20/11/2018

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Estamos passando as noites dentro dos carros e sempre saímos alguns metros da estrada pra evitar sermos pegos de surpresa por alguém que esteja passando por aqui. Até agora não tivemos nenhum encontro com outros grupos pelas estradas mas não podemos dar mole. Quando encontramos Castilho e Jennifer tivemos uma idéia do que um grupo hostil pode fazer.

Dessa vez ficamos a madrugada inteira parados, os carros estão começando a mostrar sinais de desgaste muito grande. A EcoSport de Edinho está com mais luzes acesas no painel do que arvores de natal, óleo baixo, motor aquecendo muito e gasolina baixando de mais, nesse ritmo temos que ficar mais tempo parado do que andando ou então o carro sucumbirá de vez.

Os outros também não vão muito bem mas é o que temos em nossas mãos até chegar ao navio e eles terão que aguentar.

São 7h e ainda estamos parados no meio do nada, falei com Edinho e com meu pai sobre os problemas no carro e eles estão decidindo o que fazer. Ultimamente tenho deixado de tomar as decisões de liderança no grupo, desde o... Desde aquela noite e da forma que eu vi Igor e Edinho lidarem com a situação eu passei a notar que talvez eu não esteja tão preparado pra guiar as pessoas.

Fiquei um tempo perto do carro falando com Izabel, estamos bem de novo e ao menos isso vem dando certo. Gosto de estar perto dela, apesar de tudo que anda acontecendo e dessa praga toda que nos inferniza eu ainda tenho momentos felizes e boa parte é graças a ela.

São pouco mais de 9 horas da manhã e Edinho veio falar comigo, disse que viu a entrada de uma cidade aqui perto, passamos por ela antes de parar aqui e na verdade eu nem sequer tinha notado, mas enfim, talvez iremos lá atrás de coisas para reparar os carros.

Além disso, ele também me disse que possa ser que continuemos o restante do percurso a noite. Evitar o sol e as altas temperaturas do dia deve ajudar os carros a aguentarem um pouco mais.

São 11h e iremos mesmo voltar até a cidadezinha que Edinho viu e tentar arrumar algo por lá. Além de mim e Edinho, Igor e Wendell também vão, pelo jeito é melhor ele estar conosco do que ficar aqui sem a nossa presença.

São 15h e voltamos não faz muito tempo, vasculhamos a cidade e dessa vez não achamos gasolina em nenhum dos postos que procuramos. Como sempre tinham alguns carros abandonados mas não conseguimos vasculhar quase nenhum por causa dos zumbis que apareceram numa quantidade bem maior que de costume, ainda mais para uma cidadezinha pequena.

Nada de mais tinha acontecido até encontrarmos um pequeno prédio de dois andares que tinha uma oficina no andar de baixo. Igor e Edinho resolveram entrar pra ver se havia algo útil enquanto eu e Wendell os cobríamos do lado de fora.

Enquanto eles estavam lá dentro eu usei o tempo a sós com Wendell para tentar conversar com ele e saber melhor o motivo dessas atitudes dele e o que poderíamos fazer para ajudá-lo.

A conversa não foi muito boa, apesar de no começo eu ter usado um tom bem amigável ele não me deu ouvidos e cortava a conversa a todo o momento. E mesmo eu tendo uma grande admiração por ele e por tudo que ele fez para nos manter a salvo nem de longe sou um cara muito receptivo a destrato.

O tom da conversa ficou mais ríspido e eu passei a ser bem mais direto sobre o papel de babaca autoritário que ele estava fazendo e que se ele continuasse teríamos que tirá-lo do ônibus. Daí em diante a conversa degringolou de um papo de amigos para uma discussão em alto e bom som com apontar de dedos na cara e insultos.

Admito que perdi o controle e que de fato isso aconteceu porque as palavras do Wendell eram verdade, ele realmente devia ouvir aquilo mas não de mim. Eu não sou o maior exemplo de pacificidade e boa conduta e ele jogou tudo isso na minha cara, desde as brigas com o Tiago até a morte de Wagner e acho que foi isso que mais me irritou.

Continuamos a discussão até sermos separados por Igor e Edinho, que apesar de terem acalmado as coisas deram continuidade a conversa só que de volta a um tom mais ameno.

Wendell continuou sem querer aceitar as sugestões e retrucou dizendo que não seria expulso do próprio ônibus, pelo próprio grupo que ele lidera e ainda mais por juízes que estão usando as armas dele. Wendell concluiu dizendo que se fosse pra sair do ônibus seria em troca de um dos carros.

Não aguentei mais, saí de perto e finalizei minha participação naquilo dizendo que caso ele saia do ônibus não vai passar nem perto do meu carro. A conversa não prosseguiu por muito tempo depois disso e por fim passamos o caminho de volta inteiro em silêncio apenas com olhares meio desconfiados.

Essa situação toda está me tirando do sério, tanto que nem ao menos voltei a falar com Igor ou Edinho para saber o que acabará sendo feito e, relação a ele. Ao menos a ida até a cidade não foi de toda ruim, conseguimos óleo de motor e algumas peças pros carros. Meu pai e os outros estão concertando o que dá e pelo jeito sairemos mesmo apenas à noite.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now