01/12/2018

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Realmente a bala transfixou o braço de Barbara e tivemos certeza disso ontem enquanto limpávamos o ferimento e fazíamos um novo curativo. Ela está sentindo um pouco de dor mas está estabilizada, se cuidarmos bem aquele ferimento não vai trazer grandes problemas a ela.

Nos questionamos sobre quem teria atirado em nós e não chegamos exatamente num consenso. Edinho ainda pensa que foram os caras de quem roubamos o carro e quase conseguiu nos convencer, mas eu ainda acho que foram algumas pessoas que simplesmente queriam roubar o carro de nós, eles devem morar em um daqueles prédios e atiraram quando nos viram passando. Isso explicaria porque nenhum carro veio nos perseguir.

Passamos a noite relativamente bem no casebre, mesmo não tendo muito conforto tivemos uma noite tranqüila. Logo ao amanhecer, após eu acordar, Edinho veio falar comigo.

- Temos um pequeno problema com o carro. – Edinho me disse enquanto segurava uma chave de fenda na mão.

- Não vai me dizer que os tiros acertaram algum pneu?

- Não, pior, um tiro acertou o radiador.

- Droga! E agora? Vai dar pra rodar assim?

- Sem radiador? Não vamos conseguir dirigir por sequer uma hora direto.

- E aí? Onde vamos encontrar outra droga de radiador? – Falei passando a mão na testa e balançando a cabeça negativamente reprovando a nossa falta de sorte.

- Não precisamos de outro, precisamos apenas consertar esse. Eu consigo dar um jeito.

- A noticia ruim é que você não tem o que precisa pra consertá-lo, não é?

- Sim. Eu preciso de algo pra fechar o furo, uma solda ou cola de alta temperatura serviria.

- E onde vamos encontrar isso?

- Uma oficina ou loja de autopeças, provavelmente.

- Podemos ir com o carro?

- É melhor não forçar. Passamos por um bairro comercial aqui perto, podemos ir a pé, não vai ser difícil encontrar algo lá.

- E aqueles merdas que atiraram em nós? – Falei sugerindo a hipótese de nos esbarrarmos com eles de novo.

- Vamos torcer pra não encontrá-los. Este é mais um motivo pra não irmos de carro: descrição. – Edinho disse e saiu para aprontar as coisas pra mais uma patrulha como nos velhos tempos.

- Já eu estou torcendo pra me bater com eles. – Falei em voz baixa a ponto de eu mesmo quase não ouvir.

Edinho buscou uma de nossas bolsas e a esvaziou deixando apenas duas garrafas d'água e uns pacotes de salgadinhos. Eu peguei o arco e contei mais uma vez as flechas que sobraram, 11, terão que servir. Além disso, levaremos uma ou duas armas conosco e alguma lâmina também, mas antes de pegar tudo que precisávamos as garotas notaram nossa movimentação e perguntaram o que estava acontecendo.

- O que vocês estão fazendo? – Natalia perguntou.

- Já vamos dar o fora? – Barbara continuou a indagação.

- Err. – Não sei por que mas eu hesitei a responder e olhei pra Edinho esperando que ele explicasse.

- Estamos nos preparando pra sair, mas não pra dar o fora. Temos que ir vasculhar a cidade atrás de um remendo pro carro.

- O que houve? – Barbara prosseguiu com a série de perguntas.

- Um tiro acertou o motor. – Respondi.

- Acertou o radiador na verdade. E precisamos encontrar uma cola ou algo pra selar o furo.

- Vocês estão pensando em sair sozinhos por aí? Com os canibais e os psicopatas que atiraram em nós à solta? – Natalia perguntou com um claro tom de desincentivo.

- Nós temos que ir. E eu e ele já estamos acostumados a vasculhar coisas nas cidades. – Respondi tentando tranqüilizá-la.

- Vai ficar tudo bem, não se preocupem. Antes que percebam já estaremos de volta e assim damos o fora daqui em definitivo.

- Vocês podem até voltar rápido, mas não nos peça para não nos preocuparmos. – Barbara rebateu. – Tomem cuidado.

Agilizamos a despedida, selamos os desejos de boa sorte e estávamos prontos pra ir. Eu levando o arco e a pistola que pegamos do segurança-zumbi e Edinho levando a pistola do finado Adônis além de uma pequena lâmina escondida.

Já estávamos com tudo pronto e seguíamos em direção a saída do casebre, na verdade Edinho já estava do lado de fora quando eu falei uma última frase as garotas.

- Isso é pra ser jogo rápido, se não estivermos de volta até o anoitecer, peguem o carro e vão embora.

- Não diga isso. – Barbara respondeu seca.

Assenti com a cabeça e saí do apartamento apenas pra me dar de cara com Edinho portando a mesma expressão de desaprovação que Barbara acabara de ter feito.

- Por que você diz essas coisas?

- Só queria alertá-las...

- Vamos embora.

Caminhamos por pouco tempo, apenas até chegar à saída da ruela em que estávamos e eu decidi voltar a falar com meu tio.

- E a sua perna, como está? Consegue dar conta disso?

- Ainda incomoda um pouco, mas desde que não precise correr muito eu consigo me virar. E o seu peito?

- Ainda machuca quando uso o arco mas dá pra me virar.

Eu sei que o clima entre nós não aparenta não estar muito bem, mas são apenas aparências. Eu e ele sabemos que somos a família um do outro e jamais daremos as costas pra família. Essa conversa e a preocupação de um com outro pra mim já deixa claro que o aconteceu, aconteceu, e ficou para trás. Agora o que importa é nos protegermos e continuarmos vivos. Que essa patrulha não seja a última.

Realmente voltamos rápido, cerca de duas horas e meia depois já estávamos de volta, e não tivemos muitos problemas por lá. Alguns zumbis apareceram mas não tantos e eu consegui dar um jeito neles com o arco. A cola pro radiador nós encontramos na terceira oficina que vasculhamos e ainda descolamos gasolina de dois carros que estavam parados pra conserto lá dentro.

Pegamos algumas peças também, óleo pro motor e ferramentas, além dos dois galões em que trouxemos a gasolina de volta. Edinho está lá fora dando um jeito no radiador e segundo ele o carro estará pronto pra partir ainda hoje. Teremos mais algumas horas de sol então pelo jeito realmente sairemos daqui antes do anoitecer, apesar de não termos nos batido com os malucos que atiraram em nós e não termos tido mais nenhum sinal deles, é mais seguro nos afastarmos o máximo que der.

Além do mais, precisamos continuar caminho em direção ao litoral e em busca da nossa família.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now