12/12/2018(Continuação)

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- Opa! Agora as coisas estão ficando interessantes. Quem é o militar? – Lacerda perguntou.

- Você já escolheu a garota. – O capitão falou.

- É. Mas eu quero saber quem é o bosta do militar. – Lacerda disse se desencostando do carro. – QUEM É O MILITAR? Será que estão surdos?

- Eu... – Leonardo disse com uma voz tremula.

- Você? Então me mostra as mãos.

Leonardo demorou um pouco para fazer mas as mostrou.

- É com as palmas viradas pra cima sua anta! – Lacerda virou de costas pra ele e imediatamente apontou a arma em direção a Rodrigo mas antes que disparasse, uma flecha passou de raspão ao seu pescoço rasgando sua veia caródita.

Todos ficaram atônitos com a cena, inclusive eu, mas sabia que aquilo só podia significar uma coisa, meu irmão. Imediatamente me virei em direção a Dayse e Heloise que estavam ao meu lado e me debrucei sobre elas e houve um lapso de um ou dois segundos até que uma rajada de tiros saísse da direção dos arbustos.

A partir daí a zona de guerra estava montada, eu estava abaixada e não pude ver quem ou quantos foram acertados pela rajada de tiros inicial que deu seqüência para uma verdadeira chuva de balas para todas as direções. Me arrastei junto com Dayse e Heloise para trás da arvore mais próxima enquanto os disparos zuniam sobre nossas cabeças.

Gritos de dor, desespero e comando se confundiam com barulho alto que as armas dos mais variados calibres faziam ao disparar incessantemente suas munições para todos os lados.

- Fui ferido capitão! – Ouvi um dos homens gritar e eu rezava para que fosse o desgraçado do Luis.

- Eles estão por toda parte. – Outro homem falou.

- REAGRUPAR! – A voz indistinguível do capitão gritava. – Venham para o carro!

Eu estava abaixada, parcialmente debruçada sobre Dayse que por sua vez protegia Heloise, e tentava ver o que acontecia mas o caos era completo. Eu estava apavorada e isso só prejudicava meu raciocínio mas a priori tinham pelo menos três ou quatro corpos no chão e naquela bagunça era impossível distinguir quem eram.

Os homens sobreviventes se agruparam no carro e o usavam como escudo e a esse momento os disparos já haviam diminuído, mas não cessado, e um deles disse:

- Temos que ir embora capitão! Temos que ir antes que esses filhos da puta acabem inutilizando o carro.

- É isso ai capitão a gente ta morrendo aqui, vamos embora.

Os disparos continuavam em meio às frases até que ouvi o motor do carro ser ligado após uma breve pausa. Inclinei-me saindo um pouco de trás da arvore e pude ver o carro dando ré e Jennifer saindo de baixo dele.

Ela foi rápida o bastante pra sair de baixo do carro antes que fosse atropelada e assim que me viu correu desesperada em minha direção. Uma boa distancia nos separava e eu estendi a mão apenas para norteá-la e incentivá-la para vim até mim.

Eu tinha que fazê-la se focar em algo para que não visse os corpos, o sangue e toda aquela cena tenebrosa que estava ao seu redor. Vi em seus olhos todo o medo e o pavor que todos nós sentimos e ainda sim podia ver aquele raio de esperança e alegria em ver uma mão amiga.

E em meio a passos rápidos e desajeitados, quando ela levantou sua mão de encontro a minha, mesmo ainda estando distante, eu ouvi aquele ultimo disparo.

O estampido soou mais alto do que o barulho de todas as armas sendo disparadas juntas e eu vi seu corpo sofrer um tranco, suas pernas esticarem e seus pés tropeçarem um no outro, sua boca abriu e dela saiu apenas um som baixo e abafado, quase como de um suspiro, um último suspiro. Seu corpo já sem vida caiu ali, ao solo, com sua roupa encharcando de sangue, tanto seu quanto dos outros corpos a sua volta.

Um grito alto ecoou vindo de um arbusto próximo dali, era Castilho, que acabara de ver sua irmã ser assassinada a sangue frio com um tiro nas costas. O carro com os homens fugou rapidamente dali após essa terrível atrocidade e a essa altura já não havia como darmos atenção alguma a eles.

Corremos todos em direção ao corpo de Jennifer e Castilho foi o primeiro a chegar. Ele se jogou de joelhos ao lado do corpo da irmã e se debruçou sobre ela. Antes que eu conseguisse chegar até lá fui contida, segurada pela cintura pelo meu irmão.

Pude ver Dayse estarrecida ao meu lado enquanto tentava cobrir os olhos de Heloise para que ela não visse aquilo, meu Deus como eu queria que ela pudesse cobrir os olhos de todos nós.

Olhei em volta procurando os outros e tudo que via eram corpos, sangue, miolos, cápsulas deflagradas e armas jogadas no chão. Eu estava tão desorientada que nem ao menos conseguia lembrar quais rostos eu procurava em meio aquela carnificina.

Vi Rodrigo mais a frente com o rosto sujo de sangue e as mãos postas sobre a cabeça como quem não acreditava no que seus olhos lhe mostravam. Voltei minha atenção aos mortos e vi que Leonardo estava entre eles. Aquilo foi tão horrível, eu só pude o reconhecer pela roupa que vestia pois não havia mais rosto para ser identificado.

Eu desmoronei. Cai de joelhos no chão e vomitei logo em seguida, meu irmão que me segurava caiu junto comigo e se levantou logo depois. Castilho continuava em prantos sobre o corpo da irmã e a chacoalhava como se isso fosse a trazer de volta a vida. Ele repetia a palavra "não" inúmeras vezes e assim como todos nós não acreditava e nem aceitava aquilo que havia acontecido.

Meu irmão foi em sua direção para consolá-lo e eu continuei de joelhos tentando digerir tudo aquilo, e vi Rodrigo, ainda com as mãos na cabeça, fitar com olhos por entre todos aqueles corpos no chão tal qual eu fiz. O vi balançar a cabeça negativamente e apertar ainda mais o cabelo com as mãos, enquanto olhava para todos os lados a procura de mais alguém e eu me dei conta de quem estava faltando, meus pensamentos se confundiram com a voz carregada e desesperada de Rodrigo:

- Alessandra? Alessandra?! ALESSANDRA!

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now