27/12/2018

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Continuamos perambulando camuflados pela mata e sem saber um rumo certo a qual seguir. Na verdade nem sequer estamos tão preocupados em achar a saída ou o fim desse lugar.

Apesar do incomodo dos insetos e do calor e umidade excessiva em alguns momentos do dia esta região se apresentou bem mais segura e um pouco mais confortável que as cidades por onde deveríamos passar. Em todos esses dias aqui apenas três zumbis cruzaram nossa caminho e nenhum sinal de humanos.

Como mais um ponto positivo temos as árvores frutíferas que encontramos hora ou outra recheadas de frutas pelo caminho e avistei alguns animais pequenos que podemos caçar também quando nossos suprimentos ficarem escassos.

Há mais ou menos 40 minutos passamos por uma clareira que poderia ser um bom local para montar um acampamento fixo, mas eu não levei a idéia a Barbara, deixei guardada comigo por enquanto.

Ao mesmo tempo em que considero a mata como um local mais seguro que as cidades uma parte de mim considera ser desperdício de tempo simplesmente fixar-se e se esconder aqui. Eu pondero que não sobrevivi por tanto tempo para simplesmente esperar a morte chegar.

A morte de Edinho ainda mexe bastante comigo e às vezes me vejo na vontade de sair logo daqui e buscar vingança contra aqueles desgraçados, mas ai eu repenso e me parece que tudo de ruim que aconteceu conosco foi por conta desse desejo de vingança que alimentamos. E não é que eu não queira que eles paguem por isso, mas sim que eu estou percebendo que nunca fomos páreos para cobrá-los batendo de frente.

Eu admito que estou bem perdido sobre o que fazer agora, inúmeros pensamentos passam pela minha cabeça mas eu não consigo me agarrar a nenhum deles. Eu perdi a motivação necessária para me empenhar em algo, sabe? Sempre tive minha família, meu grupo, meu tio... Sempre foram meus apoios para eu continuar em frente, hoje em dia não me restou nada.

E o pior de tudo é imaginar que boa parte das perdas, senão todas elas, foram por minha culpa de certa maneira. Cometi vários erros tentando concertar os erros anteriores e tudo isso virou uma bola de neve gigante que me arrastou até aqui.

E tudo isso teve conseqüências muito graves na vida de outras pessoas, entre elas na de Barbara. Eu não estou mais me importando muito com minha vida pra ser sincero. Perdi as motivações e todas as metas que eu tinha, não sei mais o que quero fazer de fato, não sei onde quero chegar e muito menos como eu faria ou teria força pra fazer qualquer coisa que seja.

Não sei se prolongar essa tortura esperando superar é o melhor a fazer ou procurar um fim rápido seja mais proveitoso. A vingança parece ter mais sentido agora que já não tenho mais nada a perder, arrisquei tudo o que tinha antes por isto e perdi. Arriscar sem ter o que perder me parece bem razoável a essa altura.

E assim minha cabeça segue me sabotando com estes pensamentos confusos e quando eu pareço decidido sobre o que fazer percebo que eu não estou só e minha vida não é a única que está em jogo. Barbara ainda está comigo e eu sinto uma obrigação interna em protegê-la, o que me faz desconsiderar qualquer idéia maluca ou perigosa que eu tenha, pelo menos até o ponto onde me perco novamente na minha cabeça e esqueço mais uma vez que ela está comigo.

Estamos parados agora, decidimos descansar um pouco e também comer alguma coisa. Estas paradas agora são mais demoradas que as de antes e acabamos passando mais tempo parados em algum lugar do que caminhando.

Depois de mais um bom descanso embaixo da lona após termos feito nossa refeição nós voltamos a andar. Caminhamos por alguns minutos até que cruzamos com um rio que cortava a mata. O rio era largo mas nem tanto, tinha por volta de uns 15 metros e não sabíamos o quão profundo era.

- E ai? Vamos dar a volta? – Falei a Barbara enquanto olhava pro rio.

- Esse rio deve cortar a floresta inteira, não acho que tem como dar a volta.

- Pelo menos podemos encontrar um trecho mais estreito.

- Você tá com medo de se molhar? – Ela disse tirando os sapatos.

- Não é isso...

- Não sabe nadar?

- Sei.

- Então vamos nessa. – Barbara disse entrando no rio.

Ela deu alguns passos em direção a outra margem e se virou para mim.

- Põe meus sapatos na mochila e enrola tudo com a lona, aí você vem. – Ela continuou avançando e agora já estava a nadar, provavelmente a profundidade do rio já era maior que a altura dela nesse ponto. – A correnteza não é tão forte, vai ser fácil passar.

Eu assenti com a cabeça e passei a fazer aquilo que Barbara falou enquanto ela ainda estava nadando no meio do rio. Segui suas instruções e já estava prestes a fechar a lona com as mochilas dentro então a chamei para me ajudar a carregar sobre o rio.

Colocamos a lona sobre nossas cabeças e com os braços erguidos sobre a água fomos nadando lentamente atravessando o rio. Mesmo com a lona envolvendo as mochilas nós tentamos evitar o contato dela com a água, queríamos evitar a qualquer custo que todas nossas roupas e suprimentos ficassem encharcados.

Conseguimos vencer o rio e eu sai pela outra margem carregando a lona mas Barbara não me seguiu e preferiu continuar nadando mais um pouco. Eu me afastei mais um pouco da margem e comecei a abrir a lona quando olhei para o lado e vi Barbara sumir em meio à água.

Me levantei e gritei pelo seu nome mas ela não retornou de imediato, alguns segundos depois vi uma agitação na água e ela emergiu, mas não por muito tempo. Quando ela afundou pela segunda vez eu não hesitei em me jogar de volta no rio e nadar em sua direção.

Alcancei sua posição em instantes e mergulhei a sua procura mas a água do rio estava barrenta e eu não conseguia enxergar nada e então uma mão agarrou-se a minha calça, eu a segurei pelo pulso e puxei com tudo para cima.

Assim que emergi consegui abrir os olhos e ver o que estava acontecendo só que não foi Barbara quem eu havia puxado para cima, mas sim um zumbi. Me assustei e dei um impulso para trás ao mesmo tempo em que chutei o zumbi na direção oposta, me virei e vi Barbara mais a frente lutando com um outro zumbi também dentro d'água.

Nadei na direção deles e consegui alcançar o zumbi pelas costas e o puxei para trás afastando-o de Barbara, então o empurrei pra baixo e pisei sobre suas costas me impulsionando para frente. Barbara a se ver livre do zumbi nadou em direção a margem e eu fui logo atrás dela.

Nos deitamos a margem tentando nos recompor e recuperar o fôlego e ainda deitado falei:

- O que droga aconteceu?

- Não sei. – Barbara respondeu ofegante. – Acho que os zumbis estavam presos no lamaçal do fundo do rio e me alcançaram quando voltei pra nadar.

- Que merda, essa foi por pouco. Precisamos ter mais cuidado.

- Foi por pouco sim. E valeu pela ajuda.

Diário de Um SobreviventeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora