88 - Provocar

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- Posso acabar com isso rápido... Mas não teria tanta graça, então vou te fazer sofrer, muito mesmo. - Ele sorriu mais, eu conseguia sentir os lábios se curvando para alargar aquele sorriso endiabrado como se fosse o fio de uma navalha cortando lentamente na minha garganta.
Quando senti sua mão gelada no meu pescoço as lágrimas empoçadas nos meus olhos escorreram pelos meus olhos e eu soluçei. Era tarde demais, meu corpo inteiro gemendo de pavor havia me consumido de medo. Eu não sabia me defender, e não dava tempo de correr.

- Jong Up on-

- Jennie... - Cantarolei fechando o livro com um sorriso estalado na face, queria que todos vissem minha mais nova obra de arte, e veriam, mas o que mais importava não era o público, mas sim o descontrole emocional em que eu deixaria as jovens detetives no final da brincadeira.
E pra isso, tudo tinha que sair perfeito.
- O que foi Up? - Ela indagou lançando um olhar reprovador pro cadáver que eu fiz no chão e eu alarguei ainda mais o meu sorriso.
- E então?? - Indaguei sem me cuidar de detalhes, queria ser o mais direto possível. Só queria ver elas começarem, ver até onde iriam com a droga naquelas fumaças. Nada melhor do que veneno de Ninfa, uma substância tão inofensiva pra humanos, mas tão prejudicial para fadinhas inocentes...
- Elas estão nas posições do plano, só falta você deixar começar. - Jennie ignorou meu entusiasmo e balançou a calda do vestido vermelho brilhante que ameaçava se sujar com o sangue do chão - O combinado de ceder o lugar era que fosse sem corpos, ele era da minha alcatéia. - Reclamou ela e eu olhei mais devagar na sua direção.
- Ele vai sumir antes de você entregar o lugar de volta pros seus pais, afinal a bala não era de prata. - Comentei e lançei uma piscadela na direção dela, que revirou os olhos.
- Como vou saber que não está mentindo pra se safar? - Indagou ela e eu sorri ainda mais, talvez fosse hora de brincar com ela antes de começar meu verdadeiro show. É tão saboroso ver os olhinhos deles apavorados. Eu adoro lobisomens amedrontados.
Comecei a andar na direção da porta, e já que ela estava na saída, foi ainda mais fácil de aborda-la.
- Confirme por si mesma. - Afirmei e finquei o cano da arma no seu peito e logo em seguida disparei.

- Mallya on-

- Está se sentindo sozinha? - Indagou Jong Up olhando do outro lado da sacada e enquanto engolia em seco eu senti meu corpo inteiro enrijecer arrepiado, logo me incentivando a arrancar a katana da bainha. Havia trazido ela, mesmo no sufoco porque não havia onde esconder. E sei que valeu a pena.
- Cade a Alícia?!! - Indaguei entre dentes apertando as mãos no cabo da espada e ele sorriu balançando levemente a cabeça com um ar inocente. Os trajes de adolescente não combinavam com a aparência de cafetão sofisticado. Sinceramente parecia um verme que eu ia esmagar.
- Por favor. - Ele apontou para a katana achando que eu ia baixa-lá, mas só fortaleceu minha vontade de atravessar a lâmina na pele dele até ver a corpo sumir do seu rosto.
- Se eu perguntar mais uma vez a última coisa que verá vai ser suas vísceras escorrendo pelo chão. - Alertei fulminando ele, e ele soltou um suspiro.
- Então venha, permita-me aproveitar sua adorável presença enquanto a guio até sua amiga. - Ele apontou para uma porta atrás de si com a mão aberta, parecia inocente, mas estava mais do que claro que era uma silada. E eu não cairia nessa.
- É isso, ou me matar. - Ele sorriu mais, agora a inocência havia desaparecido de seus lábios, e então se virou pra porta ainda falando - De qualquer forma eu lhe garanto que coloquei sua amiguinha num lugar tão divertido, que se você me matar ela nunca mais vai parar de rir e vai morrer bem devagar, sem nenhuma alma esperta o bastante pra descobrir onde aquela inocente detetive pode estar.
A frieza na voz dele, ou então a adrenalina cerregada demais em seu tom de voz animado me fez entender aquela ideia de forma macabra, seja o que quer que tenha acontecido com a Alícia, não foi bom.
- Vai logo. - Mudei de ideia, precisava descobrir onde estava a Alícia, mesmo que tivesse que escapar de uma silada depois.

- E então, o que fez com ela?? - Indaguei na defensiva e Jong Up me lançou um olhar curioso por cima do ombro.
- Ela está bem... Por enquanto, só seu psicológico que pode estar um pouco mais bagunçado que o normal. - Ele respondeu sorrindo, mas pareceu sincero, o que me deu um leve tremor de pânico dentro do peito.
- O que você quer dizer com isso? - Indaguei e ele sumiu com seu sorriso, mantendo a cara inocente.
- Não sei, me diz você Mallya. - Ele virou a conversar, agora estávamos andando lado a lado e eu não estava mais apontando a katana pro seu estômago e sim pra garganta, bastava ele tentar alguma coisa que morria impiedosamente.
- Como assim? - Retruquei.
- Ouvi muito sobre você, mas não achei que fosse verdade até olhar em seus olhos e comprovar tudo.
- Desenbucha logo e para de rodeios! - O pressionei apontando a lâmina da katana em seu pescoço e ele sorriu quando sentiu que eu não estava brincando sobre o matar. Parecia estar se divertindo, sentindo prazer pela ameaça da morte.
- O que você acha, de uma pobre garotinha abandonada pela mãe e a vida inteira renegada pelo próprio pai biológico. -
- Cala a boca se não sabe falar nada que preste. - Rebati tentando fingir que era inabalável e ele sorriu pra mim como se fosse um adulto, e eu me senti uma criança indefesa, começando a ficar presa no seu joguinho emocional. Ele estava tentando trazer aquela pequena menina assustada da minha infância, mas não iria conseguir.
- E como se não bastasse... Agora está sendo abandonada até pela melhor amiga. - Ele jogou veneno e eu fiz um corte na sua mandíbula, o sangue quente escorreu e ele sorriu mais, parecia estar se divertindo. O que começou a deixar cada nervo do meu corpo inflamado, como se pudesse pegar fogo.
- Você não sabe o que fala. - Rebati outra vez e ele sorriu ainda mais, tantos dentes brancos e cruéis que até perdi a conta.
- Acha mesmo? Então negue isso, pode negar pra mim, mas seu coração fútil é sincero demais pra mentir pra você, você está sentindo Mallya, sentindo que lentamente sua amiga está perdendo o interesse por você, assim como seu anjinho caído. E quando tudo acabar você vai ser abandonada por todos eles. De novo. E de novo. Por que é assim que você sobrevive, sendo descartada depois que não serve mais pra uso nenhum e depois se reergue pra ser usada pelo próximo, igual a sua mãe. - Ele foi tão cruel na escolha das palavras que senti ânsia. O jeito e a trajetória das suas palavras me enojaram demais a ponto de afrouxar a mão na espada. Foi questão de segundos pra katana abaixar e minha mão estalar na face dele com tanta força que ele virou o rosto pro lado exasperado.
- Cala a boca! - Grasnei sentindo as mãos trêmulas e ele sorriu ainda mais, parecia o gato cheshire da Alice no país das maravilhas. Só que agora estava com sangue na boca, escorrendo lentamente pelo lábio inferior enquanto minha mão coçava e ardia.
- Se dúvida tanto, por que não pergunta pra ela? - Indagou Jong Up, as marcas seladas dos meus dedos seladas na sua face, foi então que desmanchou seu sorriso. Agora abrindo uma porta que me tiraria daquele corredor inteiramente branco e vazio de onde havíamos passado.
Levantei a katana e fui pra sala, meu emocional havia falado alto demais para conseguir me impedir, meu coração parecia que ia explodir dentro do peito, e a adrenalina jorrando nos meus tímpanos me distraiu tempo suficiente pra não perceber, essa era a silada, quando escutei a porta bater atrás de mim depois de ter entrado na sala, estava certa de que o cômodo estava vazio, e eu totalmente trancada, com apenas Jong Up lá dentro como companhia.

PRISON IIWhere stories live. Discover now