- Você pode continuar agindo como o panaca beberrão que não dá a mínima pra nada, mas não ache que vai conseguir nada do que quer com isto. – Frank falou empurrando o arco contra meu peito. – Você acha que os homens do comandante dão a mínima pros seus probleminhas mentais? Acha que eles se importam com o que você sente ou quer deixar de sentir? Foi sua displicência que causou aquilo e se continuar agindo com um imbecil, não demorará a acontecer novamente. Boa sorte em mirar em alguém com as mãos trêmulas por conta do álcool.
Apertei com forças o arco e isso me ajudou a me conter. Fiquei bastante irritado com as palavras de Frank mas permaneci quieto, talvez não houvesse nada o que dizer.
Mais tarde no mesmo dia fui abordado por Frank enquanto eu estava comendo um pouco dos restos que sobraram do almoço. Não havíamos mais nos falado desde o atrito ocorrido mais cedo, nós dois passamos o dia até ali com cara de poucos amigos. Mesmo assim Frank decidiu passar por cima da situação para falar sobre o estado de Wallace.
- Seu amigo não está nada bem. – Ele disse puxando e sentando numa cadeira do lado oposto ao que eu estava na mesa. – Na verdade o quadro dele parece ter piorado.
- Você não tem nada aí para ajudá-lo?
- Não aqui. Talvez tenha algo em algum dos outros abrigos.
- Eu fico cuidando dele enquanto você busca então.
- Tudo bem. Ainda falta algum tempo até anoitecer, deve dar tempo de ir e voltar em algum mais próximo. – Frank disse apoiando na mesa para se levantar, mas interrompeu o movimento e voltou a sentar. – Aliás, como você fez aquilo com meu galpão?
- O quê? Qual galpão?
- Aquele que você encheu de zumbis. Deve ter sido trabalhoso.
- Foi um pouco, mas só por ter sido os primeiros. No terceiro eu já estava com a prática.
- Você encheu mais daqueles? Quantos?
- Uma dúzia. Talvez um pouco mais. – Empurrei o prato para frente após terminar de comer. – Não foram todos armadilhas pra você, eu apenas fiz.
- E o que você queria com isso? Não vai dizer que fez todo esse trabalho de graça.
- Eu pensei em usá-los como bomba de fumaça para distrair as defesas da cidade do comandante durante um ataque, mas foi apenas uma ideia mirabolante, não cheguei a criar um plano.
- Entendi. É arriscado mas não parece uma ideia tão ruim, podemos pensar no assunto.
- Podemos. Depois que deixarmos o Wallace numa melhor. – Falei levantando-me e encerrando o assunto.
Frank não demorou muito a partir depois disto. Ele não teria muito tempo se quisesse ir e voltar antes do cair da noite e creio que mesmo que tentasse não conseguiria.
Fiquei próximo a Wallace enquanto esperava a volta de Frank, mesmo que não tivesse muito que pudesse fazer por ele, não queria deixa-lo simplesmente sozinho. Me sentei ao seu lado com a última garrafa de uísque que me restava mas antes que comecei a beber senti uma necessidade interna em falar.
Mesmo não querendo admitir, as palavras que Frank me disse mais cedo tinham me acertado de alguma maneira e estando ali encarando o silêncio do fim de tarde não tinha como evitar tais pensamentos.
Encarei a garrafa aberta e a coloquei de lado quando olhei para Wallace, brinquei com a tampa em uma das mãos e em determinado momento comecei a falar, mesmo que ele não ouvisse era algo que eu precisava tirar de mim.
BINABASA MO ANG
Diário de Um Sobrevivente
General FictionNo ano de 2018 um tipo de praga ou infecção atacou a humanidade e nós nem ao menos sabemos de onde isso surgiu. Com a rápida degradação da sociedade e com o caos se instalando a única opção para mim e minha família é sobreviver a todo custo. nos aco...