33 - Saída do Labirinto

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  Sem perder mais tempo, Mark me estendeu a mão e me ajudou a levantar rapidamente, a dor que subiu pelas minhas costelas quando fiz isso me levou instintivamente a cerrar os olhos e Mark segurou meus braços, dando-me apoio.
  - Foi a Alícia não foi? - Perguntou ele apreensivo e alerta, e eu assenti, mesmo sem ter como confirmar que tinha sido o poder dela que atravessou as paredes do labirinto e desestruturou nós dois, de alguma forma eu sentia que tinha sido ela quem fez aquilo. Não a dor, mas o despertar.
  - Mas temos problemas maiores pra lidar agora. - Retomei arfando, estava ficando difícil respirar - A fantasma está muito violenta e precisamos nos livrar dela. Nas tradicionais crenças japonesas afirmam que todo ser humano tem uma alma chamada reikon. Após a morte, com a saída da reikon do corpo, o ser entra em um outro estágio, conhecido pelos ocidentais com o nome de purgatório, onde aguarda os ritos fúnebres. Se corretamente preenchidos, o reikon se satisfaz e se torna um protetor da sua família. - Falei olhando pra Mark e ele continuou me encarando, esperando a conclusão do meu raciocínio - No entanto, se uma pessoa morre em uma tragédia ou uma morte não natural, desssa forma impedindo que os ritos finais sejam devidamente realizados, o reikon torna-se um yūrei. O yūrei sofre com suas angústias no purgatório, clamando pelos ritos fúnebres que podem liberta-lo. Se o yūrei desenvolve ligações emocionais fortes o suficiente com o mundo físico, ele sai do purgatório retornando ao nosso mundo como um fantasma, ou seja, precisamos usar algo contra ela... Talvez virar o mesmo jogo de medo, já que ela está usando nossos medos pra ganhar forma... E o único jeito, já que não estamos no Japão e aqui as coisas devem funcionar de forma diferente, é colocar ela onde ela mais teme, onde tem medo... - Alternei piscando os olhos, enquanto contemplava Huoyan, que ainda estava no ombro de Mark, olhando ao redor e grasnando com um olhar mortal e direto percorrendo pelos caminhos mal iluminados do labirinto.
  - Falando em medo... Fantasmas desse lado do mundo são as únicas criaturas que não vão para o purgatório, pois reviveriam sua morte. - Falou Mark, pensando em algo pra fazer, à medida que podíamos perceber no comportamento agitado de Huoyan, que a fantasma, estava se aproximando novamente. E eu o encarei, como se estivessemos concordando mentalmente com o mesmo plano sendo trajado, e por um momento senti um aperto no peito que me fez lembrar da Alícia. Eu não sabia até que ponto extremo essa conexão dela com o Mark ia, mas tinha a noção de que em muitas coisas eles eram parecidos demais. Assustadoramente parecidos.
  - Então vamos fazer essa vadia revoltada passar pelos sete portões do inferno! - Numa forma de concordância com a ideia dele assentimos um pro outro e Mark me fitou por alguns segundos. Foi quando Huoyan se moveu, grasnando inquieto para uma única direção, às direitas, no local mais escuro dos caminhos de pedra.
  - Minha foice tem ferro, mas eu preciso que ela acenda. - Anunciou Mark e eu peguei Huoyan nas mãos, e ele guiou seu corpo esperto sobre os meus dedos até se ajeitar nas minhas palmas. Foi então que olhei pra Huoyan novamente, já raciocinando nos meus pensamentos o que Mark queria dizer com suas palavras.
  - No momento certo. - Avisei e Mark passou os olhos de mim, para o local onde Huoyan grasnava de forma ameaçadora.
  - Assim que avista-lá. - Anunciou Mark e eu passeei os olhos pela escuridão do caminho distorcido do labirinto, uma corrente de ar frio vinha de lá, e por anos de prática nessa área nem precisávamos pensar duas vezes pra concluir que ela só estava blefando, pra chegar pelas nossas costas. Como mais uma de suas armadilhas.
  - Preparado? - Indaguei me abaixando e colocando Huoyan no chão e Mark respirou fundo, o peito estufado de ar conforme suas feições ficavam ainda mais sobrias, buscando sua origem do apocalipse.
  - Mais do que nunca. - Afirmou tirando a foice da posição de guarda e a empunhando diante de Huoyan, que pareceu nem ter percebido a grandiosidade cortante a sua frente. Como se ela não lhe afetasse em nada, o que mudou totalmente depois da minha ordem assim que senti o calafrio descer pela espinha.
  - Bultaureone. - Com a minha ordem fez-se um clarão, quase me cegando com sua incandescencia, mas me mantive de olhos abertos, contemplando com orgulho o poder daquele dragão que mesmo ainda tão pequeno era tão poderoso. Como se fosse uma combinação química, a foice se acendeu, irradiando labaredas ardentes pela lâmina mortífera e os olhos de Mark, tomados pela escuridão brilharam. Senti o toque gélido nas minhas costas, ainda estávamos virados pra área em que a fantasma armava, e assim que os cabelos da minha nuca se arrepiaram, eu me virei, dando de cara com a face pálida da jovem, que sorriu ao olhar dentro dos meus olhos com sua feição vazia. Não foi preciso muito, Huoyan esperava uma ordem, mas o que eu fiz foi com as minhas próprias mãos, agarrando-a pelos cabelos e num movimento rápido eu a havia virado para Mark, rendendo-a, entregue nas mãos da morte.
  Reluzindo a foice se levantou, e desceu com velocidade, mal teve tempo de gritar e a fantasma sentiu o ferro da lâmina atravessando sua barriga, até o outro lado do corpo. Perfurando seu corpo astral e jorrando sangue sujo no chão. Era minha deixa, eu a soltei e dei outra ordem pra Huoyan que não hesitou em incendia-lá.
  Cheia de ódio e dor ela gritou, um som estridente e horripilante escorregou para fora de sua garganta e eu senti minha estrutura se abalar, ela separou os braços, abrindo-os como se fosse uma versão macabra de um figura religiosa na cruz, e berrou novamente como um animal. Furiosa e dominada pela sua própria dor.
  - Eu te condeno, por todos os seus pecados, proibindo sua ressurreição nesta terra, para passar pelos 7 portões do purgatório, desde o inferno ao céu, onde será julgada por tudo, - Mark inicioi um discurso e eu arrepiei completamente ao perceber uma coisa em suas palavras, que nunca havia notado antes - Adeus alma perturbada. - E então a morte, em seu domínio de poderes atravessou sua mão esquelética na pele da menina, entrando no seu peito, até chegar ao coração, onde eu vi serem distribuídos vermes e larvas para corroe-la por dentro, pouco a pouco até o seu fim. Até ela desaparecer diante dos nossos olhos e Mark voltar ao normal.
  Fui até Huoyan o pegando no colo, e engoli em seco quando Mark me chamou.
  - Mallya. - Sua voz, aquela visão de que ele em alguma parte poderia ser bom havia sido dizimada com o meu espanto, era uma possibilidade, eu sabia que haveriam prós e contras, mas era uma esperança, que estava rastejando pela minha cabeça. Com ódio me irritei por não ter pensado nisso antes. Que a morte, principalmente o cavaleiro da morte que representa o apocalipse com sua foice, podia ressuscitar pessoas ou qualquer criatura que fosse. Tentei esquecer esse pensamento e me virei para Mark, me esforçando para pensar em outra coisa.
  - Vamos... - Falei com a voz embargada e automaticamente fui até ele, me segurando para não enche-lo de perguntas de uma vez - Vamos sair logo daqui.

  Quando o relógio marcava dez da noite, depois de cinco minutos caminhando no caminho que Tae havia apontado, eu e Mark e Huoyan, cansados e exaustos do dia corrido, avistamos as sirenes da Polícia, e os familiares meu e da Alícia, todos unidos, enquanto ela com um cobertor nos ombros olhava pra nós três, aliviada por termos saído em segurança.

Eu sei que ficou grande, mas valeu a pena😄finalmente eles vão descansar né, que dia mais longo e corrido pra eles...😅bom, votem e comentem e sexta-feira tem mais😘.

PRISON IIWhere stories live. Discover now