23/11/2018(Continuação)

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O primeiro banho de verdade depois de meses. É indescritível a sensação de fazer isso. Apreciei cada segundo daquele momento singular e tão simples que eu já havia se esquecido de quão bom era, lembrei dos meus momentos reflexivos embaixo do chuveiro que costumava ter com certa frequência antes dessa maluquice toda começar. Queria passar o resto do dia ali apenas sentido a água fria cair sobre meus ombros mas não tardei muito no banho pois sei da necessidade de economizar a pouca água que temos.

Assim que sai do banho avistei algumas mudas de roupas sobre a cama e fui alertado pela voz de Barbara que soava de fora do cômodo:

- Peguei algumas roupas pra você. Veja se alguma te serve.

Sorri pela gentileza dela e respondi com um sonoro obrigado.

Tratei de me secar e vasculhar naquelas roupas alguma que me servisse e não demorei muito para encontrar. Peguei uma calça jeans quase sem cor e uma camiseta preta, simples e tão desbotada quanto a calça. Agora já vestido me dirigi pra fora do quarto ao encontro de Barbara.

- Obrigado pelas roupas.

- Foi um presente pela água. Eu vou tomar o meu banho agora, você pode ir ver seu tio, ele já acordou.

- Ótimo. Era exatamente isso que eu queria saber. Até mais então.

Nos despedimos brevemente e eu segui em direção ao quarto onde meu tio estava. Assim que cheguei o vi tentando se levantar da cama.

- Ei! O que você pensa que vai fazer?

- Eu quero ao menos me sentar.

- Você vai fazer mais que isso, mas não agora.

- Precisamos ir atrás dos outros. Chegar até o navio.

Travei por um momento ao ouvir aquilo e não sei se consegui disfarçar minha expressão. Eu já sabia que o navio não existia, mas eu não podia deixar que Edinho soubesse disto, não agora. A luta dele até hoje girou em torno de manter sua família a salvo e depois de todas as perdas que teve, sua filha foi a única pessoa que lhe restou, se ele descobrir que ela não está a salvo como pensa que está eu não sei o que vai acontecer com ele.

Provavelmente sua reação seria bem próxima da minha e isso é tudo o que não precisamos agora. Ele está ferido e nem sequer pode se levantar da cama, quanto mais sair daqui ou enfrentar os zumbis lá fora. E permanecer deitado numa cama enquanto sua filha está exposta a todos os riscos lá fora deve ser pior do que a morte pra ele.

Precisei pensar rápido e responder sem hesitar, tive de mentir para meu tio. Era a última coisa que queria fazer mas era o que precisava ser feito.

- Nós vamos até lá, mas só quando você tiver em condições. Eles não sairão de lá sem nós.

- Eu não quero saber, Jotah. Eu prometi a Heloise que não passaria um dia sequer longe dela e não irei passar.

- Nós temos problemas pra resolver aqui, irmão. Eu sei que você quer estar com eles, assim como eu também quero, mas precisamos ser conscientes senão nos distanciaremos deles cada vez mais ao invés de nos aproximarmos.

- Quais problemas? – Ele falou como se nem tivesse ouvido o resto do que eu disse.

- Uma tonelada de zumbis lá fora, não temos transporte pra chegar lá e...

- Então os resolva. – Ele me interrompeu. – Você não é bom com isso? Então resolva nossos problemas e vamos embora daqui.

Eu não quis discutir então apenas consenti com a cabeça e conclui.

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