23/03/2019(Continuação)

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- Você pode continuar agindo como o panaca beberrão que não dá a mínima pra nada, mas não ache que vai conseguir nada do que quer com isto. – Frank falou empurrando o arco contra meu peito. – Você acha que os homens do comandante dão a mínima pros seus probleminhas mentais? Acha que eles se importam com o que você sente ou quer deixar de sentir? Foi sua displicência que causou aquilo e se continuar agindo com um imbecil, não demorará a acontecer novamente. Boa sorte em mirar em alguém com as mãos trêmulas por conta do álcool.

Apertei com forças o arco e isso me ajudou a me conter. Fiquei bastante irritado com as palavras de Frank mas permaneci quieto, talvez não houvesse nada o que dizer.

Mais tarde no mesmo dia fui abordado por Frank enquanto eu estava comendo um pouco dos restos que sobraram do almoço. Não havíamos mais nos falado desde o atrito ocorrido mais cedo, nós dois passamos o dia até ali com cara de poucos amigos. Mesmo assim Frank decidiu passar por cima da situação para falar sobre o estado de Wallace.

- Seu amigo não está nada bem. – Ele disse puxando e sentando numa cadeira do lado oposto ao que eu estava na mesa. – Na verdade o quadro dele parece ter piorado.

- Você não tem nada aí para ajudá-lo?

- Não aqui. Talvez tenha algo em algum dos outros abrigos.

- Eu fico cuidando dele enquanto você busca então.

- Tudo bem. Ainda falta algum tempo até anoitecer, deve dar tempo de ir e voltar em algum mais próximo. – Frank disse apoiando na mesa para se levantar, mas interrompeu o movimento e voltou a sentar. – Aliás, como você fez aquilo com meu galpão?

- O quê? Qual galpão?

- Aquele que você encheu de zumbis. Deve ter sido trabalhoso.

- Foi um pouco, mas só por ter sido os primeiros. No terceiro eu já estava com a prática.

- Você encheu mais daqueles? Quantos?

- Uma dúzia. Talvez um pouco mais. – Empurrei o prato para frente após terminar de comer. – Não foram todos armadilhas pra você, eu apenas fiz.

- E o que você queria com isso? Não vai dizer que fez todo esse trabalho de graça.

- Eu pensei em usá-los como bomba de fumaça para distrair as defesas da cidade do comandante durante um ataque, mas foi apenas uma ideia mirabolante, não cheguei a criar um plano.

- Entendi. É arriscado mas não parece uma ideia tão ruim, podemos pensar no assunto.

- Podemos. Depois que deixarmos o Wallace numa melhor. – Falei levantando-me e encerrando o assunto.

Frank não demorou muito a partir depois disto. Ele não teria muito tempo se quisesse ir e voltar antes do cair da noite e creio que mesmo que tentasse não conseguiria.

Fiquei próximo a Wallace enquanto esperava a volta de Frank, mesmo que não tivesse muito que pudesse fazer por ele, não queria deixa-lo simplesmente sozinho. Me sentei ao seu lado com a última garrafa de uísque que me restava mas antes que comecei a beber senti uma necessidade interna em falar.

Mesmo não querendo admitir, as palavras que Frank me disse mais cedo tinham me acertado de alguma maneira e estando ali encarando o silêncio do fim de tarde não tinha como evitar tais pensamentos.

Encarei a garrafa aberta e a coloquei de lado quando olhei para Wallace, brinquei com a tampa em uma das mãos e em determinado momento comecei a falar, mesmo que ele não ouvisse era algo que eu precisava tirar de mim.

Diário de Um SobreviventeTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon