O local realmente parecia perfeito por fora, e seria se o andar térreo não estivesse cheio de zumbis.
Ontem quando paramos usamos a caminhonete como calço para alcançar a varanda do primeiro andar e ter acesso ao prédio. Assim que entramos vasculhamos o primeiro andar que aparentava um bom estado, mas não parecia que alguém vivesse ali. Estávamos satisfeitos com o lugar e já tínhamos começado a tirar um pouco da poeira das camas e sofá enquanto Barbara foi conferir o térreo e pra nossa surpresa ela voltou para nos avisar que lá embaixo estava cheios de zumbis.
Pensamos em sair do apartamento e voltar a estrada mas a noite não demoraria muito a chegar e pensamos mais uma vez nos homens que estão nos perseguindo e lá fora pareceu ser mais perigoso que aqui. Barbara disse que não havia tantos zumbis assim lá embaixo mas pelas janelas e portas estarem fechadas não há luz nenhuma e seria arriscado de mais descer lá para matá-los.
A solução foi escorar bem a porta que dá acesso ao primeiro andar e tratar de fazer o mínimo de barulho possível. Já que não vamos passar tanto tempo aqui, esta parece ser uma solução que veio a calhar.
Depois que já estava certo que ficaríamos aqui mesmo eu sentei no sofá para descansar e na medida em que a adrenalina foi deixando meu sangue a dor do meu ferimento voltou a atacar. Avisei Barbara sobre a dor e ele me deu uns comprimidos que me fizeram adormecer e acordei apenas hoje.
Assim que acordei senti um cheiro diferente, fazia tempo que eu não senti algo assim. Era um cheiro bom, parecia que algo estava sendo assado.
- Tem alguém aí? Que cheiro é esse?
- Olá dorminhoco. – Natalia disse enquanto vinha da varanda junto com Edinho.
– É uma surpresa que Barbara está fazendo pra nós. – Edinho continuou.
- E o que é?
- Pão. – Barbara falou enquanto saía da cozinha.
Alguns segundos depois estávamos todos reunidos na sala.
- Como você fez pão? – Perguntei.
- Com um pouco de trigo, água, sal...
Ela saiu detalhando os ingredientes e modo de preparo como se eu fosse uma dona de casa que tivesse perguntado sobre alguma receita, todos riram de mim.
- Incrível. – Respondi sarcástico.
- Relaxa nervosinho. Daqui a pouco vai estar pronto. – Barbara terminou a brincadeira e eu voltei a me deitar.
Edinho e Natalia continuaram um pouco por ali e depois eu não os vi mais. Não sei se dormi ou apenas me distrai um pouco mas quando me dei conta estava sendo cutucado por Barbara.
- Acorda. O pão está pronto.
Ela saiu na frente e um pouco depois eu a segui até a cozinha onde Edinho e Natalia já estavam, e eles comiam uma massa estranha, meio branca meio dourada que eu torci pra não ser o pão que Barbara havia anunciado.
Fiz uma cara de nojo para o pão quando percebi que Barbara me olhou, fiz apenas para provocá-la porque na verdade eu estava morrendo de fome.
- O que foi? – Ela disse.
-- Não sei. Só estou procurando o pão que você falou que tinha feito. – Dei uma leve pausa na fala e apontei pra mesa. – Porque aquilo não é um pão, ou é?
Mesmo com a boca cheia, Edinho e Natalia não conseguiram conter a risada. E eu também não fiz questão de esconder a graça que achei da minha própria brincadeira. Já Barbara esboçou um sorriso frio e forçado e me olhou como se quisesse me matar.
- Ela vai matar você. – Natalia disse corroborando minhas suspeitas.
Levantei as duas mãos em sinal de rendição e me sentei à mesa.
- Ela sabe que é só brincadeira. O pão deve estar ótimo. – Conclui.
Continuamos a brincadeira na cozinha por mais alguns minutos. E sabe? A comida, as risadas e aquele pequeno tempo ali juntos foi revigorante.
Depois que terminei de comer fui até a varanda ver como as coisas estavam lá fora e não demorou muito pra Edinho me acompanhar.
- As garotas são legais, mas temos que seguir nosso caminho. – Edinho disse assim que chegou.
- É eu sei. Mas estava pensando nos caras que nos atacaram.
- Você roubou um dos carros deles, nós também atacaríamos.
- É, mas e se eles realmente voltaram lá a nossa procura?
Edinho apenas concordou com a cabeça e não parecia querer prosseguir a conversar naquela direção. Mas eu insisti.
- Enfim, não é sobre isso que eu quero falar, é que... – Dei uma pequena pausa e continuei. – Eu vi um deles. Na hora que roubamos o carro tinha um deles lá.
- E o que tem?
- As roupas do desgraçado estavam mais limpas do que as minhas eram antes do apocalipse.
Mesmo eu falando isto sério Edinho riu da situação, então apenas ignorei e continuei.
- O cabelo dele estava bem cortado, barba feita e dentro da droga desse carro não tinha uma mochila sequer, nem algum galão de gasolina ou ao menos suprimentos.
Ao perceber onde eu queria chegar Edinho mudou a feição e passou a falar sério.
- Não são nômades. – Ele concluiu minha linha de raciocínio. – Acha que estão fixados por aqui?
- Apenas fixados? Não. Não é como se tivessem um acampamento, eles devem ter alguma instalação, e funcional.
- Um prédio ou algo do tipo?
- Não sei, mas é algo grande e com muita gente.
- Acha que são militares?
- Não. Não parecem tão organizados assim, mas são perigosos.
- Você precisa tirar esse carro da rua. – Edinho disse se desencostando da sacada e voltando pra sala.
- Pensei que você quisesse ir embora.
- Eu quero, mas preciso pensar. Guarde o carro.
Não foi difícil pensar num jeito de esconder o carro e ainda por cima conseguir resolver outro problema nosso, eu só precisaria da chave daquelas portas metálicas lá de baixo. Pedi a ajuda de Barbara e Natalia para vasculhar o apartamento em busca das chaves enquanto Edinho se isolou em um dos quartos. Depois de alguns minutos de procura nós a encontramos e eu contei meu plano a elas.
Nós três desceríamos de volta pra rua e Natalia abriria uma das portas e correria pro carro, onde eu estaria em cima da caçamba esperando os zumbis com o arco e flecha na mão, e Barbara pronta no volante para caso precisássemos nos afastar um pouco dali. Assim que os zumbis saíssem eu os acertaria com as flechas e depois era só conferir se não ficou mais nenhum lá por baixo e enfim por o carro pra dentro.
As meninas concordaram com tudo e não tivemos dificuldade em executar. Só havia sete zumbis na lojinha do térreo e ainda bem que eram poucos, pois depois da quinta flechada meu ferimento no peito já estava minando sangue.
Depois que guardamos o carro a única coisa que eu queria fazer era subir e deitar. Barbara refez meus curativos e me deu mais algumas pílulas. As garotas queriam vasculhar as coisas lá embaixo mas eu não tive animo, pra mim acabou por hoje.
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Diário de Um Sobrevivente
General FictionNo ano de 2018 um tipo de praga ou infecção atacou a humanidade e nós nem ao menos sabemos de onde isso surgiu. Com a rápida degradação da sociedade e com o caos se instalando a única opção para mim e minha família é sobreviver a todo custo. nos aco...