113 - O Fim das Três Loucas

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  - Acredita mesmo nele? - Indaguei intrigada e ela me lançou um olhar de desprezo forçado.
  - Você sabe que não. - Ela atenuou se olhando por um breve instante no espelho, quando voltou a olhar pra mim estava completando - Mas se ele estiver tramando alguma coisa pra pegar esse livro, vamos pegar ele antes!
  - Com toda razão. - Acabamos rindo da situação, mas assim que eu percebi que já havia chegado a escola estacionei bem devagar na frente do pátio de entrada.
  - Tá com coragem? - Perguntou a Mallya pra mim e eu engoli em seco junto com o medo, não gostava daquelas três loucas, mas acabava sendo necessário enfrentar aquelas bruxas pra conseguir um portal. E nós duas não íamos deixar o Gap Dong ferrar o Tae, ele iria cair antes de nós.
  - Como um bom soldado. - Respondi com decoro, devotada a sair daquele carro largando o medo pra trás.
  Abrimos as portas, mas quando pisei do lado de fora aquela valentia de três segundos havia me abandonado junto com o aquecedor do carro. O tempo estranho e nublado havia transformado a cidade num lugar quase mais mal assombrado do que já era. O que não dava pra enxergar o vento fazia questão de soprar direto no nosso rosto com rajadas frias e cortantes.
  - O que estamos esperando? -Mallya me indagou com a lanterna na mão e eu coçei os olhos num impulso nervoso.
  - Você acender essa coisa. - Caçoei e fomos entrando no pátio. De frente pro portão eu já havia levantado o turquesa, quebrei o cadeado com tanta facilidade que quis até me parabenizar, mas a Mallya invadiu o Colégio mais rápido que a minha vontade de fugir.
  Os corredores dos armários estavam gritando silêncio, de um jeito tão macabro que chegava a ser desencorajador entrar ali. Porém mesmo assim entramos, com uma arma e produtos especiais para lidar com assombrações, desde muito sal, a saber exatamente o que é que precisávamos queimar para poder acabar com as três de uma vez caso alguma coisa desse errado.
  Havia passado as últimas seis horas pesquisando tudo que podíamos sobra elas, o bastante pra entender e garantir que não morreriamos antes de passar pra segunda etapa do plano. Agora já estava decidido, eu precisava tocar aquele livro com as minhas mãos. Saber do que era feito, e porquê era tão cobiçado por todos.
  - Alguma coisa? - Sussurrei olhando pra ela, mas ela maneou a cabeça negando. Nos viramos de costas uma pra outra e ficamos a postos nas retaguardas para garantir que não seríamos pegas desprevinidas. Se lidar com um fantasma já era poderosamente difícil, imagina com três.

- Mallya on-

  - Espero que esteja armada por caso de alguma coisa dar errado e tivermos companhia. - Avisei, não esperava que algum humano fosse aparecer, mas não deixava de desconfiar que em plena lua cheia não aparecia uma criatura descontrolada por aí. Já era quase premeditado.
  - É claro. Está muito bem preparada. - Respondeu ela sobre o resolver com balas de prata e eu relaxei, por apenas dois segundos até escutar uma voz feminina extremamente parecida com a da Alícia sussurrar na minha orelha.
  - Olha pra esquerda...
  Congelei onde estava, já havia sentido os calafrios descendo pela espinha, o ar gelado que se infestava pelos armários e atravessavam nossas roupas já demunciavam a presença delas.
  Dei uma sutil cotovelada na Alícia, de leve o bastante pra ela se tocar que o show já estava começando, e seria tão direto que já queriam quebrar nossos pescoços pra começar.
  - Olha pra esquerda, tem uma delas ali.
  A voz estava ficando idêntica a da Alícia. Literalmente parecia ela falando.
  - Alícia você disse alguma coisa? - Indaguei como já havíamos combinado de fazer, iríamos entrar no jogo delas.
  - Eu não disse nada... - Foi ela terminar de tentar falar que levamos. Parecia uma rasteira daquelas, que foi bruta o bastante pra arredar nossos pés do chão e jogar as duas pra trás. O "vento" nos derrubou.
  Conforme a bunda batia naquele chão duro, eu e a Alícia já levantavamos as armas com sal apontando pra elas. Disseram à esquerda, mas estavam à nossa direita, só esperando pra quebrar nossos pescoços.
  Mais de dez disparos foram acionados por cada uma e quando acabamos, demos de cara com três silhuetas trajando braco e se esquivando com dificuldade no meio das sombras, tínhamos tempo, elas haviam sido atingidas.
  - Não cometam o erro... - A do meio já estava começando a falar antes mesmo de nos termos levantado. - Ele não vale a pena,
  O que elas sibilavam não estava sendo coerente.
  - Do que vocês estão falando? - A Alícia indagou e deu um tiro na do meio para desestabiliza-la. O sal não era o bastante pra matar, mas pelo menos dava pra torturar deixando elas mais lentas.
  - O anjo não é que você pensa que é... A mais do passado escondido na cabeça dele do que você pode imaginar...
  - Como é? - A do canto da direita havia prendido minha atenção, ela estava falando do Tae?
  - A sua mãe gerou uma criança dele no ventre, há muito mais do que semelhanças em vocês...
  A da esquerda estava falando agora e eu havia ficado intrigada. Do que elas estavam falando, era do Tae mesmo? Por que? Ele conhecia minha mãe?
  - Mallya não perde o foco, elas estão tentando nos destrair. - Alícia me fez acordar, mas a curiosidade estava me corroendo. Como assim?
  - Eu quero fazer mais uma pergunta Alícia. - Comecei, o coração disparando, eu precisava saber mais, mas a fantasma do meio sorriu com uma maldade quase surreal. Era uma distração, e havia nos tomado tempo o bastante pro efeito do sal já ter passado.
  - Corre! - Berrei arregalando os olhos quando me toquei do que tinha feito, e nós duas corremos, batendo os pés apressados, só precisávamos que ela viessem até nossos armários. Podíamos não ter esqueiro no momento, o que ia nos impossibilitar de queimar os três velhos colares de safira que achamos no cemitério a duas horas atrás, mas assim que eu ativasse o sensor do meu armário, ia estourar uma rajada cheia de fogo pelo corredor incendiando as três peças das fantasmas. Era uma garantia da nossa segurança, era uma pena que seria usada tão precocemente, ainda tinha dúvidas.
  - Mallya acho que tá na hora! - A Alícia gritou quando ficou pra trás, uma das três havia pegado ela, e eu só estava esperando me pegarem, estava bem perto do armário agora.

  - Alícia on-

  - Meleca...!! - Gritei irritada quando percebi que o plano havia fugido um pouco do controle, minha arma estava no chão a poucos centímetros de mim, mas eu não conseguia alcançar com aquela bruxa em cima de mim me enforcando como se fosse uma boneca. Mesmo esperniando a ponto de ficar sem ar ela não afrouxava. Parecia até gostar do desespero no meu rosto. Por um instante, antes de gritar o que quer que escaoasse da minha boca, veio na minha mente se o Gap Dong havia feito isso com a minha mãe, eu já tinha visto o laudo do caso, mas imagino a sensação. A sensação doce da morte se aproximando, enquanto o coração vai se entregando pro pânico.
  - Mallya! - Engasguei num urro e ela gritou, já havia conseguido fazer uma das fantasmas a derrubar, a bruxa que não estava com as mãos ocupadas tomou da mão da Mallya os velhos colares e assim que se levantou eu ainda pude escutar o clique do sensor sendo acionado, de repente o corredor se encheu com o fogo selvagem de Huoyan, tão forte que enquanto o aperto da fantasma se dissolvia no meu pescoço, pude apalpar o calor do cômodo. Quando terminamos, o que restou foi um Dragão pulando de dentro do armário apertado e indo direto pros braços da Mallya, enquanto eu me levantava pra buscar os vestidos brancos das fantasmas. Aquilo seria o nosso portal.

PRISON IIWhere stories live. Discover now