9 - Relógio de bolso

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  Por um breve momento Mark e Jung Kook se encararam como se quisessem voltar a se socar, mas a atitude que Mark tomou foi diferente e a minha também. Enquanto Mark colocava a mão no ombro de Jung Kook e pediu calmamente para me deixar com ele pois Mark cuidaria de mim. Eu já estava dando um jeito de sair da bagunça e ir pro carro.
  Apoiei a mão na costela, resistindo a vontade desesperada de começar a chorar por causa da dor, e então abri a porta, respirando fundo quando tive que me sentar no canto e pegar meu casaco e abrir o porta luvas, minha arma estava lá. Assim que já estava com as minhas coisas me retirei do carro, e quando pisei no chão novamente Mark me cercou.
  - Pode ficar dentro do carro, vou te levar para um hospital, ou eu mesmo te curo se quiser. - Propôs Mark olhando pra mim preocupado, mas eu neguei com a cabeça ao perceber que havia um tom de autoridade em sua voz.
  - Eu não vou a lugar nenhum com você, vou dar no pé, e se me seguir eu vou furar o seu pneu ou a sua perna. - Alertei respirando fundo e senti uma pontada forte na costela, na mesma hora fechei os olhos com força pra evitar gemer de dor.
  - Alícia... - Mark sussurrou colocando sua mão no meu rosto e outra no meu braço, tentando gentilmente me por no carro, meu coração foi golpeado mas minhas entranhas se contorceram, me recobrando que eu não queria mais ficar ali. Por isso eu coloquei a arma na barriga de Mark, bem na região onde a costela dele também estava machucada.
  - Tira a mão de mim Tuan. - Falei exasperada e Mark me soltou, se fechando à personalidade fria e calculista que estava escondendo até então.
  - Vai atirar em mim Alícia? - Indagou Mark me desafiando enquanto olhava dentro dos meus olhos e eu notei que seus cabelos agora estavam mudando pra cor preta, a mesma cor que apareceu quando estávamos na guerra entre as alcatéias, a cor que mostrava que ele estava se divertindo enquanto matava e via sangue pra todo lado, respirei fundo, tentando pressionar a costela para parar de doer. Meu nariz também estava ardendo, mas eu já havia passado da fase de limpar o sangue que descia.
  Me aproximei, mesmo com a ardência interna pairando sobre o machucado na costela e colei meus lábios na têmpora de Mark, sussurrando minha resposta, calmamente.
  - Você não manda em mim Mark, e pra isso ficar bem claro pra você eu vou dar o fora daqui, sem você.
  E então escondi a arma na cintura, sai do cerco que Mark tinha criado e comecei a vestir o casaco, puxando o capuz pra cima da cabeça enquanto caminhava pra fora do estacionamento do shopping.

  Mesmo sem rumo e debaixo da chuva fina que caia sutilmente molhando a rua, eu estava decidida a não voltar pro shopping, estava cansada, e o machucado estava começando a se curar sozinho, até a dor não existir mais.
  Sem pressa e pra dispistar o carro de Mark me seguindo, me esgueirei por uma rua, e entrei num beco estreito. Mark já estava me irritando, e mesmo depois de ter atirado no pneu dele ele ainda me seguia, calmo e esperando eu ir pro carro. Como se eu relamente fosse ceder assim tão fácil!
  Bufei e enfiei as mãos nos bolsos do casaco, respirando fundo enquanto sentia o machucado na costela terminando de se regenerar. Dessa vez não havia doído tanto pra recuperar, apenas demorou.
  Quando já estava chegando na metade do beco senti um arrepio atrevessar minha espinha de uma maneira que só acontecia quando eu estava prestes a me ferrar. Respirei fundo e diminui o passo, conforme continuava andando, agora mais devagar sentia meu corpo ficando tenso, o medo começando a se instalar na minha mente.
  Eu estava armada, e estava sendo vigiada por Mark, afinal o que poderia dar errado? Ou melhor, o que poderia me atacar?
  Quando escutei a buzina do corola no início do beco meu corpo estremeceu violentamente e eu arquejei, parando de andar quando senti que pisei em alguma coisa.
  Levantei a mão e mostrei meu dedo do meio pra Mark, e enquanto deixava ele se deliciar com mais uma recusa de ajuda, eu tirei meu pé de cima do objeto para ver o que era.
  A julgar pelo beco eu esperava que fosse alguma coisa quebrada, mas quando meus olhos bateram no objeto eu fiquei curiosa. Eu tinha pisado em um relógio de bolso antigo, e que parecia ter um bilhete recém-feito dentro, com as laterais para fora da proteção do interior do relógio.
  Me abaixei e peguei o relógio na mão, sentindo minha pele arrepiar da mão onde o toquei até os cabelos na nuca. O relógio estava frio, e parecia que o bilhete estava com uma mancha de sangue.
  Sem que eu pudesse controlar meu tremor abri o relógio, o nervosismo estava tomando posse do meu corpo e da minha mente, mas eu estava ficando intrigada, por que aquilo parecia me afetar? Por que de alguma forma eu estava com medo de ler as palavras naquele bilhete? Era apenas um objeto perdido, que eu acidentalmente pisei...
  Quando peguei o bilhete pra ler já dava pra ouvir os passos de Mark atrás de mim, se aproximando enquanto meus olhos passavam pelas palavras escritas no bilhete, com uma calegrafia invejável, e palavras duras e cruéis, como a lágrima dolorosa que desceu pelo meu rosto naquele momento.
  " Essa vai ser a primeira e única vez que verá minha letra, por isso quero que saiba que este momento especial entre nós, merece um recado especial. Queria te contar, o que sua mãe disse pra mim, as suas últimas palavras antes de matá-la a sangue frio: 'com uma faca no peito ela disse que você me descobriria e que vingaria sua morte.'
Estou te esperando...Alícia."

PRISON IIOnde histórias criam vida. Descubra agora