12/12/2018

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O clima continuou pesado ontem durante o resto do dia mas com o passar do tempo parece estar amenizando. Edinho está mais calmo e ele já deu a entender que quer uma conversa para deixar todos os nossos próximos passos bem claros para todos.

Com tudo estando mais estável pela manhã nós decidimos nos reunir e decidir o que fazer a partir de agora. Edinho aceitou a hipótese levantada por Barbara só que ainda não sabemos o que fazer com isso.

Edinho pretende ser mais incisivo quanto à investigação sobre o grupo que nos ameaça e quer retornar pelos caminhos feitos por nós para conseguir bater de frente com mais algum de seus homens e tirar as informações diretamente deles. Já Barbara e eu preferimos manter distância por enquanto e deixar pistas para que eles venham atrás de nós, assim poderemos ter uma noção melhor de quão fortes são.

A discussão seguiu por quase uma hora. Eu disse a Edinho minha idéia, de que todos esses ataques sofridos por nós foram protagonizados por um único grupo, e Barbara me ajudou a montar uma espécie de mapa ilustrativo para termos noção se de fato era possível.

Usamos a mesa como base e alguns objetos aleatórios como tampas e papeis amassados para servirem como pontos de referência para os ataques que sofremos. Apesar de não termos um mapa exato da região ainda assim conseguimos notar que os ataques que sofremos seguiram uma linha curvada quase dando a volta completa em nós.

Se chegamos a conclusão certa estamos cercados por três direções: norte, sul e oeste. Restando apenas o litoral como zona livre e ainda assim, para chegar até lá, teríamos que passar por áreas que são dominadas, ou pelo menos patrulhadas, pelo grupo em questão.

Pelo visto quanto mais avançamos para o interior pior as coisas vão ficando. As ameaças foram aumentando gradativamente a cada cidade que passávamos e começo a ter receio sobre o que mais encontraremos pela frente.

Desviamos um pouco do caminho ao interior quando fugíamos pra cá e pelo que estou vendo vamos acabar seguindo essa pequena estrada em direção mais ao sul, seguindo a direção da nossa fuga, até acharmos seguro rumar novamente ao oeste e assim procurar confirmar nossas suspeitas sobre o domínio deles.

Vai ser complicado conseguir as informações que queremos sem nos arriscarmos de mais e o primeiro passo para evitarmos surpresas é conhecer a região que nossos inimigos ocupam. Conseguindo descobrir até onde o território deles alcança e sabendo como funcionam os perímetros de patrulhas que eles provavelmente fazem, nós teremos vantagem na hora de escapar ou se precisarmos atacar de surpresa.

Eu ainda torço para estar errado e que de fato haja vários grupos ao invés de um único mas não podemos confiar nossas vidas na minha torcida.

Depois de decidido o caminho a se tomar, preparamos as coisas, arrumamos nossas mochilas e seguimos pro carro. Nesse tempo em que ficamos escondidos na pousada não ouvimos o barulho de nenhum veículo nas redondezas e isso nos aliviou um pouco mas ainda assim estamos bem atentos.

Continuaremos pela pequena estrada que vínhamos e vamos sempre evitar as grandes rodovias ou estradas principais, isso vai facilitar que permaneçamos abaixo do radar. Muito provavelmente agora eles devem estar vindo com tudo para cima de nós, então todo cuidado é pouco. Já perdemos Natalia para eles e eu não quero que mais algum de nós seja morto.

Edinho seguiu ao volante comigo no carona e Barbara se acomodou no banco de trás. Conversávamos menos que de costume e depois de algum tempo na estrada eu passei a zapear o rádio do carro tentando encontrar algum sinal. Já havia perdido esse costume há tempos mas como o silêncio no carro me incomodava foi a única solução que achei.

Alguns minutos de ruídos e estáticas se passaram até que Edinho desligou o som, eu o olhei com uma expressão de indagação mas antes de começar a falar eu ouvi algo.

- Espera, vocês ouviram isso?

- O quê? – Edinho perguntou.

- Eu to ouvindo alguma coisa. Para o carro. – Reforcei.

- Jotah eu não vou parar o ca...

- Sshh. – Falei o interrompendo.

Edinho fez silêncio e logo depois Barbara se pronunciou.

- Eu também estou ouvindo.

- São... – Um som agora mais nítido ecoou - Disparos. – Eu e Edinho falamos quase na mesma hora.

- Agora você ouviu, né?

O som das rajadas era inconfundível apesar da longa distância que parecia estar de nós. Era apenas o eco arrastado a nós pelo vento que conseguíamos ouvir mas foi o suficiente para nos deixar preocupado.

O primeiro pensamento que veio a minha cabeça foi a possibilidade de ser a nossa família os protagonistas dos disparos, os alvos, ou ambos. Senti um aperto no peito, mas pela quantidade de tiros que ouvíamos e também pela diversidade no som, aparentava serem disparos de inúmeras armas e dos mais variados calibres e o nosso grupo não detinha tantas delas assim.

Eu e Edinho ficamos nos olhando como se cada um de nós esperasse qual reação o outro iria tomar e permanecemos assim por alguns instantes até eu notar a expressão de pavor no rosto de Barbara.

- Ei, ta tudo bem com você? – Perguntei mas não obtive resposta.

- Barbara? – Edinho quem falou desta vez e também não teve resposta. – O que ta acontecendo com ela? – Ele perguntou ao se virar para mim.

- Eu não sei... – Falei enquanto pensava no que estaria acontecendo com ela.

- As mãos dela estão geladas.

Eu estava tentando ligar as coisas e entender o porquê dela estar tão apavorada e aí eu me lembrei do ataque que ele havia sofrido no campo de refugiados na Síria. Talvez o som dos disparos que acabamos de ouvir se assemelhassem com os do dia do ataque ou algo do tipo. Ao perceber que talvez pudesse ser isto eu imediatamente saí do carro e fui para o banco de trás ao seu lado.

- Vai ficar tudo bem, tá me ouvindo? Tá tudo bem. – Falei a abraçando.

- O que tá rolando? – Edinho perguntou.

- Não é conversa pra agora.

- Jotah... – Barbara disse em tom muito baixo e com a voz tremula. – Me tira daqui.

- Vai ficar tudo bem. – Respondi a ela e acenei com a mão para Edinho seguir em frente.

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