15/11/2018

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Estou abalado, chocado, deprimido, não consigo encontrar palavras pra descrever o quão mal eu me sinto.

Há dois dias zumbis atacaram nosso acampamento. Já era madrugada e estávamos todos dormindo e tudo aconteceu muito rápido. As pessoas estavam dormindo em suas barracas e mal tiveram chance de se defender.

Foi por volta das 2h da manhã eu acho, estava dormindo no meu carro junto com meu pai e minha mãe quando escutei os primeiros gritos e disparos e acordei. Assim que olhei pro lado vi dezenas de zumbis invadindo o acampamento por todos os lados, um bando inteiro nos atacando.

Peguei minhas duas pistolas que estavam em cima do painel do carro e já desci atirando e meu pai veio junto comigo. Wendell, Carlos, Edinho, Igor e os outros já estavam em pé atirando e tentando levar as pessoas pro ônibus, mas eram muitos e tudo aconteceu rápido de mais. Estava escuro difícil de distinguir um humano de um zumbi no meio de toda aquela desgraça.

Pessoas foram mordidas, algumas correram desesperadas pro lado errado e se embrenharam no meio do matagal e foram deixadas pra trás, algumas acabaram sendo confundidas com zumbis e baleadas, um caos completo.

Eu tentei sem muito sucesso procurar a Izabel, Thamara, as garotas, minha avó. Era uma cena de horror, pessoas que eu conhecia mais uma vez morrendo de forma tão grotesca na frente dos meus olhos. Disparos e mais disparos com cérebros voando da cabeça de vários zumbis e cada vez mais deles aparecendo.

Eu vi Thamara sendo morta, Matheus sendo estraçalhado por essas coisas, Mauricio morreu, Rafaela também nunca chegou até o ônibus. Eu escutava as pessoas gritando e ouvia meu nome sendo chamado sem saber de onde, os sons dos disparos ainda ecoam pela minha cabeça.

As balas voavam das pistolas cada vez mais rápido em uma tentativa frustrada de acabar com os zumbis até que vi minha avó correndo em direção ao ônibus com a Jennifer no colo e três zumbis no seu encalço.

Recarreguei a pistola com meu ultimo cartucho e disparei em direção a ela, matei um dos zumbis e precisei me virar e livrar-me de um zumbi que por pouco não mordeu meu pescoço. Cai no chão e atirei na cabeça do zumbi que estava deitado sobre mim, joguei seu corpo para o lado e quando me levantei para ir em direção a minha avó, um zumbi a mordeu.

Ela ainda teve forças pra erguer Jennifer até as mãos de Igor que estava em cima do ônibus. Corri em sua direção e matei os dois zumbis que a mutilavam. Ela estava ensanguentada e quase morta quando cheguei até ela.

Eu tentava falar mais não tinha forças pra pronunciar uma única palavra, meus olhos derramavam lágrimas em cima dos ferimentos dela que já não se movia e tinha um olhar fixo e vidrado no meu rosto.

Perdi a noção de tudo e não conseguia ouvir nada nem perceber o caos que me rondava, pessoas continuavam a morrer uma por uma e eu agachado ao lado do corpo da minha avó. Alguns segundos depois um carro parou a meu lado e me puxaram para dentro.

Saímos de lá o mais rápido o possível e dirigimos até o amanhecer de ontem.

Paramos num posto de gasolina as margens da BR para tratar dos feridos e conferir nossas baixas que foram muitas.

Thamara, Matheus, minha avó, Angélica, Reinaldo, Rafaela, Mauricio, Amanda, Jéssica, Tainá e muitas outras pessoas, talvez 20 no total ou mais. E essas foram apenas as que não conseguiram sair do acampamento.

Carlos e Débora foram mordidos e morreram ontem à tarde. Meu Deus, eu quebrei a promessa a Kleber e a morte de Débora me atormenta ainda mais.

Ela foi mordida no braço e já sabia que iria morrer, seu organismo estava debilitado pela rotina desgastante e a grande de perda de sangue. Ela me pediu para acabar com seu sofrimento e atirar na sua cabeça, não fui capaz, mas isso não adiantou. Ela encontrou minha arma que eu havia largado em cima do balcão da loja de conveniência e deu um tiro na cabeça.

Minha mãe tentou cuidar de Carlos, mas ele se transformou a tarde e Wendell atirou na cabeça dele. O cara também deve estar desolado, além de ter que matar seu melhor amigo perdeu mais pessoas que todos nós. Pra piorar a situação sem os devidos cuidados Patrícia faleceu ontem à noite. Mais uma morte que assola nosso grupo em menos de dois dias.

Mortes, cadáveres, sangue, vísceras e cápsulas deflagradas, são as únicas imagens que me vem à cabeça. Depois do posto seguimos caminho e paramos em um albergue de quinta as margens da estrada. Tivemos que limpar o local e matamos alguns zumbis que estavam morando lá.

Foi especialmente difícil por conta do nosso estado de espírito, estamos todos deprimidos e sem esperanças. Eu sinceramente não consigo descrever o que sinto e o abatimento que vejo no rosto dos sobreviventes.

Cada um de nós perdeu alguém naquela noite e não iremos superar isso nem tão cedo. Meu pai veio falar comigo, Edinho, minha mãe, Wendell, Igor, Izabel. Isso de certa forma acabou nos aproximando por pena ou compaixão, não sei, mas estamos mais unidos agora.

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