81 - Questão de Tempo

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- Mallya on-

  Me joguei embaixo do chuveiro, deixando a água fria tomar minha pele numa falha tentativa de combater a febre. Conseguia sentir o suor frio me derretendo por dentro, a sensação do frio constante me cortando, mas não aguentaria tomar um banho quente sabendo que a febre iria me vencer.
  Não me permiti ficar tanto tempo com a cabeça embaixo d'água, queria respirar. Então encostei a cabeça no vidro gelado do box, vendo tudo embaçado enquanto a água gelada caia nos meus ombros e descia pelas omoplatas.
  Assim que fechei os olhos, as lembranças foram atravessando monha mente sem permissão. O caso inteiro, desde a primeira vez em que estivemos tão empolgadas com um serial killer na cidade. Eu ninguém desejei o mal de ninguém, e sempre soube que a Alícia era justiceira o bastante pra ter os mesmo princípios que eu. Porém, sempre houve aquele resquício de dúvida.
  Não sobre o caso, ou as pessoas que foram vítimas, mas sobre nós. Nós duas. Desde o princípio da época em que nos conhecemos sempre foi assim. Ela sempre foi até o extremo para conseguir o que queria, mesmo que isso significasse até mesmo matar alguém pra conseguir. Nunca a vi matar ninguém ainda, mas muita gente foi muito torturada em nossas mãos, e ela não se arrependeu de nada.
  Era sempre assim. Eu fiquei surpresa quando ela reagiu no bar por minha causa. Ela nunca ficou tão indecisa sobre tomar uma atitude. Acho que o instinto de proteção dela diminuiu com o tempo, afinal se ela quisesse poderia ter feito muito mais do que ter esperado eu levar um tiro pra só então reagir.
  A lembrança do tiro me fez gelar até a espinha, a comida que não comi revirou meu estômago vazio, náuseas me atravessaram. Abri a porta do box e fui pra privada, devolvendo água. Vomitar não parecia suficiente.
  - Mallya? - Escutei a porta se abrindo e Tae invadiu o banheiro vindo as presses me ajudar.

- Alícia on-

  Desliguei o carro e fiquei fitando o parabrisa enquanto tomava coragem, ou tentava recuperar minha consciência sobre o que estava prestes a fazer. Eu não estava contando que ia morre, mas meus instintos me arranhavam às entranhas insinuando que eu perderia algo muito importante, e se não minha própria vida, eu não teria coragem de suportar sem antes me despedir. Mesmo que ele não mereça.
  Sai do carro e fui pra dentro do sobrado antigo, torcendo pra ele não estar lá. Eu o queria, queria me despedir mais do que tudo, mas não tinha coragem suficiente para o que estava prestes a fazer.
  Mesmo assim entrei no elevador e apertei o botão que me levaria até o andar dele. Sem pressa, o coração já estava na garganta, eu sabia que estava me afundando, destruindo o que restava ainda da linha sanidade porquê me sentia errada de alguma forma, então queria me afundar até não ter mais o que fazer. Até que minha despedida tenha valido a pena o bastante para poder me despedir do que poderia perder esta noite.
  Quando parei na frente da porta dele, antes de bater ele havia aberto a porta. Mark estava na minha frente com aqueles olhos negros curiosos sobre mim, queria entender por que, mas eu não daria respostas, queria esquecer o que fiz a Mallya, queria me destrair. Então cedi.
  Sem palavras eu havia me jogado em seus braços, enfiando minhas mãos em seu cabelo enquanto ele se encarregava de roubar um beijo demorado e faminto dos meus lábios e agarrar meu corpo.
  Eu estava disposta a sucumbir para alcançar meus objetivos, e sabia que tudo era apenas uma questão de tempo. Eu acabaria sozinha, apenas a Mallya machicada permaneceria do meu lado, mas eu perderia todos. Todos menos ela. Uma irmã que sempre fez parte da minha alma.

PRISON IIWhere stories live. Discover now