23/11/2018

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23/11/2018

Nem consigo acreditar em tudo isso que está acontecendo e no como tudo que planejamos simplesmente deu completamente errado. Essa viagem pela qual lutamos para conseguir alcançar a sobrevivência definitiva e finalmente momentos de paz e conforto completos foi na verdade o maior dos nossos erros.

Por que aquele maldito navio não estava lá? Por que não podemos ser felizes depois de tantos momentos de dor e sofrimento? Parece que quanto mais caminhamos em busca de sobrevivência mais nos distanciamos da nossa salvação.

O maldito navio não estava lá e com ele além de perdemos nossa esperança perdemos Luciano... O pai de Jotah necessitava de socorro médico especializado o mais rápido possível, pois só com o que tínhamos em mãos era impossível salvá-lo.

Pouco depois de passarmos a frente do porto e observar que o local estava completamente desativado e povoado apenas por zumbis Luciano teve uma parada cardíaca e não resistiu. Alessandra e Dayse tentaram reanimá-lo mas não havia mais o que fazer, não conseguíamos estancar o sangramento e continuar a doação de sangue seria inútil.

A morte dele foi a ultima pá de cal em cima da nossa fragilizada força de vontade em sobreviver e esmoreceu de vez todos nós.

Seguimos por um acesso lateral do porto que nos afastava dali. A quantidade de zumbis na área era assombrosa e não queríamos passar mais nem um minuto naquela armadilha mortal.

Seguimos por alguns minutos e enfim paramos numa zona com menos mortos-vivos. O corpo de Luciano estava em cima da caminhonete coberta por um pedaço de lona e Dayse se manteve sobre ele o tempo inteiro.

Descemos todos do carro, nos entreolhamos e nunca foi tão difícil pronunciar uma palavra como nessa hora. Após alguns instantes de silêncio Dayse se pronunciou e disse que deveríamos encontrar um local para enterrá-lo, admito que fiquei surpresa ao ouvir sua voz, apesar de trêmula e angustiada, era uma voz decidida. Não esperava que após tantas perdas ela ainda conseguisse manter-se sã.

Igor acenou positivamente com a cabeça e voltamos todos pros carros partindo novamente pela estrada em busca de um local minimamente apropriado para fazer o enterro.

Seguimos por uma rua até chegar numa grande avenida e continuamos por ela. Tínhamos o mar a nossa esquerda e prédios residenciais bem grandes a nossa direita, o tempo estava passando e a noite se aproximava rápido, nós precisávamos encontrar um lugar não só para enterrar o corpo de Luciano mas também para dormir e tínhamos que fazer isso bem depressa.

Continuamos nosso caminho pela avenida até chegarmos numa bifurcação, pegamos a via a direita que nos levou a um bairro residencial. Seguimos por algumas ruas e alguns zumbis apareceram pelo caminho, uns saíam de dentro de lojas, já outros de alguns carros espalhados pelas ruas e calçadas.

O sol já dava sinal de que ia se por quando Igor finalmente decidiu parar o carro. A rua era estreita, bem longa e arborizada. Um colégio com muros pintados com um azul bem forte e já tomados pelo lodo chamou minha atenção, pois se assemelhava um tanto com uma antiga escola em que estudei.

Enquanto eu estava parada ao lado do carro hipnotizada pelo colégio e pelas lembranças que me vinham à cabeça ao lembrar-se dele, Igor e os outros verificavam um pequeno prédio de apartamentos bem a nossa esquerda.

O prédio era pequeno mas bem atrativo, era envolto em pequenos azulejos brancos e azuis que estavam tão tomados pelo lodo quanto os muros do colégio um pouco adiante.

Alguns zumbis perceberam a movimentação e se aproximavam de nós, dei a volta no carro e peguei meu arco e algumas flechas e passei a acertar os zumbis que chegavam mais perto.

Poucos instantes depois Rodrigo apareceu em uma das pequenas janelas do prédio e nos mandou entrar. Alessandra foi à frente seguida de perto pelas meninas, depois meu irmão, Dayse e Castilho entraram carregando o corpo de Luciano e eu os segui logo após acertar uma última flecha bem no olho de um zumbi.

Fechei um pequeno portão branco e já bem desgastado pela ferrugem e Castilho me esperava na segunda porta que era bem em frente. Fechamos a porta e a escoramos com uma viga de ferro trazida por Leonardo e meu irmão.

O corredor principal é estreito e dá passagem as escadas que vão do térreo até o 3° andar. Tudo estava bem sujo e bagunçado, havia roupas e diversos objetos espalhados pelo chão e assim que cheguei ao primeiro andar vi Rodrigo arrastando o corpo de um zumbi morto em direção ao espaço abaixo da escada.

Igor após certifica-se que a porta estava bem fechada nos seguiu, tocou meu ombro e disse:

-Vamos passar a noite aqui hoje.

- O lugar é seguro? – pergunto.

- Sim. O único zumbi foi morto por Rodrigo.

Limpamos o que deu nos apartamentos em que iremos ficar enquanto a noite caía rápido.

Fiquei junto com meu irmão em um deles e os outros se separaram pelo prédio. Rodrigo se ofereceu para ficar de vigia, isso é bom, me sinto um pouco mais segura com um sentinela nos guardando.

Mas antes de dormir eu decidi ter uma conversa com Igor.

- O que aconteceu com meu arco? – pergunto.

- Como assim? Você não estava com ele ainda há pouco?

- Qual é? Não se faça de desentendido, só tinha um na mala do carro – falo isso aumentando o tom de voz.

- Izabel, calma...

- ME RESPONDA!

- Tudo bem, ouça...

Então eu o interrompo - Ele está vivo, não está?

- Estava – Igor responde – Da última vez que eu o vi sim, ele estava.

Uma lágrima escorre pelos meus olhos – por que você não me contou?

- Você teria vindo se eu contasse?

- Nós temos que voltar...

E dessa vez é Igor que me interrompe – Ele está morto Izabel... Morreu por Edinho, arriscou tudo pelo tio e perdeu.

- Mas você... – falo isso com os olhos cheios de lágrimas e um nó na garganta.

- Já chega! – Igor me interrompe novamente – Agora eu quero que você seja forte. Jotah morreu pela família dele e eu preciso que você viva pela sua.



Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now