84 - Noite das Damas

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Saindo do banheiro, ainda enrolada na toalha, tive uma ideia que poderia me ajudar a organizar as últimas memórias daquele dia estranho. Ligar pro Mark.
Vasculhei a cama, o guarda-roupas, e até o chão, porém só encontrei o celular embaixo da cama. O porquê, e como foi parar lá, eu realmente não sei.
Minha cabeça estava uma zona ainda maior que o meu quarto, me sentei na cama com o celular e suspirei alto. Sem o Mark eu fazia muita bagunça...
Vasculhei nos contatos o número dele balançando os pés enquanto controlava minha ansiedade, e assim que o encontrei eu engoli em seco encarando os números do telefone, vidrada na foto que havia de contato. Os cabelos castanhos de Mark na foto o deixavam tão normal.
Ouvir a voz dele, agora que eu estava com dor de cabeça e morrendo de sede por causa da ressaca que já me ameaçava parecia uma forma reconfortante de me torturar, que eu não queria fazer, mas que poderia esclarecer muita coisa. Balancei os pés mais impaciente, ligava ou não?
De repente alguém bateu na porta e meu dedo escorregou na tela. Acidentalmente chamando o número.
- Quem é? - Indaguei pra porta enquanto colocava o celular na orelha torcendo pra ele não atender.
- Sou eu, quer conversar sobre o que aconteceu pra você ter sumido hoje? - Era a Mallya preocupada, pelo tom da voz estava cansada.
- Mally - Eu tentei ser carinhosa, mas me senti falsa ao pronunciar o apelido dela - Eu to numa ligação, mas já saio pra gente conversar.
- Ok. - Escutei-a dizer através da porta, a voz abafada foi se afastando junto com passos furiosos e então a ligação caiu. Suspirei mais alto e joguei o celular em cima da cama.
Cretino!
Eu precisava que ele me atendesse, assim vou ficar sem saber o que houve.
Escutei um miado irritado e senti um der peludo e preguiçoso subir no meu colo arrastadamente, Suguinha estava com sono de novo pelo visto. Isso que estava dormindo desde que cheguei.
- Hey garoto... - Acariciei sua cabeça e ele ronronou, ameaçando pegar meu dedo com a patinha peluda numa brincadeira - O que andou fazendo hoje em? - Perguntei retoricamente enquanto descia a mão pra acariciar a barriguinha dele e comecei a me sentir tonta.
Levantei a cabeça e olhei em volta do quarto. Não havia nada de errado e o álcool já estava controlado no meu sangue, então o que estava havendo?
- Suguinha o que? - Infaguei e o gato miou de novo, ele se levantou do meu colo, os olhos dele estava ficando vermelhos - É você...? - Vi as garras do Suguinha saindo, ele estava mostrando pra mim - Sug... - Não consegui terminar e ele passou as garras no meu braço esquerdo me fazendo arquejar. Quando comecei a sentir o sangue descendo pelas linhas finas dos cortes minhas veias formigaram, e de baixo para cima, do pulso subindo pros dois ombros e atravessando meu corpo instantaneamente eu senti adrenalina e um explosão gélida se apossar da minha cabeça e do meu corpo.
Foi quando as imagens começaram a voltar na cabeça, num quarto, eu não estava sozinha, tinha alguém lá comigo, mas eu mal enchergava, o corpo parecia revirado e meu estômago queria me fazer vomitar. Meu corpo estremeceu quando notei que a figura estava de pé e se mexendo. Por incrível que pareça algo nos meus instintos me alertava de que eu conhecia aquela silhueta, mas a visão que eu estava tendo era tão turva que mal pude confiar nos meus olhos a identidade do ser.
- Alícia o que está havendo aí? - Escutei alguém bater na porta com força, parecia ser a Mallya, mas me deu ânsia assim que tentei me levantar da cama.
A imagem do quarto havia escapado da minha frente e tudo que me restará era apenas imagens de corpos, uma atrás da outra como se eu estivesse num beco escuro, cheio de corpos. Conseguia sentir o cheiro metálico da morte e do sangue esparramado pelo chão, mas eu ainda sentia que estava no quarto. Aquilo parecia, uma ilusão se misturando com a realidade, porém parecia falsa demais.
- Você vai ficar bem meu amor. - Escutei uma voz e me levantei da cama bruscamente, era uma voz áspera, porém firme, que eu podia jurar que era do Mark, mas não conseguia ter certeza.
- M-mark...? - Me engasguei quando senti mãos geladas tocando no meu rosto. Ele estava na minha frente, mas eu não conseguia enxergar ele, só o beco e os corpos, cada vez mais corpos amontoados - O que está acontecendo? - Perguntei assustada arquejando e as mãos dele desceram do meu rosto pros meus ombros desnudos da toalha.
- Senti sua falta... - Escutei ele dizer e então senti um peso enorme no peito, e outro no meu braço, acompanhado de um picada bem dolorida. Era uma injeção, para que servia eu já não sabia, mas conforme meu corpo ia escorregando pelos braços dele eu pude ter uma última visão do beco, era de uma cabeça, a cabeça decepada de um homem que usava uma máscara de palhaço.

Arquejando eu abri os olhos com o coração disparado, Suguinha estava do meu lado esquerdo e do direito a Mallya gritando meu nome desesperada. Eu não estava mais no beco, agora minha realidade pertencia novamente ao quarto.
- Alícia o que aconteceu?!! - Mallya perguntou me olhando de cima abaixo preocupadíssima e eu engoli em seco.
- Eu acho que lembrei o que aconteceu durante o meu dia hoje.

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