28 - Escuridão

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  Meu coração acelerado parecia prestes a explodir, a água batendo de frente com meu corpo e direto no rosto me deixava infadigado. Eu queria gritar, mas o grito parecia preso na garganta, e as palavras amargas dela ficavam na minha cabeça, falando várias e várias vezes a mesma coisa. Me angustiando, e me deixando cada vez mais desesperado. Até eu perceber que o motivo do meu pânico não era ela, mas o fato dela estar me arrastando pro fundo do lago. E eu precisava respirar.
  Senti a ardência no peito subir até se alastrar pelo nariz, e então libertei as asas. Num golpe certeiro elas esvoaçaram me puxando pra cima, rasgando a camisa e me afastando da mulher como se fosse uma forma de proteção. Ela me soltou, impotente diante da força que minhas asas negras possuíam contra ela. As bati com força, me impulsionando pra cima, deixando pra trás o rosto enfurecido da mulher que provávelmente estava tentando me matar sem que eu percebesse, e em pouco tempo eu já estava sobrevoando o lago. Ofegante e cuspindo água por causa do engasgo. Eu abaixei até conseguir firmar os pés no chão, e então me curvei enjoado, sentindo uma grande vontade de vomitar a água fria e imunda que havia adeentrado pela minha boca, mas só a ânsia vinha. E depois que eu vi o corpo da mulher saindo da água, me fulminando, o que me tomou foi um misto de raiva com pavor, e a raiva parecia se sobressair numa força sobre-humana.
  - Você já sabe o final... - Atenuou ela, passando as mãos pálidas de unhas afiadas e cheias do meu sangue nos cabelos ao sair da água e eu levantei a cabeça, alargando um sorriso perverso nos lábios.
  - Eu mesmo farei meu próprio final, e nem você e nem ninguém vai me impedir de ficar com a Mallya. Nem que eu tenha que matar um por um dos que entrarem no meu caminho. - Anunciei me levantando e ela sorriu nervosa na minha direção, preparando novas palavras venenosas e afiadas para tentar me destruir mais um pouco, mas eu já estava à caminho dela. Andando em passos largos na sua direção, até a alcançar e pegá-la pelo pescoço, erguendo seu corpo frágil e tão feminino diante de mim. Chegava a ser assustador a maneira que ela se parecia com a Mallya, e eu não sabia mais se aquilo era só um feitiço de semelhança para perturbar a minha cabeça ou se ela realmente era daquele jeito quando eu a conheci.
  - Você vai acabar sozinho meu anjinho... Não importa quem você mate... É a própria Mallya quem quebrará seu coração. - Envenenou ela falando com dificuldade à medida que eu apertava sua garganta com mais força. Dava pra sentir sua veia do coração, a doce jugular, tamborilando inqueita na ponta dos meus dedos. E eu apertava mais forte, e mais, como se pudesse quebrar o pescoço dela com apenas uma mão. E eu queria, pra descontar toda a raiva que ela havia me feito passar. Não como vingança, mas sim justiça. Sem que percebesse eu já estava alçando vôo, tomando altitude, e pretendia levá-la pro alto do labirinto e depois soltar seu corpo, para que despencasse no ar e morresse com a queda. Como os gaviões fazem com suas presas.
  Passei a língua nos lábios umidecendo-os e a mulher começou a se debater, tentando me arranhar e me empurrar para que eu a soltasse, mas eu continuei segurando, com mais força, indo mais alto, já dava pra sentir os primeiros ossos do pescoço dela se deslocando, saindo do lugar dolorosamente conforme eu apertava mais.
  Seus lábios fartos e belos agora estavam ficando lentamente roxos e seu rosto pálido avermelhava-se a cada passo que ela estava mais próxima da morte, até que de repente ela se desfez entre os meus dedos, como se fosse poeira, e os restos de partículas quase impossíveis de enxergar se perderam no vento e caíram no lago. Mas não tinha sido eu quem fez isso. Ela quem simplesmente havia se desintegrado.
  Confuso eu olhei ao redor, procurando por ela, irritado, nervoso, mas quem apareceu no meu campo de visão não foi aquela mulher, foi a Mallya.

- Mark on-

  - Mark... - Alícia agarrou meu braço cerrando os olhos de dor, e assim que eu consegui fazer ela se aproximar da parede e se apoiar, abriu os olhos. Eles estavam mudando de cor. Indo para um tom avermelhado.
  - O que foi Jagi? - Perguntei o mais doce possível para tentar reconfortá-la e ela me soltou e colocou a mão no próprio braço. Quando fez isso eu consegui sentir o meu braço começar a formigar, ardendo como se estivesse tocando em fogo, mas não era meu aquele ferimento, estava sendo passado. Me aproximei dela e coloquei as mãos em seu rosto, constatando que ela estava ardendo em febre.
  - Mark tem algo errado... - Ela ofegou e seu corpo começou a escorregar, aos poucos ela estava perdendo o equilíbrio de novo enquanto pressionava a mão no corte da barriga, e isso estava me estressando já que eu queria pegá-la no colo e ela insistia desde que acordou que conseguia se manter de pé.
  Ignorando suas ordens eu me aproximei e a peguei no colo, dessa vez ela não reclamou mas consegui notar sua relutância.
  - Eu acho que sei o que pode ser, - Falei olhando as marcas vermelhas que estavam surgindo em seus braços, não eram marcas normais, pareciam ser de alguma ferida, e me fez lembrar do dia em que estávamos na escola e ela se machucou com a corrente de prata que estava no meu pescoço. Na mesma hora eu identifiquei o que era. Alergia. Devia haver prata em algum lugar por perto - Preciso te tirar daqui.

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