70 - Tiro ao Alvo

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  Do jeito que eu caí pra trás, de costas no chão o corpo da cobra me espremeu e eu pude vislumbrar um fio de lâmina passar rente a minha garganta. Em seguida eu tombei e a cabeça dela rolou desolada pelo chão.
  Com uma convulsão ela começou a me soltar, e eu soltei  o ar que não fazia ideia que estava prendendo.
  - Você tá bem? - A Mallya me perguntou colocando a cabeça no meu campo de visão e instintivamente levei a mão ao peito, o coração estava acelerado demais pra me permitir falar.
  - E-eu to. - Respondi falhando, mas não levantei, precisava respirar, Mallya também porque assim que constatou que eu estava inteira deitou de volta no chão aliviada.
  - Sério Alícia! Quando eu digo pra você fazer uma coisa, faz ela! - Exclamou e eu levantei a mão num beleza trêmulo, não gostava de cobras, já a Mallya amava, só não quando tentavam nos atacar.
  Angustiada eu levantei para me sentar e olhei pro lado, também tinha uma cobra morta enrolada na Mallya, as duas cadáveres não eram tão grandes quanto aparentavam, mas estava bem nítido pela sua cor preta que elas eram venenosas até demais.
  - Ele deixou um presentinho. - Comentei e a Mallya levantou subitamente.
  - Ele??! - Disse alarmada, e nós duas entendemos o que estava acontecendo. Tivemos a oportunidade de pegar o Gap Dong, supostamente o II, e o perdemos.
  Sem mais palavras peguei o pacote que o homem tinha deixado no chão e assim que enfiei no bolso, nos levantamos as pressas. Apontei pro beco, e corremos as duas na direção dele. Ainda com esperanças de encontrar o cara nas redondezas.

- Mallya on-

  Desabei sobre a banqueta do balcão e levantei dois dedos pro barman, insinuando bebidas, das mais fortes.
  Já havia visto a Alícia passando pela porta. Não conseguia acreditar que havíamos chegado tão perto e simplesmente o perdemos por um erro de cálculo. Mesmo depois de ter chamado equipes de busca, de ter checado todos os sistemas de segurança e passado um bom tempo rodando de moto pra ver se achava o homem, desistimos, afinal ele estava sempre dois passos a nossa frente e não se entregaria tão fácil. Precisávamos ser mais espertos que ele.
  - O que pediu? - Indagou a Alícia assim que ocupou a banqueta ao meu lado e eu afundei o rosto nas mãos acabada.
  - Álcool. - Respondi, e levantei a cabeça assim que escutei os copos serem posto sobre o balcão. Meu corpo levemente dolorido de adrenalina parecia implorar que eu usasse o álcool pra esquecer o fracasso. Chegava a ser cruel ter tido a oportunidade de pegá-lo e ele escapar das nossas mãos tão fácil.
  - Ele era esperto, com certeza era o segundo Gap já que raqueou mais da metade dos aparelhos eletrônicos da região para garantir que não apareceria em lugar nenhum. - Reclamou a Alícia se aproximando para que apenas eu pudesse escutar. Me limitei a pegar o copo na mão, analisando a bebida com desdém, não estava com cabeça pra beber, e então mandei tudo goela abaixo.
  - Precisamos de algo que seja melhor, talvez pensar antes dele... - Sussurrei perturbada, mais pra mim do que pra Alícia, e ela assentiu mesmo assim. Agora tirando um pacote do bolso. Não precisei olhar duas vezes para reconhecer quem havia deixado o presentinho - Quem vai abrir? - Perguntei, mas a Alícia se adiantou e a despejou o conteúdo sobre o balcão. Haviam dois pares de brincos dourados e para acompanhar a brincadeira de mau gosto, um bilhete.
  Peguei o bilhete na mão, mas antes de ameaçar lê-lo eu chamei o barman pra encher meu copo de novo. Nesse instante notei que a Alícia estava um "pouco" irritada com uma criança que não parava de reclamar atrás dela numa mesa. Típica criança birrenta.
  - Não aguento mais essa porcaria! - Exclamei e me virei pra Alícia - Ele se diverte com nosso psicológico, os dois acham que somos piadinhas é isso? - Indaguei, eu sabia que ela não tinha culpa, e nem respostas, mas estava tão cansada de tudo isso...
  - Vamos pegá-lo. - Ela colocou sua mão sobre a minha para me dar apoio, e quando pretendia dizer mais alguma coisa, a criança que estava dando trabalho para os pais atrás dela derramou suco pela mesa toda e começou a chorar, insistindo em esperniar.
  Cerrei os punhos, mas a Alícia que já havia perdido a paciência nem perdeu tempo com pensamentos ou alertas. Ela deu um murro no balcão, batendo a mão com força e então se virou pro menino que havia parado de repente com a birra para reparar no que aquela jovem queria dizer. O rosto dela ficou vermelho de raiva só de olhar pra cara dele.
  - M-mãe... - O menino ameaçou abrir a boca pra chorar de novo e a Alícia gritou.
  - Cala a boca! - Todo mundo no bar se virou pra nós duas no mesmo instante que ela esbravejou. Eu que estava mais preocupada com outra coisa, voltei a olhar pra minha bebida e resolvi abrir o papel pra ler o que estava escrito de uma vez por todas. Não ia adiantar reclamar dela, eu até apoiava que ela desse um jeito naquele pirralho insuportável, quem sabe assim ele calava a boca.
  Com cuidado pra não rasgar eu desdobrei o papel e assim que meus olhos bateram na palavra, eu engoli em seco.
  " Abaixem"
  Primeiro cobras, agora armas?

PRISON IIWhere stories live. Discover now