24/01/2019

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Depois do contratempo na última cidade eu e Frank decidimos voltar a rotina de sempre de checagem dos abrigos e também das rondas para ver o que mais encontramos por aí, e eu sempre rezava para que encontrasse mais um daqueles grupos de buscas.

A essa altura já passamos a conferir novamente os mesmos abrigos de antes, o que passou a ser uma tarefa monótona e entediante. Em uma de nossas caminhadas nos deparamos com um frondoso pé de manga e eu tomei iniciativa em parar para colhermos alguns frutos.

Estávamos próximos ao primeiro esconderijo que Frank me apresentou, aquela cabana logo após o rapto de Barbara. Ele decidiu seguir caminho até lá enquanto eu fiquei atrás de colher os frutos. Passado uns 40 minutos e após encher metade de uma bolsa eu também partir em direção a cabana.

Ao chegar na cabana vi Frank sentado a mesa da cozinha e joguei a bolsa sobre ela, abri o zíper do bolso maior e tirei uma manga. Com a faca que retirei de outro compartimento da bolsa, comecei a descascá-la e após Frank também pegar uma e fazer o mesmo procedimento nós começamos a conversar.

- Falando sério, por que você deu o carro a eles? – Perguntei.

- Eu ser um bom samaritano não conta? – Frank respondeu num tom irônico.

- Qual é. Você não me ajudou de graça, por que faria com eles?

- É você pode ter razão...

- Qual o lance pra ter dado o carro?

- Despistar. Os homens dos grupos de buscas com certeza estão atrás daquele carro para tentar nos achar, agora mesmo que achem o carro não nos pegarão.

- Isso é maldade... – Salientei num tom sarcástico.

- Agora me convença que você não sabia o motivo.

- Foi você quem deu as chaves.

- Eu não os matei. Apenas fiz algo bom pra todos.

- Se você está dizendo... – Falei me levantando.

Levantei-me da mesa e fui em direção a porta da cozinha com as cascas da manga nas mãos. Abri a porta e assim que as joguei fora pude ver de relance algo por de trás de alguns arbustos próximos dali. Passei alguns segundos analisando melhor pra tentar distinguir o que poderia ser e acabei por decidir em checar mais de perto.

Assim que dei os primeiros passos na direção dos arbustos, quem estava escondido lá atirou contra minha direção. Me abaixei para tentar me proteger do disparo e assim que levantei a cabeça vi alguém correr dali.

- O que tá acontecendo, Jotah?! – Frank gritou de dentro da cabana.

- Tem alguém aqui traz a arma. – Me coloquei de pé e corri na direção do homem. – Traz a porra da arma.

Mesmo desarmado sai a toda correndo atrás do homem que já tinha conseguido abrir alguns metros de vantagem em relação a mim. Isso não me desestimulou e continuei na corrida atrás dele e assim que consegui diminuir a vantagem ele atirou novamente na minha direção.

Precisei parar e buscar abrigo atrás de uma arvore para não ser atingido, enquanto isso Frank vinha mais atrás tentando nos alcançar.

- Para seu desgraçado! Eu vou pegar você! – Gritei assim que voltei a correr.

O homem mesmo armado continuava a fugir de mim. Não sei se ele pensava que eu também estivesse armado, mas seria burrice não perceber que se eu estivesse já teria devolvido os disparos. Ou mais provavelmente ele soubesse da presença de Frank e quisesse evitar o confronto em desvantagem.

De qualquer maneira continuei a perseguição e mais uma vez o desgraçado atirou contra mim. Dessa vez quando parei para me abrigar Frank conseguiu me alcançar e antes que eu retomasse a perseguição ele me segurou e me impediu de continuar.

- Espera, não vai!

- O que? Ele vai fugir! Temos que ir!

- Ele já fugiu, Jotah.

- Do que você ta falando?

- Olha ele já está prestes a alcançar a cidade e com certeza não estará sozinho lá. – Frank disse apontando na direção do homem.

- Te pedi uma arma. Por que você não trouxe o rifle?

- Pelo mesmo motivo que você não estava com sua pistola. Agora vamos correr de volta a cabana e tentar alcançá-la antes que ele chegue à cidade.

- É alguém do grupo de busca, não é?

- Provavelmente alguém do grupo de reconhecimento, mas com certeza tá indo avisar aos outros amiguinhos dele que nos achou.

- Tá vamos embora.

Demos a volta e corremos com tudo de volta para a cabana. Precisávamos pegar tudo que podíamos e partir dali o mais rápido possível. Aquele abrigo acabara de ser comprometido então basicamente perderemos tudo o que ficar para trás e tudo o que não for essencial ficará, assim como as coisas que forem trabalhosas de mais para carregar.

Alcançamos o abrigo em tempo recorde e saímos de lá mais rápido do que entramos. Catamos as mochilas e tudo o que podíamos as pressas e nos embrenhamos no matagal próximo. A idéia não era se esconder ali, mas sim usar as árvores e a vegetação como cobertura pra nossa fuga. Seria muito mais difícil despistá-los em campo aberto, ainda mais que muito provavelmente aqueles infelizes devem estar em carros.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now