07/12/2018

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Saímos da casa do Drácula ontem por volta de meio dia e seguimos caminho na nossa viagem. Dormimos numa pequena pousada de beira de estrada e retomamos o percurso logo pela manhã. Não tínhamos parado muito para vasculhar as cidades até então, em algumas passávamos apenas com o carro por unas ruas principais e torcíamos para achar algo, e em outras nem sequer parávamos.

Fizemos isso não porque não queríamos encontrá-los, mas exatamente pelo contrário. Pensamos que eles devem ter voltado pro interior e com todos esses dias de vantagem que têm sobre nós, não podemos perder tempo.

Mantivemos esse ritmo até chegar próximos de Caruaru. É uma cidade com um porte considerável e pelo jeito dos olhares que vi no carro nós não vamos simplesmente passar direto dessa vez.

Uma cidade desse tamanho nós já vimos que abriga vários perigos além da quantidade alta de zumbis, só que ao mesmo tempo sabemos que são em cidades assim que conseguimos os suprimentos mais valiosos, e eu sei que se Igor passou por aqui, ele teve esse mesmo pensamento.

Após mais alguns olhares e meia dúzia de palavras decidimos que deveríamos fazer uma buscar pelo menos por parte da cidade, ver como as coisas estão por aqui e procurar algum sinal da nossa família. Eu sei que é como procurar uma agulha num imenso palheiro mas é a única opção que temos.

Assim que chegamos até a cidade nos deparamos com um cenário não muito diferente do que estamos acostumados a ver sempre. Entradas parcialmente bloqueadas, uma imensidão de carros abandonados por pessoas que tentavam desesperadamente fugir daqui e uma quantidade considerável de zumbis perambulando pelas ruas.

Já dentro da cidade passávamos pelas ruas numa velocidade média, baixa o suficiente para olhar cada detalhe possível e alta o suficiente para os zumbis não nos alcançarem. Além da nossa família, nós também buscávamos por suprimentos, não só alimentos e água, mas também medicamentos básicos e principalmente gasolina.

Teríamos sorte se todo carro abandonado que avistássemos tivesse gasolina mas, por exemplo, os carros da entrada da cidade estavam queimados em sua maioria então não teria nada lá para nós. Já os que vemos dentro da cidade, não paramos nos que já têm a entrada do tanque aberta, isso quer dizer que já foram saqueados e também não haverá nada de útil neles. Restando como nosso grande trunfo, os carros na garagem. Esses normalmente estão em melhor estado e a chance de encontrar um desses ainda com gasolina é muito maior.

Os postos de gasolina secaram antes mesmo do resto das coisas caírem então muitas vezes nem consideramos como uma opção, mas ainda assim vale à pena parar em um ou outro. Basta rezar um pouco pra ter sorte, senão com a gasolina, ao menos com a loja de conveniência.

Fazia cerca de uma ou duas horas desde que entramos na cidade e não vimos muito sinal de nada. O que mais vimos foram zumbis e sujeira, mas ainda conseguimos algumas pilhas e baterias numa lojinha e um pacote de amendoins. Além de um único carro com gasolina que ao menos recompensou o que gastamos até agora rondando por aqui.

Antes de darmos o fora Edinho deu a idéia de subirmos em algum prédio um pouco mais alto e dar uma olhada de cima no que há ao nosso redor. Não acho que teremos mais sorte vendo de cima do que seguindo aqui pelas ruas, mas é aquilo, não custa nada tentar.

Dois quarteirões depois de Edinho dar a idéia nós paramos. Um prédio bem mais alto que as construções ao redor nos chamou atenção. Além da altura, a arquitetura nos fez olhar com mais interesse, a face que dava para rua possuía uma leve curvatura que fazia o prédio ficar mais esbelto e combinava bem com seu revestimento em ladrilhos brancos e verdes. Aquilo por um momento me fez sentir que se não estivéssemos em um fim do mundo zumbi, aquele seria um ótimo lugar para morar.

Investimos com o carro contra o portão do prédio e não foi difícil quedá-lo, não por completo, mas apenas forçamos o suficiente para o portão cedesse o bastante para conseguirmos entrar.

Após passarmos pelo hall de entrada e subirmos intermináveis lances de escadas enfim alcançamos o topo. Admito que eu passei a considerar aquela como uma péssima idéia quando passávamos mais ou menos pela metade do prédio, mas ao ver tudo aqui de cima eu não me arrependo do esforço que fiz.

O prédio realmente dá uma vista em 360° de tudo ao nosso redor e passamos a observar tudo que podíamos em busca de qualquer sinal que nos interessasse. Barbara estava com a mira telescópica do rifle de Adônis e ela fazia o reconhecimento mais detalhado quando algum de nós achasse que tinha visto algo.

Assim ficamos por um tempo até Edinho enxergar um carro na garagem de uma casa a uns quatro quarteirões de distancia. Barbara usou a mira e conseguiu ver que o carro estava em bom estado, sem vidros quebrados e com os pneus cheios.

Era uma chance, um sinal. Poderia ser nossa família que estava ali. Edinho me alertou sobre a diferença dos carros, ao contrário do EcoSport e da ranger que esperávamos, o carro que Barbara enxergou era um HR-V, mas aquilo não me desanimou. Os nossos carros já vinham apresentando problemas e eles podem ter os abandonado quando encontraram este em melhor estado.

Passamos a conversar sobre o que fazer e isso serviu para diminuir meu ímpeto inicial e me fazer pensar melhor. Realmente a chance de aquele carro ser de qualquer outra pessoa é muito maior do que ser do nosso grupo, só que ainda assim eu queria arriscar, e os outros também.

Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now