Diário de Um Sobrevivente

02/01/2019(Continuação)

Quanto mais tempo eu passava parado ali tentando me livrar dos zumbis mais zumbis apareciam e eu comecei a perder as forças de tanto lutar contra eles. Três, quatro, cinco, seis zumbis em seqüência e eu esfaqueava e empurrava, socava, chutava e batia em tudo que se mexia perto de mim mas nada adiantava. Nunca enfrentei tantos mordedores assim de uma única vez e ainda por cima estando desarmado. Cada passo que eu dava tentando me afastar acabava interrompido por mais um mordedor querendo arrancar uma parte de mim.

Em certo momento fui cercado e briguei com dois mordedores ao mesmo tempo, afastando cada um com uma mão enquanto mais bichos se aproximavam ao meu redor. Não tinha idéias de como poderia sair vivo dali, até que dois faróis se acenderam entre as árvores na minha frente e tiros começaram a ser disparados.

Eu empurrei com todas as forças que tinha os dois zumbis que estavam mais próximos a mim e me abaixei para escapar dos tiros. Pude ver os mordedores ao meu redor serem atingidos e caírem no chão. E antes do meu próximo passo ouvi a voz de Frank falar:

- Vem logo pra cá! Vamos, agora!

Corri em direção aos faróis do carro e quando saí da frente dele pude ver Frank em pé ao lado da porta disparando mais duas vezes contra os zumbis. Entrei no carro sem dizer nada e Frank fez o mesmo e permanecemos assim enquanto ele nos tirava dali.

Fui à direção dos faróis por puro instinto e só depois de um tempo no carro, após a adrenalina baixar que eu me dei conta da situação. Acabei voltando para o lugar de onde eu estava fugindo.

O tempo em silêncio me fez pensar melhor na situação e eu percebo que me precipitei na hora de tirar minhas conclusões ao duvidar mais uma vez de Frank. Se ele realmente fizesse parte daquele grupo ele não teria motivo nenhum para me salvar pela segunda vez. Ainda mais depois de uma decisão estúpida como esta minha.

Eu havia adquirido um pouco de sua confiança e pelo jeito acabei perdendo totalmente ela mais uma vez e agora não sei o que fazer para consertar minha burrada.

O clima definitivamente não está dos melhores entre nós e Frank parece tão aborrecido que mal olha na minha direção. Eu sabia que aquele momento não passaria naturalmente caso nenhum de nós decidisse tomar iniciativa, então eu decidi falar.

- Pra onde estamos indo com tanta pressa?

- Saindo da cidade por conta do showzinho lá atrás.

- Saquei. E a propósito obrigado por me ajudar.

- O que vocês tava fazendo afinal de contas?

- Eu... – interrompi a frase por alguns instantes para pensar no que dizer. – Vi alguém no galpão, pensei que era um cara do grupo de reconhecimento ou algo do tipo e corri atrás dele. Esbarrar com você foi só coincidência...

- Você viu o que? – Frank perguntou me interrompendo.

- Alguém descobriu sobre seu galpão.

- Droga! Por que você não disse isso antes?

- Eu to dizendo agora.

- Espero que isso seja só uma desculpa burra para encobrir a merda que você fez.

- Estou falando sério. Alguém descobriu sobre você.

Eu não corri por ai no meio da noite só por causa daquele cara, a decisão que tomei de fugir aconteceu mesmo antes de vê-lo, mas omitir isso é minha única chance para tentar recuperar a confiança de Frank.

- Você tem certeza que não se confundiu? – Frank reforçou sua desconfiança.

- Ele estava dentro do galpão, Frank. Eu não sairia correndo por aí no meio da noite à toa.

- Então vamos ter que ir para mais longe do que eu esperava. Se eles realmente descobriram sobre um dos meus esconderijos, eles irão continuar caçando.

- Foi um erro vir até a cidade, não é?

- Nós dois erramos hoje. Só resta saber quanto isso irá nos custar.

- Te custou um galpão pelo menos.

- Foi. Mas aquele não é o único que tenho, precisamos estar mais atentos para que isso não ocorra de novo.

Em meio à confusão e também por conta de toda a desconfiança acabei perdendo a oportunidade de poder indagar sobre a saída de Frank, ou o motivo dele ter me trancado no quarto ou também sobre como ele sozinho conseguiu juntar todas aquelas coisas que tinham no galpão.

A cada demonstração do Frank que me gera confiança outra situação gerada por ele acaba por desmanchar o efeito anterior e pondero que o mesmo acontece com ele sobre mim.