18/02/2019

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Pensei bastante naquilo que aconteceu há alguns dias. A imagem daquelas pessoas ainda está nítida na minha cabeça, assim como minha atitude com elas. Eu sei que não fui nada gentil, mas analisando bem, aquilo que fiz talvez salve suas vidas.

Imaginei nos últimos dias como seria se alguém tivesse feito isso por mim ou pela minha família. Se alguém tivesse nos avisado onde estaríamos nos metendo se seguíssemos por determinado caminho e como as coisas teriam sido diferentes se esse aviso tivesse acontecido.

Esses pensamentos martelaram minha cabeça durante o decorrer da noite ao ponto de eu mal conseguir dormir e cheguei à conclusão que eu talvez estivesse todo esse tempo gastando minha energia com a finalidade errada.

Eu não esqueci nem sequer por um segundo dos motivos que me trouxeram até aqui. O anseio de recuperar minha família e posteriormente o de trazer Barbara de volta me impulsionaram, mas a verdade é que há bastante tempo o desejo de vingança é o que realmente me manteve de pé.

Uma pequena parte no fundo do meu coração ainda nutri a esperança de conseguir fazer tudo dar certo no fim das contas, mas na realidade minhas atitudes a cada dia só reforçam a idéia de que é meu ódio o que me domina e motiva nessa jornada contra o comandante e também contra Frank.

Estive tão focado ultimamente em ferir e fazer mal a pessoas que não medi esforços pra isso e muito menos as conseqüências que seriam geradas. E talvez tenha sido todo esse meu ódio o principal causador dos problemas que venho carregando nos ombros como uma cruz. Demorei muito para perceber que não eram os problemas que me perseguiam, mas sim eu que os gerava.

Admito que cai em lágrimas ao me relembrar de tudo... De tudo que aconteceu, de todas as pessoas que se foram... E a culpa mais uma vez voltou a estrangular meu coração.

Minha estupidez e vaidade em querer me vingar e mostrar minha força sobre aqueles que de alguma forma me atacaram, de fato, foram mais danosas a mim e a todos que estavam ao meu lado do que qualquer inimigo jamais pudera ser.

Refleti sobre isso madrugada adentro com a solidão e a culpa como companhia e realizei no fim das contas que agi com o empenho certo, mas na direção errada. Já que não pude vingar com sangue aqueles que perdi, cabe a mim agora honrá-los evitando que mais vidas inocentes sejam perdidas.

Levantei antes do sol dominar completamente o horizonte e parti obstinado com a minha nova missão. Uma nova chama dentro de mim se reascendeu naquela noite e a sensação que tive ao ajudar aquela família foi a primeira coisa em muito tempo que conseguiu fazer minha dor diminuir por um instante.

Caminhei até sair da mata e fui de volta até o local onde havia deixado o carro. Dirigi pela cidade em busca de tintas ou algo que pudesse usar para deixar marcado em algum lugar mensagens de aviso. Algum tempo depois encontrei numa oficina automotiva algumas tintas em spray e era exatamente daquilo que eu precisava.

Sai de lá e logo ao chegar à entrada da cidade desci do carro e escrevi sobre a antiga placa de bem-vindo: "ESTE LUGAR NÃO É SEGURO."

Segui com o carro por outras regiões e entradas da cidade e fui deixando meus avisos em locais bem visíveis.

"OS ZUMBIS NÃO SÃO SUA MAIOR AMEAÇA, DÊ O FORA."

"HÁ HOMENS MAUS POR AQUI, SE AFASTE."

"NÃO ARRISQUE A VIDA DA SUA FAMILIA, NÃO HÁ NADA BOM POR AQUI"

Inúmeras e inúmeras mensagens espalhadas em todos os locais que pudessem ser vistos facilmente por qualquer um que passasse por ali.

Admito que nas primeiras vezes tive vontade de montar guarda e espreitar para ver se alguém dos grupos de busca apareceria para investigar as mensagens e eu então teria a chance de acertá-los, mas não sei bem o porquê desisti rapidamente da idéia.

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