29 - Asas de Anjo

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- Mallya on-

  - Bruxa! - Gritei em alto e bom som, nervosa. Ela havia sumido tinha pelo menos meia hora, mas eu ainda estava com raiva. O corpo fumegava de ódio. Eu queria matar ela de novo. Fazer ela parar de falar, ver seu rosto tomado pelo pavor enquanto morria pelas minhas mãos. Eu mesma devia tê-la jogado daquela pedra quando era pequena, a pena era que eu não quis sujar as minhas mãos com aquele pedaço de carne humana, estragado.
  Naquela época, eu me limitei a ficar apenas assistindo, enquanto um filme de todas as vezes que ela tentou me matar, e as vezes que me batia ou me trancava em algum lugar apenas por maldade, só para o meu pai brigar comigo, passavam pela minha cabeça. E lentamente ela afundava no mar, se afogando à medida que afundava e seus olhos eram tomados pelo pânico. Eu ainda conseguia lembrar de cada milésimo de segundo que ela sofreu, apavorada se debatendo na água, como se tivesse sido ontem.
  Por ser irmã da minha mãe eu me perguntava se minha tia algum dia poderia ser comparada a ela? Eu não sabia quase nada sobre a minha mãe, e me pergunto se talvez ela fosse como a minha tia, ou se ela me amaria se tivesse a oportunidade de me ver crescer. Se seria uma pessoa ranzinza comigo como minha tia era, ou se seria uma mãe doce e forte que me daria seu exemplo para seguir.
  Eu não sei o que é isso...
  Desistindo de esfaquear uma parede fria de pedras, eu me rendi a me jogar no chão e guardar a faca, deixando as lágrimas que eu estava retendo rolarem pelo meu rosto.
  Huoyan que já havia saído da bolsa a um bom tempo se aproximou de mim, mordiscando meu dedo enquanto se esgueirava pro meu colo. Ele fazia isso quando estava com fome. E o pior é que toda a comida dele que eu havia trazido na bolsa já havia acabado.
  - Eu sinto muito Huoyan, mas seu jantar vai ter que esperar um pouco. - Falei limpando as lágrimas nos olhos, o coração no meu peito parecia inflamado. Dolorido com todas as coisas que passavam pela minha cabeça. Era tão errado torturar uma criança daquela maneira como minha tia fazia, tão errado... E ninguém fazia nada pra me defender. Nem mesmo meu pai.
  Me levantei do chão, meu corpo apresentava nítidos sinais de exaustão. Dores pra todo lado, conforme minha cabeça latejava eu me perguntava se ainda estava perdida ou se tinha um noção de para onde ir.
  O pensamento de escalar uma das paredes e subir para tentar localizar a saída desse lugar passou pela minha cabeça, mas quando tentei realizar a tarefa eu quase caí, sendo que nem tinha subido ainda e já estava com tontura forte por causa das horas sem me alimentar e o cansaço.
  Mesmo assim eu insisti na ideia, guardei Huoyan na bolsa, mesmo contra vontade dele e olhei para o alto, contemplando os bons metros que aquela parede de pedras se sustentava. Assim que me aproximei da parede fria, tocando as mãos nas pedras e procurando onde me segurar pra subir, escutei um barulho. Pareciam bater de asas. Mas era alto demais pra ser de um pássaro. Taehyung.

- Mark on-

  - Mark me solta, eu acho que vou vomitar. - Esperniou a Alícia quase sem forças, com a voz abafada pela sua mão diante de seus lábios. Calmamente eu a abaixei, com cuidado para não embrulhar mais seu estômago. Ela ainda estava perdendo sangue, mesmo depois de eu ter amarrado vários panos do que restou da minha camisa e da jaquela que ela trazia consigo amarrada na cintira a meia hora atrás. Parecia que as amarras não eram suficientes para conter o sangue. O sangramenro persistia, manchando todos os panos cuidadosamente pressionados no local. E o pensamento dela morrendo se fosse uma humana passou pela minha cabeça. Eu estava aliviado por ela não ser.
  - Alícia você consegue aguentar só mais um pouquinho? Estamos quase chegando na saída. - Perguntei ajudando-a a segurar o cabelo enquanto ela apoiava uma mão na parede e a outra no chão, curvada sobre o próprio corpo de joelhos, mas não saia nada, nem ânsia. E eu conseguia sentir seu mal estar passando pelo meu corpo, ainda incrédulo de como ainda estava em pé sendo que a Alícia debilitada como estava, mal se sustentava.
  - Mark eu não quero morrer... - Ela sussurrou e levantou o rosto pálido e abatido pela perda de sangue para me encarar, como se estivesse esperando alguma resposta, ou qualquer coisa que acalmasse sua mente perturbada. Desde o pesadelo ela estava assim, e eu sabia porque ela tinha tido o pesadelo mesmo eu estando perto o bastante dela. A fantasma devia estar rondando, mas por culpa da minha mãe eu não conseguia saber aonde.
  - Alícia, nem que você morresse eu me afastaria de você, e iria até o inferno pra te trazer de volta pra mim. - Afirmei angustiado com ela e um suspiro cansado saiu de seus lábios como resposta, mas eu tive um vislumbre de ver um brilho passar por seus olhos vermelhos por causa das minhas palavras.
  - Vamos sair logo daqui, eu acho que não vou aguentar mais tempo. - Afirmou ela e eu me aproximei, pegando seu corpo leve e frágil nos meus braços.
  Foi então que, como se tivesse vindo do céu, eu escutei o bater de asas de um anjo. E eu conhecia aquele anjo.

PRISON IIWhere stories live. Discover now