12/12/2018(Continuação)

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Edinho pôs-se a guiar o carro enquanto eu tentava acalmar Barbara no banco de trás e pra o nosso azar logo mais não seria apenas ela que precisaria se acalmar. Edinho parou logo depois que voltou a andar com o carro e eu não entendi o por quê.

- Por que paramos? – Falei em voz baixa para não chamar atenção de Barbara.

- Zumbis. – Edinho respondeu seco.

- Quantos são? – Eu ainda não havia parado para reparar no caminho. – Não dá pra passar por cima?

- Com esse carro não. – Edinho respondeu e logo após engatou a ré.

Eu levantei um pouco a cabeça e olhei por cima do ombro visando o vidro traseiro do carro e pude observar que a estrada atrás de nós também estava a se entupir de zumbis.

- Para. Melhor não dar ré.

- Está tão ruim assim?

- Péssimo.

Mal terminei de falar e o primeiro zumbi acertou a lateral do carro, batendo com os braços na janela do passageiro ao meu lado. Me assustei e voltei a debruçar-me sobre Barbara.

- Saí daqui. A gente precisa ir embora. – Falei me virando pra Edinho, que engatou a primeira marcha e arrancou com tudo.

A aceleração do carro nos fez recostar no banco e subir poeira da velha estrada. Enquanto avançávamos com o carro eu podia sentir o impacto e ouvir o barulho dos zumbis que acertávamos enquanto Edinho tentava nos tirar dali.

O carro tinha dificuldade em ganhar velocidade com todo aquele amontoado de mordedores a nossa frente e vez ou outra chegava a quase atolar quando algum zumbi caia por baixo da roda.

- Vamos conseguir passar? – Perguntei a Edinho.

- Não vai ser fácil mas vamos sim. – Ele respondeu em meio aos roncos fortes do motor.

Após alguns minutos de agonia e tensão nós finalmente conseguimos ultrapassar aquela barreira fétida de mortos-vivos. Olhei para trás e pude ver o bando se distanciar na direção a qual vinham os disparos. Voltei minha atenção para Barbara e ela ainda não me parecia muito bem. Não sabia que o ataque ao acampamento de refugiados havia a afetado tão drasticamente e espero que ela retorne a si rápido, pois eu não sei o que posso fazer para ajudá-la.

- Aquele bando estava seguindo o som dos disparos não é?

- Pelo jeito sim. – Edinho respondeu sem tirar a atenção da estrada. – Demos sorte de não terem sido tantos assim.

- Podem ser só uns desgarrados, um bando maior pode ter passado por aqui ou estar se aproximando.

- Quando foi que você ficou tão negativo?

- Não sei. Acho que foi depois da parte que as coisas pararam de dar certo. – Conclui e seguimos caminho.

Alguns minutos se seguiram em silêncio até Edinho tentar retornar algum diálogo.

- Acha que ela vai ficar bem?

- Vai sim. Só precisa de tempo, água, um pouco de comida e descanso.

- Na minha mochila aí atrás tem uma barra de cereais, dê a ela.

Tateei o piso do carro a procura da mochila e a encontrei, pus sobre meu colo e procurei nos bolsos até encontrar a barra dita por Edinho, ofereci a Barbara mas ela não fez menção alguma a responder.

- Ela não tá bem, não é? – Edinho disse após ver que Barbara não aceitou a comida.

- Não, mas vai ficar. – Falei devolvendo a barrinha à bolsa. – Quando achar um lugar decente acho melhor parar. Ela precisa de um pouco de espaço e descanso.

- Acha seguro parar por aqui? E sobre os tiros e o bando de zumbis?

- Estou tentando ser positivo.

Pouco menos de uma hora depois nós paramos ao lado de um pequeno barzinho abandonado a beira da estrada. Edinho escondeu o carro atrás do velho casebre e eu esperei no banco de trás com Barbara enquanto ele conferia o interior do lugar.

Com tudo limpo, Edinho deu o sinal e eu desci do carro levando Barbara junto comigo. Entramos por uma pequena porta nos fundos na qual Edinho nos esperava e nos acomodamos lá dentro. O local era bem pequeno e simples, mas com certeza melhor e mais confortável do que o carro.

Deixei Barbara numa cadeira e Edinho lhe deu um pouco de água, ela recusou a principio mas acabou aceitando. Depois eu tentei novamente lhe dar a barra de cereais e desta vez ela aceitou, ainda permanecia calada mas a expressão de pavor em seu olhar começava a diminuir com o passar do tempo.

Encontrei um saco de pipocas pendurado numa das prateleiras e o dividi com Edinho enquanto conversávamos.

- Você também acha que aqueles tiros têm ligação com o grupo que nos persegue? – Perguntei.

Edinho respirou um pouco, comeu duas das pipocas que tinha na mão e se apoiou com os cotovelos sobre a mesa antes de responder.

- Você não acha que já está ficando paranóico de mais em relação a este tal grupo? – Ele passou a mão no rosto coçando de leve a barba e continuou. – Nada nos dá a certeza de que tudo isso que aconteceu partiu do mesmo bando de pessoas. Já vivemos muito tempo nessa merda que o mundo virou e já encontramos muita gente por aí, o que mudou agora? Por que de uma hora pra outra você acha que todas estão interligadas?

- Não são todas as pessoas, é que... – Hesitei em responder, Edinho me colocou numa posição na qual eu não sabia o que dizer.

- A garota é inteligente. – Ele falou aproximando-se de mim. – Mas você não pode dar ouvido a tudo que ela diz.

- Não tem a ver com ela. É que toda essa série de ataques é estranha de mais. Esses caras são malucos de mais para pertencerem a vários grupos separados, acreditar nisto é atestar que todas as pessoas que sobraram por aí se tornaram psicopatas.

- Ou então elas agora são aquilo que sempre foram: pessoas. Suprimentos cada vez mais escassos, sem remédios, sem comida, sem um lugar seguro pra ficar, com os mordedores cada vez em bandos maiores e ainda mais famintos. É difícil manter a esperança e a boa conduta num mundo assim.

- Eles estão certos então?

- Não. Jamais. Só que um leão também não está certo quando ataca um filhote de búfalo, mas você acha que ele sabe ou liga pra isso?

- Somos animais então? Quer dizer que nosso destino é se tornar igual a eles?

- Eu não quero te assustar filho mas veja o que somos hoje. No começo nós não matávamos, depois só nos vingávamos e agora já atacamos. E usamos pra tudo isso a desculpa que estamos tentando salvar nossa família, já parou pra pensar qual desculpa eles dão a si mesmos?

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now