01/04/2019

600 48 5
                                    


01/04/2019

Meus dias aqui continuam os mesmos. Nunca mais vi o Comandante desde o dia em que sair daquele quarto em seu prédio. Continuo fazendo meu trabalho de limpeza mesmo contra minha vontade de espírito, tive poucos contatos com Dayse, basicamente nos vimos no horário do almoço e ela parece estar bem ocupada, nem sequer chega a almoçar no refeitório apenas pega uma marmita de comida e sai.

Também pude ver Alessandra esses dias e ela está trabalhando no refeitório mesmo como Rayssa disse, mas também não tive oportunidade para que conversássemos. Não me sinto livre e nem poderia me sentir mas o pior é que na verdade me sinto tão presa como nunca ao ver que as pessoas simplesmente aceitaram essa condição ridícula de se submeter ao Comandante. E ainda pior é perceber que por mais que eu não queira acabo me parecendo com elas fazendo um maldito trabalho pro Comandante mais uma vez.

Mas apesar de tudo parece que algo de bom pode acontecer, meu irmão me deixou um recado. Ele disse que está planejando algo para nos tirar daqui. Tenho medo de que isso acabe dando errado ou alguém descubra o que ele pretende fazer mas acredito no meu irmão e essa esperança é a única coisa que me mantém em pé.

02/04/2019

Eu tive uma idéia para poder ter um tempo com Dayse, ainda não tivemos a chance de conversar e eu quero saber como ela está e também preciso contá-la sobre Igor, sobre seu plano de nos tirar daqui. Sei que ela não está feliz com essa vida e a chance de sair desse lugar deve animá-la tanto quanto a mim.

Faltei ao trabalho hoje e fingirei que estou doente para que assim eu seja levada a ala médica e lá darei meu jeito de encontrá-la. Eu sei que se eu não aparecer pra ocupar minha função alguém virá aqui tirar satisfações, agora é só bolar uma forma de fingir uma doença e esperar.

Próximo ao horário de almoço alguém bate a minha porta, era Rayssa:

- Abra! Eu sei que você está ai. – Ela disse após algumas batidas na porta.

Demorei alguns instantes pra atendê-la tentando fingir que estava com dificuldades de chegar até a porta e a abri lentamente:

- O que foi? Algum problema? – Falei com a voz arrastada.

- Por que você está assim? O que aconteceu com você?

- Estou doente. Não tem como ir a minha função hoje.

- Doente? Conversa sua! Entre ai – ela disse me empurrando com uma mão. – quero lhe dizer unas coisas.

- O que você está fazendo?

- O que eu estou fazendo? – Rayssa jogou alguns papéis em cima da mesa. – Eu que pergunto o que VOCÊ está fazendo?! Reconhece essas coisas?

Eu já imaginava o que seria pois os papéis eram bem parecidos com os dos bilhetes de Igor, mas ainda assim tentei me fazer de desentendida.

- Não faço a mínima idéia do que é isto. – Disse folheando os bilhetes sem ao menos ler.

Não fazia a mínima idéia de como ela tinha conseguido interceptar os recados, nem sequer sabia que Igor havia enviado tanto deles. Eu queria muito ler e saber do que se tratava, mas se fizesse, seria ainda mais difícil convencê-la que eu não sabia de nada.

- Mentira. – Rayssa disse puxando os bilhetes da minha mão. – E por que você não compareceu a sua função hoje?

- Estou doente já disse.

- Doente? A quem você pensa que engana?

- Não sabia que você era médica. Se é tão boa em diagnósticos devia ter sua função na ala médica.

- Você é bem insolente.

- Obrigada.

Ela virou de costas pra mim e se voltou em direção a saída enquanto colocava os bilhetes de volta no bolso de trás. Enquanto seguia no caminho à porta ela disse:

- Apareça no refeitório amanhã logo ao amanhecer.

- Pra quê?

- Só apareça.

- Pra ser feita de besta como no dia do auditório?

- Se você não estiver lá ao amanhecer garanto que a conversa que teremos com seu irmão será bem menos amigável.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now