15/01/2019

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O ataque ao grupo de buscas três dias atrás nos rendeu bons frutos. Pegamos tudo o que aqueles desgraçados tinham de útil: bolsas com boa quantidade de mantimentos, tanto de comida como utensílios básicos e até um kit de primeiros socorros. Além das armas claro, que foram: um revolver .38 da taurus em inox, muito bonito por sinal, mas que ficou com Frank e uma calibre 12 que estava dentro do carro.

Eu gostei do revolver mas preferi ficar com a 12 porque é uma arma que trás bastantes memórias de Edinho. Às vezes eu sinto que estou me esquecendo das pessoas, tanto de Edinho como dos outros e me sinto mal por isso.

Eu consigo lidar com bastantes coisas, os zumbis, as balas, essa guerra iminente com o comandante, tudo isso é algo controlável pra mim, mas as coisas que acontecem dentro da minha cabeça parecem sempre estar fora do meu controle.

Pra finalizar também pegamos o carro, Frank acertou alguns tiros nele mas nada que impedisse seu funcionamento. Agora que estamos numa zona com uma concentração muito maior de mordedores, andar a pé acaba sendo bem mais perigoso e o carro é ótimo pra nos dar esta proteção extra.

Não rodamos muito com ele de lá pra cá, apenas tiramos daquele local e levamos pra um abrigo de Frank para mantê-lo seguro e longe das vistas de qualquer um.

Com a morte daquele grupo de buscas era óbvio que o comandante mandaria outras rondas atrás de quem quer que fosse que tivesse feito aquilo, e lógico que eu e Frank somos os suspeitos número 1. Então decidimos ficar longe das ruas nos últimos dias e apenas observamos a movimentação pela região.

Felizmente ninguém chegou até nós e não vimos nenhuma movimentação na área em que estamos. A precaução surtiu efeito e saímos com saldo bem positivo naquela empreitada, com mais armas, munições, mantimentos e um carro. Além de ter atacado bem nos nervos daquele grupo de desgraçados.

Os laços de confiança entre eu e Frank também se fortaleceram ainda mais um pouco, além da nossa auto-estima que cresceu após esse embate bem sucedido. Se continuarmos assim, atacando um grupo pequeno por vez, conseguiremos minar os grupos de buscas e forçar o comandante a errar, e aí nós o pegamos.

17/01/2019

Após cinco dias praticamente trancafiados dentro do abrigo chegamos ao consenso de que já é seguro sair. Na verdade nestes dias que passaram demos algumas rondas discretas pelas imediações, a pé mesmo, apenas pra quebrar a monotonia de ficarmos presos em casa.

Já fazia um tempo que eu não sentia o que era isso. Os últimos meses foram uma loucura, sempre correndo de um lugar para o outro, fugindo de zumbis, buscando esconderijos temporários, dirigindo, trocando tiros mais ultimamente e enfim. A questão é que por um momento ficar escondido assim num lugar, apenas esperando o perigo passar, me fez lembrar as primeiras semanas após a infecção chegar até nós.

É claro que não ter mais minha família comigo muda bastante as coisas, só que ainda assim foi algo que me fez recordar daqueles tempos. Isso me faz pensar no que aconteceu, nas pessoas que perdemos e em como seria diferente se ainda estivessem com nós, todas elas. Se ainda fossemos aquele grande grupo que saiu de João Pessoa e mais até somando com todos os outros que se juntaram pelo caminho... Nossa, as coisas seriam bem diferentes.

Também estive pensando em Barbara, pensando se ela ainda continua viva. Eu não quis falar isto com Frank, pois desde que nos conhecemos ele garantiu que muito dificilmente a matariam, mas eu não sei... E a verdade é que mesmo que ela não tenha sido morta, os dias de cárcere dela devem estar sendo um inferno. Me sinto mal ao pensar nisso e ao mesmo tempo um ódio me consome ao lembrar. Os danos que causamos naquele grupo não chegam a 1/3 do que eu ainda pretendo fazer.

- E ai? Está pronto para ir à caça novamente? – Perguntei a Frank.

- Nós não fomos à caça e nem vamos, não preciso te lembrar do quão perigoso eles são, certo?

- Acabamos com aqueles caras num instante, podemos continuar fazendo isso.

- Acertamos um dos grupos apenas, e nem era dos maiores. Na verdade era um grupo menor que o de costume. Nossa vantagem é o elemento surpresa, se simplesmente sairmos pro ataque perderemos isso.

- Isso quer dizer que continuaremos na encolha?

- Isso quer que dizer que atacaremos no momento certo. Você terá muitas oportunidades de ceifar a vida de alguns deles. Agora precisamos nos mover, é hora de checar os outros abrigos.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now