31 - Onde há Razão

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  Mark se recompôs com dificuldade, e tentou se por em pé novamente, mas o máximo que conseguiu foi escorregar pela parede de pedra até sentar-se no chão. A cabeça pendendo de dor.
  - Acho que você ficou louco. - Afirmei me aproximando pra ajudar, afinal independente do que eu achava dele ele já havia salvado a Alícia várias vezes, e eu não ia sair daqui e deixar ele pra trás. Vai que isso afeta a Alícia. Não quero comprometer ainda mais a vida dela.
  Quando cheguei perto o suficiente estendi a mão pra ele, que desconfiado resolveu aceitar, e com um pouco de esforço ele já ficou sobre os pés. Mesmo que, apoiado com as costas na parede.
  - Eu não fiquei louco. - Retrucou Mark olhando pra mim pra tentar me convercer, mas seu máxilar rígido de dor me fez ter o impulso de tocar seu rosto para conferir se ele não havia enlouquecido mesmo.
  Aproximei minha mão e quando estava prestes a tocá-lo ele segurou meu pulso.
  - O que você está fazendo? - Indagou desconfiado, mesmo debilitado ainda era forte, e isso me irritou um pouco. O impoderamento de poder havia sumido dos seus olhos, e o que restava era uma feição levemente cálida e angustiada. Como se lentamente algo o consumisse por dentro, e eu não consegui identificar apenas naquela fração de segundos em que nossos olhares se cruzaram com propósitos opostos, se ele realmente era um cretino ou se o que estivesse fazendo, seja lá o que fosse, era para o bem. E não apenas o dele.
  - Vendo se você está com febre pra justificar que você perdeu a cabeça. - Rebati despertando de meu devaneio e ele me analisou, com seu olhar frio e calculista sobre mim, que estava desgastado demais para se sustentar por muito tempo.
  - Não precisa se preocupar comigo. - Retrucou ele absolvido numa camada de auto-preservação, e resolvi torcer seu pulso já que ele estava tão preocupado que não me soltava. Seguidamente, antes que ele fizesse mais alguma coisa, coloquei a mão em sua testa.
  - Está ardendo em febre. - Constatei irritada e ele tirou minha mão de seu rosto, me afastando de si como se minha presença pudesse matá-lo por falta de oxigênio.
  - O problema é meu mamãezinha, vai cuidar do seu dragão. Eu vou sobreviver. - Disse Mark tentando parecer defensivo, mas o máximo que conseguiu foi parecer digno de pena. Meu sangue ferveu por ter pena dele, e eu perdi a paciência de uma vez.
  - Cala a boca e vamos sair logo daqui! - Ordenei agressiva e estendi a mão pra ajuda-lo, mas ele recusou com um aceno, se recompondo e me acompanhando, enquanto tomávamos caminho para a direção que o Tae disse que levaria a saída.

  Mal tínhamos saído de um conjunto com três caminhos idênticos, tendo em mente a mesma direção que era a esperança de sair daqui, e Mark teve de se apoiar à parede, prendendo a respiração para tentar evitar que a dor se intensificasse.
  E com relutância, dessa vez por machuca-lo ainda mais, eu me aproximei e fui ajudá-lo. Dessa vez, ele realmente parecia não estar aguentando e permitiu que eu pudesse invadir suas defensivas e o ajudasse a levantar e continuar o caminho. Estávamos perto de sair, além de poder sentir nos meus instintos eu havia confirmado isso quando passamos por um caminho, onde haviam mais quatro bifurcações no chão acimentado, tão sutis que poderiam ser despercebidas por qualquer um numa aventura, mas não para a Alícia e eu que sempre contávamos cada caminho e confirmávamos com um olhar atento as bifurcações imperceptíveis no chão, de que, estávamos indo pelo caminho certo, sem nos perder para poder voltar.
  - Você realmente acha que o Jung Kook vai poder melhorar a Alícia? - Perguntei cortando o silêncio devastador que nos rodeava, e Mark, com uma mão apoiada na parede e o braço ao redor dos meus ombros para não cair, me lançou um olhar cansado, sem defesas ou qualquer sinal de arrogância.
  - Ele vai conseguir fazer ela não sentir dor. Mas a única maneira de parar isso que está acontecendo com a Alícia, é matando o espírito da vítima do Gap Dong. - Explicou Mark, e eu reparei no brilho que surgia nos seus olhos toda vez que ele falava da Alícia, a maneira que seu tom de voz parecia encher-se de ternura e revelava outra personalidade. Uma personalidade real, diferente de qualquer transtorno de psicopatia que pudesse o cercar.
  - Eu não te entendo. - Comecei calmamente depois de pararmos ao notar uma diferente movimentação passar dentro de um dos corredores de caminhos.
  - Do que você está falando? - Indagou Mark se soltando de mim para empunhar sua foice sombria, que do nada surgira de repente em suas mãos, com uma simples brisa que nos atingirá. Parecia surreal demais.
  - Que você a ama. - Atenuei - Eu já percebi isso, a Alícia é tudo pra você, mas toda vez que vocês se entendem você simplesmente esconde as coisas e deixa tudo se complicar, como se talvez não quisesse estragar o raro momento de paz que veio, até... Até ela se machucar. Ou até vocês começarem a brigar e ela te provocar pra te fazer falar o que está escondido, tudo para conseguir a verdade através de violência. É asism que você retribui toda a raiva que ela desconta em você. A raiva que você faz a Alícia passar! - Perdi a paciência, mesmo não sendo a intenção, e todo aquele momento em que havíamos nos entendido desapareceu nos olhos dele, tão rápido quanto surgiu. E deu lugar à pílulas negras e vazias.
  - Ela está atrás de você.

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