95 - Velha Inimiga

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- Alícia on-

  Pela sombra pude acompanhar que a besta cambaleou pra trás e grasnou, mal pude esperar e escancarei a porta, pronta pra atirar mais quando uma lâmina afiada demais pra ser desse mundo surgiu atrás da criatura e passou pelo pescoço dela. A cabeça descolou e rolou pro chão em segundos.
  Mark estava atrás do corpo que caia no chão, e sem mais espera acendeu a luz do corredor.

- Mallya on-

  Rolei na cama e esbarrei em algo macio, a respiração agora rebatendo no meu pescoço me entregava que aquilo era outra pessoa. Eu não tinha dormido sozinha.
  Lentamente os episódios de ontem foram me voltando a cabeça. Tudo que aconteceu e as confusões, a minha decisão.
  Me virei de frente pro corpo que havia dormido comigo. Meus olhos bateram em cima do rosto angelical de Tae, e eu não consegui conter um sorriso, ele ficou comigo a noite inteira, tentava me consolar, explicando que foi a coisa certa, mas lá no fundo meu coração queria negar. A noite inteira minhas entranhas pareciam me alertar que a Alícia estava correndo perigo sozinha em Helltown, mas minha mente era mais forte do que meu coração para me impedir de continuar com o propósito.
  Eu queria paz, e a teria.
  Era impressionante como a mente e o coração podiam duelar dentro de um corpo. Mesmo um corpo não humano. Rolei na cama de novo, agora de barriga para cima e comecei a fitar o teto. Pensando no rosto arrasado da Alícia, a maneira que o horror ia a tomando e deixando cada vez mais desolada. Parecia que eu estava arrancando um membro de seu corpo com a minha decisão. Era quase isso. Eu só não queria mais incentivar seus distúrbios psicóticos a ponto de afetar sua sanidade. Que eu sempre duvidei da existência aliás.
  - O que foi meu Mally? - Tae perguntou e eu virei a cabeça para encara-lo, ainda estava com os olhos fechados, e a voz rouca o deixou mais sexi do que angelical naquele momento.
  Por um instante eu fiquei sem saber o que dizer, e Tae abriu os olhos, me encarando impiedosamente. Os olhos estavam azuis.
  - Os seus olhos... - Comentei levantando a mão para acariciar sua maçã do rosto e ele segurou meu pulso, impedindo minha mão de continuar acariciando sua bochecha. Foi então que ele beijou as costas da minha mão e me devolveu ela.
  - Está tudo bem Mallya. - Ele se aproximou, o corpo bem perto do meu, levando em consideração que ele estava sem camisa me deixou um pouco desconcertada.
  - Tae o que você... - Mal terminei a pergunta e ele passou os lábios roçando na minha boca, mas então me deu um beijo na testa.
  - O que está tomando sua mente tão cedo...? - Ele perguntou, ainda me fitando e os olhos foram voltando ao normal.
  - Nada. - Respondi dando de ombros, agora a única coisa que tomava meus pensamentos era a boca dele, eu queria sentir seus lábios nos meus, ele havia me provocado de um jeito tão inicente que despertou algo dentro de mim, porém o caso já estava voltando pra minha cabeça e eu não prolonguei - Só estou com fome.
  O problema era que na minha cabeça eu já tinha vários lugares que teria que visitar para descobrir alguma ligação com o caso. Era o meu último serviço, então havia a necessidade de fazê-lo bem feito, e assim o caso não saía mais da minha cabeça. Nem pelo Tae.

- Alícia on-

  - E aí o que descobriu? - Indagou Mark jogando dois cafés na mesa, um pra cada e mais uma tijela de leite pro Suguinha que estava deitado preguiçosamente no canto. Na mesma hora o bichano se esticou e foi beber o leite, mas deitado mesmo.
  Eu puxei alguns arquivos e virei o notebook pra Mark ver até onde eu já havia chegado.
  - Era um renegado. - Falei pegando o café e tomando, precisava de chocolate também, mas só ia comprar mais tarde, precisava do café primeiro. Não estava sendo fácil me manter acordada depois de passar a noite inteira sem dormir.
  - Isso não foi obra da minha mãe então, ela não tem poder sobre um renegado. Isso é obra de caçador de sombras que não soube fazer serviço direito.
  - Talvez. - Atenuei e então bebi mais um gole de café antes de acrescentar - Agora olhe na segunda página. - Pedi, e senti os olhos arderem de sono, não precisava me olhar no espelho pra saber que meus olhos estavam com olheiras, esbugalhados e levemente vermelhos pela exaustão, mesmo assim só conseguia pensar no café. Já era o décimo quinto copo que eu bebia, e mesmo assim o corpo parecia pedir por mais.
  - "São burros e agressivos, e se guiados podem fazer muitas coisas por alguém, mas pra isso há a necessidade de ter o talismã pra poder guiar o renegado". - Mark leu uma frase de um dos artigos que eu separei e então levantou os olhos da tela para me fitar - Como assim talismã?
  - O objeto que a pessoa mais gostava. Isso é o talismã que se a pessoa obtiver pode controlar o renegado. - Comuniquei e tomei mais um gole do café, o líquido quente desceu acendendo tudo pelo corpo, minhas articulações deviam estar descarregando adrenalina até pelas veias do jeito que eu estava indo.
  - Isso pode aumentar as chances do autor do crime, que mandou o renegado atrás de você ontem a noite. - Atenuou Mark e eu entrelaçei meus dedos em cima da mesa, Suguinha descontraído com o leite nem parecia notar o clima pesado que estava começando a se formar na mesa, mas eu sentia que ele estava por dentro de tudo. Mesmo sem demonstrar, quase como se estivéssemos na mesma pele.
  - Só tem duas pessoas que querem muito me matar, mas uma delas não ganharia nada com isso, ou seja Jong Up, que só quer brincar e precisa dos peões vivos pra isso, e a sua mãe. Então não tem mais ninguém que realmente me queira fora do caminho.
  - Eu estava na sala de estar Alícia, ela não teria tanta audácia. - Mark rebateu indignado e eu arqueei uma sobrancelha na direção dele olhando pra dentro do copo de café, sem perceber havia terminado outro copo.
  - Se você não estivesse, ela mesma teria entrado pra fazer o serviço. - Constatei amarga e ele enrijeceu o maxilar. O cabelo rapidamente se converteu pra vermelho.
  - Ela não faria... - Ele estava revoltado, mas havia entendido a jogada. Sua mãe não havia realmente tentando me matar, ela só queria avisar que estava por perto. Acompanhando tudo. Talvez até mais perto do que imaginávamos.

PRISON IITempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang