82 - Tal mãe, Tal Filha

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  A cabeça latejava quando abri os olhos, agora aos poucos tentava me recordar o que havia acontecido. Me lembrava de ter entrado pela porta de Mark, de tê-lo beijado, mas nada mais me vinha a mente além disso. O que houve comigo?
  Me sentei na cama, olhando o quarto envolta, era um quarto desconhecido diante dos meus olhos, e eu estava sozinha na cama.
  - M-Mark? - Sussurrei mas a voz quase não saiu, minha garganta estava seca e doendo. Quase como se eu tivesse mastigado cacos de vidro e e mandado goela abaixo. Conseguia sentir gosto de sangue na boca, e uma leve parte inchada do meu céu da boca com a gingiva me fez quase acreditar que eu realmente havia comido cacos. Mesmo que fosse insano demais. Por que eu faria isso afinal?
  Não me lembro de nada...
  Olhando em volta fui buscando mais coisas para tentar me lembrar do que houve, mas quanto mais verificava as paredes ao redor, menos compreendia. Tateei o lençol, olhando agora pra mim, eatava vestida, a cama estava fria do outro lado. Ou seja o que eu pensei que poderia ter acontecido, não aconteceu. Então...?
  - Eu não fiz nada. Você escorregou quando eu fechei a porta e quando caiu bateu a cabeça na parede. - Explicou Mark entrando no quarto sem aviso e eu dei um pulo. Ele havia irrompido no silêncio direto demais. Por um breve instante minha cabeça pareceu latejar pra explodir, e aos poucos, conforme Mark se aproximava com uma bacia na mão, um copo de água gelada e um pano molhado eu voltei a assimilar que aquilo que ele descreveu realmente poderia ter acontecido.
  - Mark... - Sussurrei voltando a me acomodar na cama, me manter ereta na cama parecia estar cortando meus neurônios com uma serra elétrica. Me deitei e voltei a olhar em volta enquanto ele se sentava ao meu lado.
  Parei de vistoriar quando percebi que ele estava esperando eu dizer alguma coisa, mas eu não me lembrava se ele havia me dito algo para tal. Ele havia dito mais alguma coisa além daquilo que disse antes de entrar no quarto?
  - Alícia... - Ele chamou, mas eu não estava aguentando olhar diretamente em sua direção. Tinha algo de errado comigo.
  Cerrei os olhos bruscamente com uma dor latejante que atravessou minha testa, e quando tornei a abri-los Mark estava com os olhos negros. A bacia com água estava vermelha e parecia ter outra coisa ali que com certeza não era água. Era sangue, e o pano que eu pensei que fosse, eram cabelos.
  Tinha uma cabeça humana dentro da bacia.
  - O que significa isso?! - Indaguei me sentando abruptamente de novo e Mark agarrou meu tornozelo para impedir meu afastamento.
  - Ela sabia demais, você também sempre soube Alícia... Tal mãe tal filha, não é? - Mark começou a dizer e eu engoli em seco, sangue e uma dor latejante desceram pela minha garganta com tanta ríspidez que me nauseou e fez tocir.
  Tentei puxar a perna pra mim e senti o esqueleto dos ossos de sua mão se apertando ao redor da minha canela até doer.
  - Vou acabar com isso rápido meu amor, não vai precisar se preocupar por nem um segundo... - Mark sorriu, um sorriso largo e diabólico enquanto o rosto se deformava até tomar a forma sombria da morte. - Eu juro que você só vai gritar porque está assustada, mas eu não vou deixar doer, vai ser rápido... - Ele jogou a bacia de lado e começou a subir na cama, sangue se espalhou pela brancura dos lençois manchando tudo, e a cabeça humana saiu rolando até cair da cama pro chão, eu não queria ver, não queria olhar, mas meus olhos me obrigaram a acompanhar com o olhar até onde ela ia parar. Até reconhecer sua face.
  Era a cabeça da minha mãe, de olhos abertos.
  Um grito irrompeu do meu peito e eu fui obrigada a cair deitada de costas na cama, Mark subiu em cima de mim, senti um hálito gelado vindo de seu rosto para confrontar o meu, e então o cheiro de sangue da cama, o cheiro metálico nauseante subiu pro meu nariz.
  Suas mãos vieram pro meu pescoço, e eu comecei a sentir frio, friagem enquanto era sufocada. Os olhos vazios de Mark dentro dos meus me deram uma sensação tão aterradora que eu não consegui manter manter os olhos abertos, e os fechei com força.

  Tocindo, entre um engasgo e outro eu abri os olhos, queria gritar mas o grito morreu na garganta quando eu bati a cabeça em algo gelado e duro o bastante pra ter cortado a minha testa. Senti o sangue molhar minha testa e respirei o ar gelado pra dentro dos pulmões. Onde eu estava?
  Me sentei, desviando a pedra fria onde havia acertado a cabeça, e reconheci uma lápide. A da minha mãe. Minhas mãos estava sujas de terra, eu estava cavando. Estava cavando o túmulo da minha mãe.

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