18/12/2018

413 36 7
                                    


A noite ontem foi tranqüila. Nada apareceu por perto nem tentou entrar aqui. Barbara veio me render na vigilância por volta de unas três da manhã, mas acabou que ficamos conversando por um tempo e quando percebemos já era quase dia. Eu não achei ruim, não estava cansado e passar a noite conversando com ela foi melhor do que dormir. É engraçado como ela consegue arrancar sorrisos facilmente de mim.

Como Edinho deixou claro ontem, estaríamos prontos para partir logo depois de amanhecer, e ele não furou com sua palavra. Pouco depois dos primeiros raios do sol surgirem pelas janelas Edinho já estava de pé carregando as mochilas nas mãos.

Barbara me perguntou se eu achava melhor que ela falasse com Edinho para que desse um tempo para eu dormir um pouco antes de partimos, mas falei que estava bem e poderíamos partir cedo como o combinado. Eu não vou dirigir mesmo e como vamos passar o tempo todo no carro não vai fazer muita diferença se eu tiver um pouco cansado, talvez até cochile na estrada se necessário.

Felipe também não tardou a acordar e foi logo ajudando Edinho a organizar tudo para partida. Como não tínhamos desfeito muito pouco das malas não precisava mais de duas pessoas para organizar tudo então eu nem me importei em ir até eles. Achei melhor procurar algo mais importante como palitos de dentes.

Não sei há quanto tempo faz que eu não sei o que é uma escova de dentes e eu quero evitar de sentir novamente aquela maldita dor de dente que quase me fez enlouquecer. Aqui, como é um restaurante, deve ter vários recipientes com palitos espalhados pelas mesas ou em algum lugar, pois eu acho muito difícil que alguém tenha se preocupado em saquear isto.

Aproveitei que o sol já tinha iluminado bem o ambiente e fui a procura dos benditos palitos. Fui de mesa em mesa passando os olhos por todas as partes até que achei um frasco com os palitos em cima de um dos bancos. Já estava com o frasco em minhas mãos e pronto pra voltar até Barbara quando olhei de relance a próxima mesa a minha frente e vi algo que mudaria tudo.

Larguei o recipiente com os palitos de volta no banco e fui até a outra mesa para ter certeza de que era aquilo mesmo que eu estava vendo, não acreditei quando segurei em minhas mãos, era uma ponta de flecha. Observei aquele pequeno pedaço de metal entre os dedos por alguns instantes enquanto engolia a seco tentando manter a calma. Aquilo só poderia ser dela.

Corri para a parte do restaurante onde ficam a cozinha e despensa e revirei os colchonetes velhos que estavam lá a procura de mais alguma peça familiar. Edinho viu meu alvoroço e foi até lá conferir.

- Ei, o que você tá fazendo? já peguei tudo e não precisamos desses colchões velhos.

- Não é isso. – Falei com a respiração, quase ofegante. – Você achou algo familiar aqui?

- O quê? Como assim?

- Uma peça de roupa, um lençol, um prendedor de cabelo? Hã? – Falei apressando a respostas de Edinho. – Viu alguma coisa?

- Não Jotah, eu não vi nada. Só tinham nossas coisas aqui e esses colchões velhos, do que você está falando?

Passei por Edinho e saí da parte interna do restaurante e voltei pro salão onde ficavam as mesas. Edinho veio atrás de mim.

- Espera. O que está acontecendo com você? Tá parecendo um maluco.

- É isso que está acontecendo. – Mostrei a ponta da flecha a Edinho que a pegou da minha mão.

- Não pode ser. – Ele falou com a ponta da flecha na mão enquanto Barbara e principalmente Felipe observavam sem entender muito bem o que se passava.

Enquanto Edinho analisava o objeto eu peguei uma das flechas, que estava presa ao arco, junto ao resto das nossas coisas.

- Não pode ser? – Falei aproximando a flecha da ponta que Edinho tinha em mãos. – Olha bem e me diz que não é a mesma.

- Peguem as coisas. Nós vamos embora daqui agora. – Edinho falou e logo foi em direção as mochilas.

Virei-me em direção a saída do restaurante para ir até o carro mas Barbara me segurou pela camisa.

- Você tem certeza de que ela?

- Sim. Absoluta.

Não perdemos tempo depois disso. Em um piscar de olhos todos já estavam no carro, prontos para sair. Só havia uma estrada a nossa frente, e nela só poderíamos voltar por onde viemos ou seguir caminho em direção ao interior, e foi isso que fizemos.

Edinho estava ao volante e seguiu a toda velocidade enquanto a ansiedade e tensão de todos só subia. Nunca estivemos tão perto de encontrá-los como agora, enfim essa tortura vai acabar. Só Deus sabe o quanto eu ansiei por isto.

Eu estava inquieto no banco do passageiro, por mais que eu me mantivesse calado e tentasse manter a calma, era nítido o quão nervoso eu estava. Naquele momento eu queria que aquele carro tivesse asas para que pudéssemos chegar o mais rápido possível onde quer que fosse.

- É um posto de gasolina ali? – Barbara perguntou já depois de quase uma hora de viagem.

- É. Isso mesmo. – Edinho respondeu sem reduzir a velocidade.

- Vamos parar lá? – Felipe perguntou.

- Não. – Edinho reduziu um pouco a velocidade ao se aproximar do local. – Se eu não ver o carro deles do lado de fora ou nenhum sinal de que estejam ai, não vamos perder tempo parando.

Poucos segundos depois já estávamos em frente ao posto, Edinho reduziu bastante a velocidade mas não chegou a parar.

- Não tem nada aí. – Falei. – Vamos em frente.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now