57 - Controle Psicológico

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- Alícia on-

  Mark levantou o olhar espantado e eu olhei automaticamente na direção dele, agora encontrando um pequeno corte, que até então não havia notado, na sua garganta, tão fininho, que quase não aparecia. O jornal na minha mão parecia estar pulsando a notícia pra fora da imagem. Eu sabia que aquela saída de madrugada e o gosto de vinho na boca dele significavam alguma coisa, e não sei porquê havia acreditado na mentira dele dizendo que não havia matado ninguém! E aquele pedido de casamento... Era tudo pra despistar minha desconfiança, aquilo me destraiu tanto que eu perdoei ele, até cogitei a ideia de aceitar. Agora eu podia sentir um gosto amargo subindo pela garganta e minha mão ficando mais rígida em volta do jornal, até chegar ao ponto de amassa-lo no punho.
  - Você tem o direito de permanecer calado, e eu mesma vou te algemar e entregar pro meu pai. - Falei fria, e Mark me olhou nos olhos, aparentemente espantado com a minha reação.
  - O quê? - Indagou se levantando enquanto colocava Suguinha sobre o balcão, parecia ofendido e meu sangue ferveu por causa da expressão no rosto dele.
  - Não quero teatro, já cansei disso. - Alertei com a voz carregada de raiva e ele me fulminou.
  - Você acha mesmo que fui eu??! - Esbravejou de repente, como se tivesse sido insultado - Que bela detetive você é, achei que precisasse de provas antes de prender um criminoso! - Rugiu e eu pressionei os dentes, o suficiente para sentir minha mandíbula doer por causa da pressão no máxilar.
  - Eu sei. E você também sabe. Ou vai me dizer que não foi você descaradamente e se fazer de vítima??! - Bradei de volta e joguei o jornal sobre o balcão, na frente dele, com a notícia estampada na primeira página - É sua obra isso daí!
  Percebi que a Mallya estava ficando tensa e todos ao nosso redor pareciam sem reação, eu havia sido muito repentina, e pela cara deles tenho certeza que assustei bastante gente.
  - Não fui eu. Você sabe que não, e eu tenho como provar! - Retrucou Mark e tirou alguns papéis do bolso, eram notas fiscais, junto com uma pequena caixinha de veludo, e isso me ferveu ainda mais. Sem relutância Mark me estendeu as notas fiscais, e eu olhei os horários, 03:00 am até as 03:40 foi o tempo do bar, um bar caro do centro de Helltown que eu sabia que tinha câmeras pra poder checar, e fixado na outra nota havia o tempo que ele passou numa loja que fica aberta 24h, ele passou exatos vinte e três minutos no local.
  Peguei o jornal e olhei os horários das mortes. Batiam com o horário gasto dele no bar e na loja, com um intervalo breve de três minutos até ele sair de um local e ir pro outro.
  - Satisfeita agora? - Indagou Mark guardando a caixinha de veludo, que eu sabia que tinha uma aliança de noivado, de volta no bolso.
  - Cretino. - Sussurrei ardendo, algo parecia inflamado dentro do meu peito, e pude sentir uma mão no meu ombro, eu não precisava olhar pra trás pra saber quem era, só havia uma pessoa no mundo que segurava meu ombro daquele jeito quando eu estava prestes a estourar. E na maioria das vezes dava certo, e eu até queria que dessa vez desse, mas meu sangue parecia elétrico dentro das minhas veias, formigando por todo o meu corpo como se eu estivesse em chamas. Eu mal conseguia ouvir os cochichos, ou então o silêncio em volta. Minha cabeça parecia prestes a explodir.
  - Alícia, você está equivocada. Ele tem um álibi. - A Mallya me falou, tentando me acalmar e eu trinquei o máxilar com mais força. Minhas mãos estava tremendo de nervoso enquanto eu me esforçava pra não derrubar todos os papéis no chão. O cheiro de café recém-passado pelo Tae estava ondulando pela cozinha, preenchendo o ar com um toque calmo, e isso só coloborava para uma sensação que eu não estava me permitindo sentir a semanas. Que aquilo estava errado, que todos tinham o direito de viver, menos os que já tiraram vidas por prazer.
  - É. - Concordei com toda calma do mundo, falando mansamente ao devolver as coisas pro balcão - Ele é só um cidadão inocente. - Assenti, e meus ombros ficaram rígidos, minhas omoplatas ardendo euma queimação subindo pela nuca com uma dormência latejante e dolorosa. Tinha algo de errado, meu corpo não me obedecia mais, e estava fazendo exatamente o que eu queria fazer e não me permiti.
  Me desvencilhando do toque da Mallya eu parti pra cima de Mark. Não deu tempo dele nem reagir, não esperava pelo ataque surpresa, e sendo assim eu, de uma maneira que não compreendia, peguei ele pelo pescoço, apertando sua garganta entre os dedos e o prensei contra parede com brutalidade. Praticamente o tirando do chão.
  Ouve um espanto no grupo ao redor e não demorou para que eu sentisse mãos nos dois ombros agora.
  - Confessa! - Rosnei pra Mark e ele se engasgou, foi quando eu fui puxada pra trás, afastada de Mark que percebi que quem tinha vindo me segurar não era a Mallya, mas sim Jung Kook. E havia me tirado do chão, me segurando por trás para garantir que eu não tentaria mais nada.
  - Acho melhor esfriarmos essa cabeça. - Propôs Jung Kook me arrastando pra fora da casa pela porta da cozinha, e eu olhei para os meus punhos cerrados, constatando que realmente havia passado do limite. E que eu não havia sentido nada. A conexão falhou.

PRISON IIWhere stories live. Discover now