11/12/2018

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Fizemos o que foi decidido ontem e deixamos o tempo passar um pouco antes de tentar arrancar informações novamente daqueles homens. Aproveitamos o excesso de quartos para nos acomodarmos bem e cada um escolheu um pra si. Edinho pelo jeito não dormiu ou levantou muito cedo, pois quando acordei, ele já não estava mais por aqui.

Na verdade eu fui o ultimo a acordar e a ausência de Edinho foi noticiada a mim por Barbara assim que desci as escadas que davam para o hall de entrada.

- E aí, como as coisas estão? – Perguntei a Barbara assim que a vi.

- Em resumo: esse cara aqui já era e eu não sei onde seu tio se meteu.

- Como assim?

- Quando acordei procurei em todos os lugares e ele não estava em lugar nenhum.

- Olhou no quarto onde o outro maluco está preso?

- Sim. Ele também não está lá.

- Droga.

- Provavelmente ele deve está apenas conferindo as redondezas.

- É. Provavelmente.

Não muito depois desta parte da nossa conversa, Edinho entra pela porta principal carregando um recipiente nas mãos com algum tipo de liquido dentro.

- Qual é cara? Onde você estava? – Perguntei assim que o vi entrando.

- Estava alguns metros aqui à frente. – Edinho disse e passou direto por nós indo à direção das escadas.

- Você já sabe pra onde ele vai, não é? – Barbara me perguntou assim que ele se foi.

- Tentar fazer o infeliz lá de cima abrir a boca.

Eu e Barbara permanecemos lá embaixo e ela me ajudou a arrastar o corpo do rapaz morto para fora dali antes que o mau cheiro começasse a impregnar o ar. Foi incomodo mas não chegou a dar tanto trabalho assim.

Desfizemos dele de qualquer maneira, apenas o largando no chão ao lado do prédio e logo voltamos para dentro. Continuamos a conversar por mais um tempo e enquanto isso ouvíamos batidas e barulhos vindos do andar de cima, por vez ou outra gritos, e quando eles ficaram mais intensos decidimos por subir.

Eu e Barbara seguimos o caminho a passos apressados na direção do quarto onde o homem estava sendo mantido e assim que chegamos eu vi Edinho derramando um pouco do liquido que ele trazia no recipiente quando entrou na pousada algum tempo atrás.

O homem amarrado a perna da cama gritava de dor enquanto o liquido escorria e borbulhava sobre sua pele. Ele estava ensangüentado e bem mais machucado do que da última vez que eu o vi. Edinho não estava pegando leve com ele.

- Ei irmão, o que você tá fazendo?

- Fazendo-o falar.

- Edinho, você está matando ele. – Barbara disse atrás de mim.

- E não é isso que sempre fazemos com eles? – Edinho derrama mais um pouco de ácido e se dirigi ao homem desta vez. – VAMOS! Já está na hora de você abrir o bico!

- Se você vai matá-lo, por que não o fazer logo? – Barbara indagou. – Acha que vai conseguir alguma resposta dele desse jeito?

- Acho. – Edinho respondeu firme.

Edinho parecia centrado e firme no que fazia e dizia mas eu sabia que ele não estava bem como tentava aparentar. Ele estava desesperado por respostas e não mediria mais conseqüências para obtê-las.

- Ei, cara. – Falei pondo a mão sobre o ombro de meu tio. – Eu sei o que você fazer, ok? Mas ele não vai te dar nada se estiver morto. Olha pra esse infeliz, ele está quase inconsciente.

Dei uma pausa na frase e esperei a resposta de Edinho mas ele apenas continuou a me olhar. Então prossegui: - Olha, vamos dar um tempo. Deixa Barbara dar uma olhada nele e vê se ele sequer ainda consegue falar e eu volto aqui com você, combinado?

Edinho me olhou, assentiu com a cabeça e lentamente se ergueu do chão me acompanhando para fora do quarto. Pedi para que Barbara visse como o homem estava e levei meu tio para outro cômodo. Comemos e eu tentei puxar conversa mas Edinho não estava muito aberto a bater papo.

Ficamos assim por um tempo, sem nos falarmos muitos até que vi Barbara me chamando da porta.

- E ai? – Perguntei.

- Ele tá bem machucado, não acho que vai durar muito mas ainda consegue falar. Seu tio vai tentar ainda?

- Eu preferia que fosse eu tentando, mas Edinho está obcecado por isso.

- Você sabe que ele vai acabar fazendo algo de que pode se arrepender, não é?

- A essa altura não acho que ele pensa mais em arrependimentos. – Me virei em direção a ele e avisei. – O cara acordou, quer ir agora?

- Vamos.

Barbara foi à frente, seguida por mim e logo atrás Edinho. Entrei a frente para tentar impedir o ímpeto de Edinho em voltar a atacar o homem mas ele parecia estar mais calmo desta vez.

- E então, vamos conversar ou eu vou ter que deixar ele torturar você de novo? – Perguntei agachado a frente do moribundo.

O homem me olhou e respondeu: - Eu falo, mas só com ele. – Disse apontando com o nariz na direção de Edinho.

Eu não esperava esta resposta e pelo jeito Edinho também não. Ficamos parados por um instante e o homem continuou sua fala antes que tomássemos alguma atitude.

- Você me falou de uma garota, não é? Eu acho que posso saber dela.

Edinho se aproximou rapidamente.

- Não brinque comigo.

- Estou falando sério. – O homem dizia com dificuldade. – Eu não saberei pelo nome, mas se tiver uma foto eu posso dizer o que você quer.

Edinho pôs a mão no bolso de trás da calça e puxou a carteira de onde tirou uma pequena foto, era uma foto de Heloíse.

- Aqui. Você a viu? – Edinho perguntou segurando a foto bem em frente ao rosto do homem.

O homem começou com um riso tímido e irônico que se alargou a uma risada larga que preenchia seu rosto.

- É. Eu me lembro dela. – O homem dizia entre os risos. – Lembro de como ela pedia pra eu parar.

Ao ouvir isto meu coração quase parou e meu corpo todo enrijeceu. Vi a mão de Edinho tremular com a foto em frente ao rosto do homem que continuava a falar.

- Eu lembro como ela chorava e gritava "papai, por favor, onde você está? Papai me tira daqui. Não deixe que ele faça isso comigo papai. Onde você está?" Coitadinha. Ela não sabia que o papaizinho dela era um bundão como você que não conseguiria...

A frase do homem foi interrompida pelo avanço de Edinho sobre ele. Edinho acertou um, dois, três socos enquanto eu e Barbara apenas observamos sem reação. Eu nunca vi Edinho tão possuído pelo ódio como naquele instante. Ele parou de socar e tirou da cintura uma pequena faca que usou para cortar com um só golpe a corda que prendia o homem a cama.

Com o homem já livre, Edinho o levantou pela camisa e o jogou pro outro lado do quarto. O infeliz acertou com tudo as portas de um antigo armário e cambaleou para trás, então Edinho correu com tudo em sua direção e o empurrou com toda a força pela janela do segundo andar.

O homem despencou com tudo batendo numa cerca pontiaguda e depois aterrissando já sem vida no chão.

Eu ainda não havia conseguido digerir o que acabara de ouvir e pelo jeito que Edinho me olhou, ele também não.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now