25/12/2018

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Entramos no matagal ontem enquanto fugíamos e nos escondemos aqui. Nós corremos, mudando de direção, por uns vinte ou trinta minutos até encontrar um lugar para nos esconder. Havia um pequeno abrigo abandonado montado com algumas madeiras e uma lona e usamos ele como esconderijo e cobertura.

Ficamos quietos e atentos em qualquer sinal da aproximação de alguém, mas ninguém apareceu. Quando percebemos que havíamos conseguido despistar nossos agressores, saímos um pouco do abrigo para analisar o terreno ao redor.

O local parece ser mais que um simples matagal, digo em relação a sua extensão. Pela quantidade e tipos de arvores que vimos parece que estamos numa zona de floresta. Ficamos receosos de partir ainda ontem então acabamos voltando a nos abrigar na barraca improvisada e permanecer ali até o próximo dia.

Durante a noite choveu um pouco, nada que a lona não conseguisse conter, então conseguimos nos manter secos apesar de ainda termos sofrido com o frio.

Já agora pela manhã preferimos comer antes de decidir o que fazer e qual caminho tomar. Podemos tentar seguir o caminho por onde viemos e voltar para a cidade ou continuar em frente e ver onde iremos chegar. Em ambos os casos existem prós e contras que precisamos ponderar antes de tomar nossa decisão.

Se decidirmos voltar, nós arriscaremos acabar nos encontrando de novo com aqueles homens ou caindo numa emboscada feita por eles. E mesmo que isso não aconteça teremos voltado pro mesmo problema de antes, sem carro, sem abrigo e com alguém ao nosso encalço. Já se seguirmos caminho em frente podemos usar a mata como cobertura e camuflagem, mas arriscaríamos se perder nesta floresta, se é que já não estamos perdidos.

Eu ainda não sei qual das duas opções é mais perigosa, mas pelo jeito eu e Barbara vamos continuar seguindo caminho pela mata. Ao menos por aqui acho bem mais difícil de sermos encontrados por aqueles caras, o problema que mais me preocupa é trombar com um grupo grande de zumbis.

Não parei bem pra pensar nem para falar com Barbara sobre quem seriam os homens que nos atacaram. Não quero voltar à mesma conversa daquele possível grupo que domina essa área. Essas teorias e conversas não nos levarão a lugar algum e só serviria pra encher nossas cabeças com besteira.

Depois que terminamos o café da manhã começamos a juntar as coisas, pegamos a lona e organizamos as mochilas para partir. Conversamos brevemente uma última vez apenas para confirmar a decisão e começamos a caminhada em meio à mata.

No começo foi difícil, bem difícil, avançar pois não encontramos nenhum caminho ou trilha e precisamos avançar completamente envoltos pela vegetação. A caminhada era lenta por conta do caminho obstruído pelas folhas e galhos e também por conta do terreno irregular sob nossos pés.

Não passamos mais de 5 minutos sem um escorregão por conta do solo úmido e argiloso ou sem um tropeço em uma das milhares de raízes ou tocos de arvores mortas. A caminhada foi tortuosa assim até que enfim encontramos uma pequena trilha entre todo o mato e decidimos seguir por ela.

Não tínhamos idéia de onde diabos aquela trilha iria parar nas ponderamos que seria melhor seguir nela, por ser um caminho mais fácil, do que continuar o caminho mais difícil, e também sem rumo, entre as árvores.

O caminho era bem estreito e por vezes desaparecia e era tomado pela vegetação. Pelo jeito a trilha é bem antiga e foi abandonada a bastante tempo, já que em alguns pontos ela quase deixa de existir.

O avanço por ela é melhor do que entre as árvores mais ainda assim é uma caminhada lenta. Passamos com cuidado tentando ouvir tudo a nossa volta principalmente pelo receio de sermos pegos de surpresa por alguma horda de zumbis.

É difícil enxergar muitos metros à frente dentro da mata então nossos ouvidos passaram a ser nossa principal arma contra surpresas indesejadas. O que complica tudo é que os zumbis não são a única coisa que fazem barulho. Já ouvimos muito barulho vindo do meio do mato mas até agora foram apenas animais fugindo da nossa presença, é difícil parar por conta de todo barulho e mais difícil ainda ignorá-los.

Perto da hora do almoço nós paramos para descansar e comer. A parte boa de estar na mata é que ao menos o sol não nos castiga tanto, a maior parte dos raios solares é aparada pela copa dos arvores e o ambiente acaba se tornando bem mais fresco que as cidades por onde passávamos.

Foi só quando estávamos em meio à refeição do almoço que eu percebi a data de hoje: 25/12 estamos no natal.

- Feliz Natal.

- O quê? – Barbara indagou meio surpresa.

- Se a data do relógio está correta, hoje é Natal.

- Sério? – Barbara sorriu. – Então Feliz Natal pra você também.

- Obrigado. – Sorri de volta e voltei a comer.

- Isso quer dizer que deveríamos ter preparado algo especial para hoje. – Barbara sugeriu.

- Você quer dizer que comer arroz puro cozinhado numa caneca, no meio de uma floresta, cercado por zumbis enquanto fugimos de um grupo de assassinos não é especial o suficiente? – Falei num tom irônico.

- É... – Barbara tentou para de rir ante de continuar. - Vendo as coisas assim tudo isso parece bem especial mesmo.


Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now