11/03/2019

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Os dias não têm sido fáceis e agora parecem durar o triplo do tempo de outrora. Afundei-me completamente em pensamentos ruins e destrutivos e a única saída que venho encontrando para fugir deles é o álcool. As garrafas que trouxe comigo do bar logo não darão mais conta de me embriagar então hoje é o dia de procurar mais.

Não tenho comido direito e venho passando os dias num estado de semi-inconsciência quase que em tempo integral. O ciclo diário vem sendo sempre o mesmo: acordar com a cabeça atormentada, beber para fugir dos pensamentos e depois de mal conseguir erguer a garrafa vem a hora do sono. Então no próximo dia o ciclo se repete.

Venho me deslocando pouco nesta última semana. Acho que só peguei no carro uma ou duas vezes e mesmo assim por pouco tempo. Em uma saí para uma ronda que terminou assim que adormeci sobre o volante no meio da estrada, por sorte vinha devagar o bastante para não me acidentar. A segunda vez foi quando troquei de abrigo.

Hoje assim que acordei a dor de cabeça habitual das manhãs me deu bom dia e eu precisei de alguns instantes para estar pronto para levantar-me. Estava com a garrafa na mão e assim que notei que ela estava vazia a larguei sobre o sofá da sala.

Fui até as mochilas que larguei no canto da sala e vasculhando uma delas alcancei outra garrafa de bebida, esta estava pela metade. Destampei e tomei um gole enquanto afastava a cortina para olhar pela janela. O sol já estava bem presente no céu, talvez fosse algo próximo das nove ou dez da manhã.

Mais uma vasculhada na bolsa e eu peguei uma lata de sardinha, caminhei de volta até a mesa e tomei meu café da manhã: sardinha com vodka.

Quando terminei a refeição fui até o banheiro para me olhar no espelho, um ritual que tenho feito ultimamente. Talvez mais uma forma de autopunição, pois só o que consigo sentir é vergonha de mim mesmo.

Mas diferente das últimas vezes eu não voltei para a mesa ou fui para o quarto, com o estoque de bebidas perto do fim eu decidi que precisava buscar mais. Há uma semana que eu não passo uma noite sóbrio e ainda assim não tem sido fácil, não quero esperar pra ver como seria enfrentar a madrugada sem álcool.

Com a garrafa em umas das mãos, uma das mochilas nas costas e uma faca na cintura eu saí em direção ao carro para ver o que poderia encontrar. A priori eu não pensei em dirigir para longe mas a medida em que dirigia, e bebia, acabei me prolongando além do esperado.

Dirigi sem muita pressa até a cidade vizinha e como num balé orquestrado do destino minha garrafa acabou exatamente na rua, em que mais a frente, encontrei um depósito de bebidas.

Deixei o carro sobre a calçada e entrei na loja abandonada. O portão de ferro estava arrombado e de fora podia ver a completa bagunça em que se encontrava o local. Forcei um pouco o portão que estava emperrado pelo tempo e entrei.

Lá dentro pude ver muitos cacos de vidro espalhados pelo chão e algumas caixas de cervejas viradas. Tateei sobre as prateleiras procurando bebidas que pudessem ser ingeridas "quentes", não queria nada de cervejas ou vinho, minha preferência era por destilados. Me distraí enquanto vasculhava e selecionava as garrafas, o álcool em meu sangue também contribuiu para entorpecer meus sentidos, e quando menos esperei senti algo se agarrando às minhas costas.

Me inclinei rapidamente para frente e ao sentir que algo se aproximava do meu pescoço levantei as mãos e o que agarrei foram os cabelos de um mordedor. Evitei por centímetros que seus dentes se cravassem em meu pescoço.

Afastei a cabeça do zumbi para trás depois me inclinei o puxando para frente, fazendo assim com que o zumbi rolasse por cima de mim, cai junto com ele no chão e o desgraçado não parava a mandíbula quieta. Continuou a tentar me morder de qualquer maneira e ainda conseguiu rasgar parte da minha camisa com uma mordida, mas que felizmente não me alcançou.

Consegui me endireitar sobre ele e assim que pude saquei a lâmina da cintura e cravei em sua cabeça. Golpeei mais de três vezes seguidas, não foi apenas para certificar seu fim mas também para aliviar de alguma forma tudo o que se passava. O esforço de toda movimentação me deixou um pouco atordoado por alguns instantes e me sentei no chão ao lado do corpo do mordedor esperando os sentidos voltarem ao normal.

Logo estava novamente de pé, olhei para o interior da loja esperando a vinda de um próximo zumbi mas nenhum apareceu, então voltei as atenções para minhas bebidas. Arrastei uma cadeira, puxei uma das garrafas da prateleira. Me sentei e pus um dos pés sobre a cabeça do zumbi, com a faca suja de sangue ainda numa mão e o uísque na outra, eu comecei a beber.

Fiquei ali bebendo e olhando para o carro em frente à loja. Depois de algum tempo joguei a faca no zumbi que acabou cravando-se mais uma vez em seu crânio.

- Eu sou o único capaz de me matar, seu verme.

12/03/2019

Talvez começar a beber num lugar recheado de bebidas não fosse a decisão mais inteligente a se fazer e eu só me dei conta disso tarde de mais. Quando dei-me por mim já eram seis da manhã, e eu soube disso pelo som do sino de uma igreja próxima que me acordou.

O barulho fez com que eu despertasse repentinamente e por conta do último acontecido acordei em alerta, meu cérebro parecia estar com o gatilho pronto para o combate, mas não era a ocasião. Descansei a cabeça de volta sobre o balcão em que eu estava apoiado, mas logo minha atenção foi retomada.

Ouvi barulhos em frente à loja e assim que levantei a cabeça para olhar observei alguns zumbis parecendo pela rua, ao notar o número crescente deles eu me escondi por trás do balcão e me certifiquei de ficar no maior silêncio possível.

Permaneci imóvel e o mais quieto que pude, a última coisa que queria era atrair aquele bando de zumbis para a loja comigo lá dentro. E por sorte eles estavam mais preocupados com outra coisa. O barulho que me acordou um pouco antes também foi ouvido por eles e era este barulho que eles perseguiam.

Espiei esperando o bando passar e assim que tive certeza que todos eles se foram eu saí do depósito e fui até o carro, mas não dirigi para longe dali. Na verdade eu escolhi segui-los.

Não muito longe de onde estava eu os encontrei reunidos em frente a igreja em que o sino tocara, e a quantidade de mordedores era maior do que eu esperava. Pelo jeito grande parte dos zumbis da região foram atraídos até ali e isso me deu uma idéia.

Diário de Um SobreviventeDove le storie prendono vita. Scoprilo ora