34 - Noite de Esquecer

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- Alícia on-

- Tabom pai, está tudo bem eu já falei. - Respondi para ele no outro lado da linha, enquanto fitava meu reflexo no espelho do banheiro, mesmo incerta do que estava dizendo. Já fazia meia hora que ele insistia em me ligar, desde que saiu relutantemente da casa do Tae, ele estava fazendo isso, preocupadíssimo com a minha segurança. Havia até deixado três viaturas rondando a casa pra garantir que ficaria tudo bem. O pai da Mallya e o Wonho era o mesmo esquema. Os dois tentaram nos prender em casa quando fomos buscar mais coisas na casa de cada uma pra se manter por mais um tempo na casa do Tae. Era melhor ficarmos todos juntos. E duramente havíamos aprendido isso quando passamos por aquele labirinto. Um arrepio desceu pela minha espinha quando um flash do meu pesadelo passou pela minha cabeça. Não podíamos mais ficar separados, somos como uma matilha, mesmo sendo composta por uma nítida diversidade de seres sobrenaturais, e precisávamos ficar unidos pra sobreviver. Não que fossemos morrer, mas o serial killer se mostrou muito mais esperto do que esperávamos, e conseguiu, de alguma forma abalar todos nós, todos que entraram naquele labirinto não saíram do mesmo jeito. A Mallya parecia desconcertada e perturbada, o Tae não largava ela, ele sempre foi ciumento, mas agora parecia ter uma necessidade muito grande de mantê-la sob seus olhos como se ela fosse uma presa e ele seu predador. Quanto a Mark, ele parecia cansado e abalado, como se, de alguma forma algo tivesse voltado à tona, e isso o angustiasse de certa forma. Já eu, não sei mais o que está acontecendo.
Preciso dormir antes que enlouqueça, tem tanta coisa rodando envolta do meu corpo que parece que estou num daqueles brinquedos do parque, cheia de pensamentos girando ao redor da cabeça, que por sinal parecia que iria explodir de tanto que doía.
Eu já havia tomado remédio, e a dor havia realmente diminuído um pouco, mas eu ainda conseguia senti-la. Latejando atrás da nuca insistentemente, fazendo um leve pânico me assolar.
Fechei os olhos e escutei os pedidos sofridos do meu pai para que eu e a Mallya apenas descansassemos e não tentassemos nos arriscar, pondo nossas vidas de novo em alguma aventura inconsequente e de risco. Escutei e escutei e quando ele finalmente terminou lhe desejei boa noite, repeti mais trinta vezes que ficaria tudo bem, e então desliguei a ligação. O pânico pareceu crescer dentro do meu peito quando coloquei o celular desligado sobre a pia, a sensação de estar tão só naquele banheiro, na gélida companhia das paredes, era perturbadora.
Baixei os olhos até a minha barriga, subindo a blusa suja de sangue, já que não havia tido tempo para trocar, e só agora eu tinha conseguido entrar no banheiro na busca de um banho. E então pousei o olhar sobre a minha pele, tocando a ponta dos dedos na falta de cicatrizes, ou até mesmo cortes. Chegava a ser agonizante ter a lembrança da faca entrando em mim, a lâmina cortando a pele e investindo dentro da carne com tanta força que eu mal pude respirar na hora. O pensamento ficava voltando na minha cabeça, latejando como um pisca-alerta ligado, fazendo questão de me lembrar da sensação da lâmina fria e do sangue quente que havia encharcado a minha roupa.
Até as injeções que deixaram meu braço dolorido pareciam uma lembrança vaga e distante da facada que eu levei.
Cambaleante saí da pia, deixando minha imagem no espelho para entrar no box de vidro e de soslaio fitei a porta, tentando recordar se havia trancado ela, mas desisti quando minha mão automaticamente, como se fosse uma necessidade se encontrou com o registro, ligando o chuveiro. A água quente caiu sobre a minha nuca, ppr causa da cabeça abaixada, e eu cetrei os olhos, passando a mão na barriga onde havia sido a facada, a estranheza estava me corroendo por dentro. A lei natural de um ser humano sendo totalmente quebrada era aterrador, e eu ainda não havia me acostumado com isso.
Sem me importar com roupa, deixei a água cair sobre meus ombros, molhando meus cabelos castanhos e toda extensão de pele e tecido que havia no alcance, apenas aproveitando o momento, até que algo chamou minha atenção.
A porta do banheiro estava sendo aberta. Engoli em seco e saí debaixo da água, caminhando pra saída do box, e assim que limpei a água do rosto dei de cara com Mark, quase esbarrando nele. Ele estava na porta de vidro, bloqueando a saída com uma expressão impassível no rosto, que me deixou sem saber o que dizer.
- Alícia... - Mark começou e as palavras que me haviam fugido voltaram, o que me levou a limpar a passar a mão no cabelo que estava caindo nos olhos e coloca-los atrás da orelha.
- Mark eu quero tomar banho. - Falei num tom que ficasse claro que ele estava me atrapalhando e Mark mordeu o lábio inferior, olhando nos meus olhos.
- Eu sinto muito. - Ele respondeu e ao notar que um coração estava batendo acelerado, e não era o meu, eu percebi que ele não estava se desculpando por agora, mas pelo que aconteceu no parque - Eu não quero machucar você, jamais quis. - Mark estava inquieto, e eu conseguia sentir seu nervosismo emanando de sua pele como se fosse calor corporal, foi então que seu coração acelerou mais e eu que fiquei nervosa - Alícia eu...
- Mark o que você... - Comecei a interrompe-lo e ele tapou minha boca repentinamente, se aproximando mais de mim. Seu coração pareceu ter acelerado ainda mais.
- Eu te amo Alícia.

PRISON IIOnde histórias criam vida. Descubra agora