazer isso para evitar que eles acabem arrumando briga com a nossa família, não é?

- Era, mas eles não são as únicas pessoas que estão por aí. Se batermos de frente com eles vamos nos ferrar. – Edinho deu uma pequena pausa na fala e se aproximou mais da janela, fitando o horizonte ele continuou. - Não vai dar pra reencontrar nossa família se estivermos mortos.

- Não vamos morrer. Podemos lidar com eles. – Insisti.

- Nos assustamos com um mordedor ontem, Jotah. Imagina se...

- Não sabíamos que era um mordedor.

- Exatamente. Só achamos que não era um zumbi e isso já nos assustou. Não estamos preparados para lutar contra outras pessoas, ou você acha que aquele seu plano teria funcionado contra um grupo de pessoas tão ou mais preparado que nós?

Eu sabia que o plano não teria funcionado e que se fosse um grupo hostil no lugar daquele zumbi nós provavelmente estaríamos bem ferrados agora, mas não queria admitir isso. Não faz parte de mim recuar assim, e por isso minha resposta a Edinho foi apenas o silêncio.

- Se lembra quando encontramos aquele moleque e a irmã dele quando íamos pro Ceará? – Edinho continuou após perceber que eu não falaria nada.

- Castilho e Jennifer. O que tem a ver?

- Um grupo tinha atacado o acampamento deles, não foi?

Eu definitivamente não queria lembrar daquilo agora, pois isso só faria eu pensar ainda mais na possibilidade da minha mãe, Izabel e os outros terem sido atacados. Eu não sabia onde Edinho queria chegar com essa conversa, não queria continuar falando sobre aquilo então como da primeira vez apenas permaneci em silêncio e acenei positivamente com a cabeça.

- Pois é, e nós não fomos atrás dele, não é? Pelo contrário, nós saímos de perto do perigo e naquele tempo tínhamos muito mais gente e armas que hoje em dia.

- Você tá dizendo que a gente tem que fugir? Como covardes?! E a nossa família Edinho? – Involuntariamente aumentei o tom de voz com ele.

- Eu não falei fugir! – Edinho respondeu na mesma altura. – Você acha que é o único que quer reencontrá-los?!

- Não. Mas pelo jeito eu sou o único disposto a lutar por eles... A morrer por eles. – Frisei olhando nos olhos de Edinho.

- Olha como você fala comigo, moleque. – Edinho disse pondo o dedo no meu rosto. – Eu estou tentando salvar as nossas vidas aqui, a sua vida.

- É? Porque parece que você tá querendo apenas salvar sua pele.

Assim que terminei a frase Edinho me acertou uma tapa usando as costas da mão. O golpe pegou em cheio no meu rosto e foi com tanta força que me tonteou. Minha visão ficou turva por um momento e eu permaneci aturdido, sem esboçar nenhuma reação até que ouvi a voz de Barbara.

- Ei! Ei! O que vocês estão fazendo? – Ela dizia de perto das escadas.

- É melhor você lidar com o pirralho porque eu não tenho mais paciência. – Edinho respondeu a ela enquanto deixava o corredor.

Vi Barbara caminhando em minha direção mas com certeza aquela não era uma boa hora para conversamos, então eu apenas estiquei a mão para que ela parasse enquanto eu balançava a cabeça para recompor completamente os sentidos.

- Jotah. – Ela insistiu.

- Me deixa. - Falei dando as costas pra ela e me trancando em um apartamento mais a frente.

Eu não queria falar com Barbara e nem com ninguém naquele momento. Edinho tinha acabado de me acertar uma tapa no rosto e eu estava muito puto com aquilo. Eu sei que o provoquei e não medi as palavras que disse, mas eu senti que aquela reação dele não foi só por aquela nossa conversa. Pelo jeito tudo que ele tinha contra mim foi posto pra fora ali.

Eu não queria que aquilo tivesse acontecido, ultrapassamos os limites por besteira. Parece que as coisas estão afetando a todos nós e nos tirando do prumo certo. Toda essa pressão e essas merdas que vem acontecendo estão mexendo com a gente, estamos começando a perder a cabeça.

Passei o resto da manhã trancado no apartamento do primeiro andar apenas remoendo o acontecido e tentando engolir aquilo para evitar mais desentendimentos, mas seria difícil.

Perto do meio dia escutei batidas na porta do apartamento.

- Jotah. – Era a voz de Barbara que me chamava.

Eu não respondi e alguns segundos depois ela voltou a bater a porta. Mais um tempo sem resposta da minha parte e ela continuou insistindo, acertando a porta com mais energia dessa vez.

- Jotah! – Ela gritou e eu abri a porta.

Barbara olhou para mim e deu pra ver na sua expressão que ela notou algo estranho no meu rosto, provavelmente era o inchaço causado pela tapa. Ela parou por um segundo e hesitou em falar mas logo continuou a dizer o que queria.

- Está na hora de ir embora, você já está pronto?

- Estou. Vou descer em instantes. – Falei voltando pro apartamento.

- Tudo bem. Estamos esperando você. – Ela disse enquanto ia embora.

Voltei pro apartamento apenas pra respirar mais uma vez e me concentrar em não voltar à discussão com Edinho. Brigar com meu tio é a última coisa que eu quero fazer agora e eu sei que ele também não quer isto, mas por via das dúvidas o melhor a fazer é evitar qualquer tipo de contato com ele por enquanto.

Assim que desci a escadas e entrei no apartamento onde todos estavam perguntei: - Pra onde vamos?

- Pro litoral. – Barbara respondeu.

- Atrás da nossa família. – Edinho concluiu.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now