08/12/18 (Continuação)

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Caminhei por alguns minutos e me afastei do acampamento por um tempo, fiquei lá sentada numa rocha folheando o diário até que um pouco antes de anoitecer Castilho veio até mim.

- Izabel? Está tudo bem com você?

- Oi Castilho. Sim, agora estou melhor e me desculpe por ter sido grossa com você.

- Ah não tem nada não. Olha eu vim aqui porque precisamos de você no acampamento.

- Por quê? Aconteceu alguma coisa? Alguém se feriu?

- Não. Não é isso, é que realmente precisamos de você lá.

Mesmo com ele dizendo que ninguém tinha sido ferido eu estava preocupada com o que podia ter acontecido e também não acreditei 100% nas suas palavras já que ele me parecia um tanto inseguro ao falar.

Percorremos o caminho de volta durante alguns minutos e quando chegamos próximos ao acampamento eu vi o corpo de um zumbi ao solo com flechas cravadas nele.

- O que aconteceu aqui? Foi você quem fez isso? – Indaguei.

- Foi. Ele se aproximou do acampamento e eu estava de guarda com seu arco e tentei matá-lo mas não consegui acertar na cabeça, então usei a faca para contê-lo.

- Muito bem. Você é um garoto corajoso.

Desviamos um pouco o curso até o acampamento para recuperar as flechas do corpo do mordedor e logo depois já estávamos no nosso destino.

- O que aconteceu? Por que mandaram o Castilho me chamar?

- Izabel o seu irmão não voltou da cidade. – Dayse falou enquanto se aproximava de mim.

- O que? Do que você está falando?

- Ele estava convencido de ir à cidade e não mudou de idéia após a discussão de vocês dois. Ele foi até lá com Rodrigo e Alessandra e já deveriam ter voltado mas até agora nenhum sinal deles. – Dayse continuou enquanto tocava o meu ombro e falava num tom ameno para tentar não me preocupar.

- Droga. Não. Não. Não. Isso não pode está acontecendo de novo.

- Não sabemos o que aconteceu, eles talvez até já possam estar no caminho de volta. – Disse Leonardo.

- Ou podem estar em perigo e precisando da nossa ajuda. – Conclui.

- Não podemos fazer muita coisa Izabel, temos que cuidar das meninas e não podemos expô-las a esse perigo, além de que nenhum de nós sabe atirar a não ser você. – Dayse falava tentando acalmar a situação.

- Ótimo. Então deixem comigo, eu vou lá sozinha.

- Eu posso ajudar. – Castilho se pronunciou.

- Ninguém vai a lugar nenhum. – Leonardo tentou se impor.

- Então tente me impedir. – Falei o encarando.

Olhei pra Castilho e fiz um sinal com a cabeça para ele ir até o carro comigo e assim que me virei para andar fui segurada pelo braço.

- Eu falei que você não vai. – Leonardo disse dessa vez com um tom mais firme tal qual sua pegada no meu braço.

Puxei o braço com força me desvencilhando de sua pegada.

- Me larga seu imbecil!

Ele fez um gesto como se fosse tentar algo contra mim, talvez me segurar mais uma vez ou algo do tipo mas foi interrompido por Dayse.

- Nem pense em fazer isso! - Disse ela em tom grave e alto fazendo todos nós olharem pra ela e prosseguiu – Já chega vocês dois! Ninguém vai a lugar nenhum até que eu diga que sim. Castilho vá ver como as garotas estão e você – ela falou apontando o dedo pra Leonardo – acho bom procurar algo o que fazer bem longe de nós.

Não esperava uma reação assim vindo dela e fiquei tão sem ação quanto os outros, estava parada olhando pra ela como se esperasse ser a próxima a receber suas ordens.

- O que você pensa que está fazendo Izabel?

Eu apenas a olhava sem resposta, não sei por que mas todo meu ímpeto de discutir e responder parecia ter sido subjugado e perante minha passividade ela prosseguiu.

- Eu sei que tudo isso é muito difícil pra você mas você tem que entender que também é tão difícil quanto para nós. Esse tipo de atitude explosiva que você vem tomando não é bom para ninguém, especialmente para você. Você é uma garota tão bonita – ela falou afagando meu rosto com as costas da mão – e inteligente, inteligente o suficiente para dominar suas emoções. É uma líder agora não é? Então aja como tal.

Ainda não conseguia respondê-la, agora mais por vergonha do que por receio e apenas consenti com a cabeça. Eu já a considerava como uma mãe e agora eu a respeitava mais do que nunca.

Voltei pro carro e me sentei em cima do capô olhando a imensidão da estrada no sentindo em que eu esperava ansiosamente ver meu irmão percorrer de volta e Castilho veio mais uma vez até mim.

- E então, o que vamos fazer?

- Não viu o que aconteceu? Eu vou esperar eles voltarem, nós vamos.

- Mas...

- Não se preocupe Castilho, eles estão bem.

A noite logo caiu e eu permanecia em cima do carro esperando, nenhum sinal deles até agora.

A fogueira se acendeu e eu vi que o grupo se reunia para jantar mas eu não estava com fome e não queria largar meu posto de vigia até que ouvi barulhos vindo do mato e me levantei sobre o carro para tentar observar melhor.

Automaticamente pensei que fossem mordedores então não tardei pra descer do carro e buscar uma arma na bolsa já que não sabia onde Castilho havia deixado meu arco, mas assim que entrei no carro ouvi vozes vindas daquela direção.

Saí do carro com a arma em mãos e quando apontei na direção do som vi que eram meu irmão, Rodrigo e Alessandra que chegavam a pé. Larguei a arma no banco de trás perto da bolsa e corri em sua direção.

- Izabel, nós não temos tempo. Pegue suas coisas e eu vou chamar os outros, precisamos sair daqui AGORA!

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now