17/12/2018

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A chuva não deu trégua ontem e acabou nos prendendo aqui por mais um dia. Assim que desci para comer com os outros já pude notar que as nuvens de chuva não se dispersariam tão cedo, mas não sabia ainda que isso nos faria permanecer aqui.

Eu sei que Edinho não gosta que viajemos a noite só não sabia da sua aversão com dias de chuvas, mas a explicação dele fez sentido. Teríamos bastantes dificuldades pra enxergar na chuva pesada, além das condições da estrada estarem bem piores e os prováveis pontos de alagamento que impediriam nossa passagem. Ainda por cima nosso carro já está sem a maior parte dos vidros, o que quer dizer que nos encharcaríamos inteiros e sem um local certo para pararmos e trocarmos de noite seria dar muita chance ao azar.

Basicamente tínhamos muito mais a perder saindo daqui nessa chuva do que esperando mais algumas horas até que ela passasse, o problema é que ela não passou em poucas horas. Passamos o dia inteiro esperando a estiagem que só aconteceu por volta das 8 horas, de acordo com meu relógio novo, e aí não valeria mais a pena para nós sairmos àquela altura.

Às quatro da tarde já era óbvio que a chuva não daria trégua antes do anoitecer, então já que passaríamos mais uma noite ali eu aproveitei o resto da pouca luz do dia para limpar o quarto desta vez. Peguei o colchão do outro quarto que eu já havia limpado, que por sorte não foi atingido pela água que escorreu pelo teto, e trouxe para o novo quarto junto com as roupas de cama.

A noite foi tranqüila, especialmente depois que a chuva parou e eu soube que poderíamos seguir nosso caminho logo que o dia amanhecesse. E agora, às oito da manhã estamos prontos para partir. Não chove forte desde ontem à noite e pelo jeito que o céu está, o pior da tempestade já passou.

As estradas ainda estavam molhadas e todos os buracos nelas se transformaram em poças gigantes de lama. O caminho estava ruim mas nada que nos preocupasse ou nos impedisse de passar até chegarmos a ponte, ou melhor, chegarmos até o lugar onde deveria estar uma ponte.

- Mas que... O que droga aconteceu aqui? – Barbara, que vinha no banco do passageiro, falou ao ver que a ponte havia Caído.

- O nível do rio deve ter subido por causa da chuva e acabou levando a ponte com ele. – Edinho disso abrindo a porta do carro.

- Será que foi com a chuva dos últimos dias? – Felipe falou.

- Talvez. – Edinho respondeu já fora do carro.

- Do que importa? O que interessa é que a ponte está no chão e não poderemos passar. – Barbara disse furiosa.

- Vamos perder quanto tempo para dar a volta? – Perguntei já fora do carro também.

- Metade de um dia, pelo menos. – Edinho respondeu voltando para o carro.

- Droga. – Falei enquanto entrava de volta no carro.

Enquanto Edinho manobrava o carro para dar meia volta na estrada nós pudemos ver mais pedaços do que sobrou da ponte cair sobre o rio, essa droga vai nos atrasar bastante mas não podemos nos deixar abater.

Rodamos o resto do dia em busca de um caminho alternativo e próximo ao fim da tarde encontramos um restaurante a beira da estrada. Estávamos no meio do nada, já há 20 minutos na estrada não vimos nenhum lugar pra parar e não sabíamos o quanto mais pra frente encontraríamos outro e decidimos então ficar por ali mesmo.

O restaurante estava em bom estado e com tudo no lugar, parecia que nunca havia sido invadido antes. A porta era de madeira e vidro, assim como as grandes janelas que o circundavam. Algumas poucas estavam quebradas mas parecia ter sido apenas por conta do vento.

- Vamos ficar aqui mesmo? – Perguntei a Edinho depois de darmos uma olhada no local.

- É. Passamos essa noite e saímos assim que o dia amanhecer amanhã.

- Por mim tudo bem.

- Estão todos de acordo? – Edinho perguntou e todos responderam positivamente.

Depois da confirmação que ficaríamos mesmo ali eu decidi vasculhar melhor o local e fui até a cozinha e despensa, que ficavam separados da área de vivência do restaurante onde fiavam as mesas e cadeiras. A parte boa é que a conzinha e despensa eram separados desta outra parte por portas e na parte mais internas não havia grandes janelas e nem nada do tipo, o que passa uma sensação de segurança maior.

Na despensa não havia mais sinal de suprimentos mas não fazia mal, seria melhor se tivesse mas temos o suficiente para não nos preocuparmos por enquanto. O que me chamou a atenção na verdade foram uns colchonetes velhos e pedaços de estofados no chão, parece que alguém já havia passado pelo menos uma noite aqui.

- Encontrei algo na despensa. – Falei a Edinho assim que o vi, ele estava verificando as janelas.

- Suprimentos? Pegue-os, mais é sempre melhor.

- Não são suprimentos. – Fiz Edinho me seguir até a despensa e continuei. – Mais alguém está passando a noite aqui, ou pelo menos já passou.

Edinho passou a mão sobre os colchonetes e os revirou tentando analisar melhor.

- Isso pode ter sido largado aqui há muito tempo.

- Acha seguro arriscar ficar aqui? – Perguntei.

- Não será um risco se vigiarmos bem durante a noite.

- Pode deixar isso comigo. – Conclui.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now