41 - Bilhetes

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  Depois da cena que ocorreu diante da sala do meu pai, eu e a Mallya concluímos que aquilo, o ar pesado que nos rodeou quando Mark e Wang começaram a conversar, não era nada mais, nada menos do que a aura dos dois cavaleiros do apocalipse se alastrando pelo ar, como se fosse o aroma de um perfume capaz de preencher nossas mentes e corpos e nos abalar com suas essências de morte e encrenca, como Mark gosta de esclarecer. Uma coisa estava garantida, era forte demais para controlar, e tão natural para eles, como respirar. De uma forma que simbolizava defesa um contra o outro, porém não durou muito.
  Deixando as estranhezas de lado, nos encaminhamos para a sala do meu pai, acompanhados de Wonho que surgiu no meio da bagunça pegando eu e a Mallya e nos abraçando com tanto alívio e força que até nos tirou do chão. Fiquei levemente enjoada e a Mallya ficou com os cabelos bagunçados, mesmo assim foi muito carinhoso e amenizou aquela sensação de desconforto que o Mark e o Wang nos fizeram passar.
  Quando cada um estava acomodado, meu pai e mais alguns detetives, colaborando com a presença da psiquiatra que estava ajudando no caso, Wang, Mark, Tae e eu e a Mallya, começamos a perguntar e receber em resposta, todas as nossas preocupações.
  A chapa esquentou nos dias que eu estive inconsciente no hospital e com as férias só acumulamos problemas, no fim das contas chegamos a conclusão de que durante os sete dias de ausência no trabalho, ele, o Gap Dong, matou 7 pessoas, todas mulheres, da faixa dos 16 aos 22 anos. Uma forma mais violenta que a outra, e uma chegou até a ser quiemada, após ser queimada viva, e pra piorar, foi tudo gravado e postado na internet, já faziam três dias que o FBI está aqui por causa desse vídeo, que foi tirado do ar em menos de uma hora após ser postado por um ser "anônimo" que até agora ainda não foi descoberto.
  - Ok, foi péssima essa ideia de férias, e eu já sei que você estava armando quando nos tirou do caso pra nos fazer descansar por cinco dias. - Constatei olhando pro meu pai e joguei as fichas das vítimas na mesa para acrescentar - Agora desenbucha, por que você estava tão desesperado para nos afastar do caso? O que ele fez? - Com a minha indagação a Mallya parou de anotar no caderno e passou ele pra mim começar a anotar enquanto ela continuava com nossa descoberta a fundo sobre o caso, que estava andando pro pior sem nosso consentimento.
  - Vocês já pegaram dois bilhetes dele que eu sei, então já dá pra imaginar o que está acontecendo. - Meu pai respondeu sério, e senti seu olhar cansado sobre nós duas enquanto eu anotava, e além dele o olhar da psiquiatra focava bastante em Mark e eu, como se ela estivesse analisando nós dois, e furtivamente a Mallya, mas era tão sutil que eu saquei sem esforço que ela estava vigiando nós três e a Mallya com mais discrição ainda porque já sabia sobre os transtornos dos três, tinha as fichas minha e da Mallya, e talvez até suspeitasse de Mark, mas não ousaria dizer nada sobre isso, pelo menos por enquanto.
  - Bom, o primeiro bilhete já era ameaçador, o problema é que com os demais o peso ficou maior. - Continuou Wonho por meu pai - Vocês leram nas fichas que ele agora não está mais apenas matando, agora ele está estuprando as vítimas também, e ficando mais violento do que já era antes. - Anunciou Wonho e eu engoli em seco, por causa da falta de tempo eu não havia lido tudo, apenas dado uma passada com os olhos nas páginas e pegado o essencial para tirar conclusões para o debate. Fiquei levemente aliviada quando a Mallya tomou a minha frente.
  - E cadê os bilhetes? - Indagou ela e eu parei de anotar para poder ler também, sem demora meu pai se levantou de sua cadeira, deixando-nos na mesa redonda com um emaranhado de cadeiras ao seu redor para ir buscar as provas.
  Depois de fuçar uma gaveta ele trouxe uma pasta com papéis ensanguentados e emplastificados, bastou que meu pai colocasse diante de nós os bilhetes para eu ter aquela sensação de que um coração estava acelerando, e não era o meu. Era o Mark.
  Olhei furtivamente para ele que parecia perfeitamente calmo e controlado, e então me voltei para a Mallya que havia pego os papéis para ler o conteúdo de seus bilhetes. O primeiro, e mais sujo de sangue velho, apresentava uma ameaça:

"Essa cidade ainda não perde por esperar, eu vou fazer as honras de banhar as ruas de sangue e as primeiras serão as detetives que estão me caçando..."

  Percebi que o máxilar da Mallya ficou rígido e então continuei:

" A Mallya é diferente, há algo nela que está me deixando louco, você não acha Oficial Wonho? Não acha que sua 'filhinha' é selvagem demais para ser apenas tratada com carinho...?"

" Fiz questão de homenagear o alta que a Alícia teve hoje no hospital, espero que tenha gostado Delegado, próximos virão em homenagem a ela."

  Fiquei desconfortável quando meu nome apareceu diretamente em um dos bilhetes, Mark parecia levemente incomodado ao meu lado, mas era tão sutil, e ele estava escondendo isso tão bem que eu quase não notei que estava furioso com o que lia. Só notei quando o cabelo havia mudado de cor, parecia um cinza meio arroxeado porém a raiz era preta. Pulei alguns bilhetes e fui logo para o último.

" Essa tinha dezesseis, é a mesma idade da Alícia... Me imaginei com ela, fazendo tudo o que fiz com esta garota, pensando na sua filha Delegado, ela debaixo de mim, gritando e implorando que não tirasse sua virgindade com tanta brutalidade... Será que a Alícia gritaria tanto quanto essa ou ficaria apenas chorando?"

PRISON IIWhere stories live. Discover now