29/11/2018

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Adormeci ontem após receber os cuidados de Dayse, a bala não ficou alojada então ela apenas limpou o local e fez alguns curativos. Tomei alguns analgésicos também e talvez tenha sido isso que me fez dormir junto ao cansaço de todo aqueles esforço e tensão.

Meu irmão também precisou de cuidados, eu o vi com as mãos enfaixadas quando veio ao meu quarto saber se tudo estava bem. Eu não diria que as coisas estão bem, aquilo que aconteceu ontem foi terrível e por muito pouco as coisas não acabaram bem pior.

Eu quase morri lá, todos nós quase morremos na verdade e eu ainda matei duas pessoas, nunca havia feito isto antes. Realmente na hora eu não tive remorso algum mas agora eu penso e as cenas não saem da minha cabeça, as mortes, o sangue, os tiros, as palavras deles e as minhas ficam ecoando na minha cabeça o tempo inteiro. Eu sei que não foi a primeira vez que eu vi tudo aquilo mas está inserida na situação como eu estava torna tudo mil vezes mais desagradável.

Tenho tanta coisa bagunçando minha cabeça agora que não consigo mais dormir. De todos os problemas a dor do ferimento é o menor deles, eu só consigo pensar em quantos mais grupos hostis iremos encontrar por aí e ainda pior é pensar em quando isto pode acontecer. Não sabemos quem aqueles homens eram e se fossem apenas um grupo de busca como o que fazíamos para vasculhar as cidades e locais que queríamos entrar deve haver um número ainda maior deles em algum lugar próximo daqui.

Eu tenho medo de que eles possam vim aqui e tentem terminar o serviço. Por mais que tenhamos vencido ontem não podemos esquecer que agora somos um grupo pequeno e fraco e não teríamos chances contra um grupo bem maior e mais armado do que nós.

E pensar sobre isto me fez lembrar-se das armas daqueles desgraçados que nos atacaram. No momento eu nem parei pra pensar sobre elas mas agora com a situação mais controlada isto veio a minha mente, não sei quantas armas são nem o modelo delas mas me parece ser uma boa ir pegá-las e que seja o quanto antes possível.

É madrugada ainda e desta vez estou só no quarto, não sei onde Alessandra está. Estou sozinha como sempre que é quando gosto de escrever aqui e agora eu voltei a pensar no Jotah, e se ele e Edinho foram atacados por esses caras? Droga! E eu acho que não estamos tão longe de onde perdemos o contato com os dois, eles são muito espertos para terem tido problemas com os mordedores, talvez não tenham voltado porque tiveram problemas com esses desgraçados malditos. Eu preciso ir atrás deles.

Droga eu tenho que ir atrás deles, já passou tempo de mais como pude não ter feito isso antes... Eu sei que ninguém apoiará minha decisão e não posso cobrar isto deles mas é algo que eu tenho de fazer, até porque quando eu trazê-los de volta teremos mais gente novamente no grupo. Não é só por mim e sim por todos nós, eu tenho que fazer.

Essa é minha melhor chance de ir atrás dele, apesar da minha perna machucada ainda consigo andar mesmo que mancando e agora tenho um carro e armas que não farão falta ao grupo no tempo que eu estiver fora. Eu posso fazer... Eu vou fazer isso.

Estou me aprontando para sair, peguei a mochila do Jotah que estava no meu quarto e pus algumas mudas de roupa, também peguei os analgésicos deixados por Dayse em cima do criado mudo e meu arco com o estojo de flechas que foi deixado provavelmente por Castilho ao lado da cama.

Caminhei devagar pelo quarto, tanto pela dor quanto pela precaução de fazer o mínimo de barulho possível. Depois do que aconteceu com certeza meu irmão está de vigia ou colocou alguém pra ficar alerta enquanto dormíamos. Fui até a porta do quarto que estava entreaberta e fitei o corredor antes de sair, estava vazio então eu segui.

Caminhei lentamente pelo corredor escuro, a única luminosidade vinha da clarabóia da sala que ficava alguns metros a minha frente e tinha que ser o suficiente para me guiar já que ligar a lanterna denunciaria minha saída. Após alguns passos ouvi barulhos vindos do quarto um pouco a minha frente e me esgueirei pra dentro do banheiro a minha esquerda.

Tentei observar pela fresta da porta e vi duas pessoas saindo do quarto, mas estava muito escuro para saber quem era, ouvi os passos descendo a escada e esperei mais alguns instantes para poder sair do banheiro e seguir a diante.

Desci cuidadosamente as escadas me apoiando no corrimão para evitar por peso em cima da perna ferida, ali a claridade já era maior e qualquer um que aparecesse na sala conseguiria me ver de onde eu estava então tive que me apressar. Ouvi barulhos na cozinha e isso me fez apressar-me ainda mais, assim que desci me agachei atrás do sofá e esperei por algum tempo.

Agachada atrás do sofá devidamente escondida pude me atentar ao barulho e percebi que eram vozes, eram as vozes de Rodrigo e Alessandra, o que será que fazem acordados há essa hora? Será que meu irmão os colocou como vigias hoje ou simplesmente se levantaram para beber água ou comer algo na cozinha? Droga a cozinha... É lá que estão os suprimentos e a saída dos fundos da casa, eu preciso levar um pouco de comida e água tanto para mim como para os meninos, esses dois tem que sair logo de lá.

Fiquei escondida por vários minutos ouvindo as conversas e gargalhadas dos dois, aquilo parecia mais um encontro do que uma patrulha e eu já estava de saco cheio, não ia tardar muito para amanhecer e logo então meu irmão estaria de pé, com certeza a primeira coisa que ele faria como sempre é ir até meu quarto e então meu plano iria por água abaixo. Pensei em jogar algo para o outro ambiente da sala para tirá-los da cozinha mas seria arriscado de mais, Rodrigo não é burro e Alessandra também não, eles não seriam enganados tão facilmente assim a única opção que me resta é esperar.

Não agüentava mais estar atrás daquele sofá, os ouvi conversando mais algum tempo, depois comendo, voltando a conversar mais um pouco até virem até a sala e começarem a se amassar no sofá próximo ao que eu estava escondida. Pensei que aquela seria a melhor hora de continuar meu caminho mas logo antes de começar a me mexer ouvi Alessandra o chamando pro quarto, então me contive e esperei os dois pombinhos voltarem lá pra cima.

No momento em que não ouvi mais os passos dos dois eu me levantei e fui à cozinha, peguei algumas latas de sardinhas e leite, dois cantis com água e segui. A porta da cozinha estava bloqueada pela geladeira então abri uma das janelas e passei por ela primeiro, depois puxei a mochila e o arco que deixei em cima da bancada logo embaixo do peitoril. O dia já dava sinais que iria amanhecer quando saí e eu sabia que não podia mais perder tempo.

Segui mancando pelo espaço entre as duas casas da rua de trás e tive sorte de não me deparar com nenhum zumbi ali. Os mordedores que tinham ido até a rua por causa do tiroteio já tinha se dispersado e eu não precisaria mais ir até os fundos da casa, então segui caminhando pelos jardins e evitando os zumbis até atravessar a rua para casa onde tudo aconteceu.

Parei em frente a porta arrombada e vi que mordedores se alimentavam dos corpos dos homens mortos, não eram muitos, talvez quatro ou cinco no andar de baixo ou poderia ter mais na cozinha então decidi não arriscar mais. Ainda armei o arco para acertar um deles e tentar pegar a pistola que vi na mão de um dos homens mas recuei, assim que baixei a tensão no fio e me virei vi um mordedor se aproximando pela direita então voltei a mira no arco e o acertei.

Por sorte os que estavam na casa não ouviram o barulho e eu tive tempo de recuperar minha flecha e fui até o carro. A chave estava na ignição dando continuidade a minha maré de sorte, o sol já raiava quando dei a partida e segui na direção do Jotah.

Espere vivo por mim amor, eu vou salvá-lo.



Diário de Um SobreviventeWhere stories live. Discover now