106 - Velhos Tempos

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  As fileiras de armários nunca pareceram tão mórbidas como agora. O corredor dos armários estava mais isolado do que eu imaginaria que podia estar.
  - Como você faz falta. - Suspirei abrindo meu armário, e escutei passos no começo do corredor, na mesma hora me virei esperando dar de cara com as três loucas, mas o que vi foi outra pessoa.
  E ela estava do jeito que eu me lembrava, só que agora com uma bolsa maior, que eu suspeitava que carregava um dragão.
  - Quem faz falta? - Ela indagou, e eu engoli em seco. Foi como levar um tapa na cara, as lembranças começaram a voltar.
  - Você. - Confessei, enquanto ela se aproximava pude ter mais lembranças do sorriso insano dela, do jeito crucial que tentava esfaquear minha garganta. Do sangue que eu fiz ela perder com tantos tiros.
  Era como tomar um choque, só que embaixo d'água. E eu não sabia mais o que fazer enquanto estava me afogando.
  - Nem um oi? - Perguntei quando ela se calou e foi pro seu armário.
  - Achei que diria primeiro. - Ela retrucou com um sorriso desgastado e eu me retorci por dentro, o peito estava ficando inflamado de novo, e do jeito que Suguinha estava se esperniando na minha mochila eu tinha certeza que havia acordado por tanta tristeza que eu estava sentindo. Quase como um misto de esperança morta e desilusão.
  - Tenho novidades. Uma que a gente sempre quis.
  - E eu também tenho. - Me contou ela, e eu sorri, mas desmanchei rápido demais quando vi Mark e Tae entrando no corredor ao mesmo tempo.
  - Depois da escola, vamos almoçar na casa do Tae, lá a gente põe na mesa o que cada uma tem.
  - Então não vai desistir do caso? - Perguntei em confusão e ela me fitou uma última vez antes de se virar para ir de encontro ao Tae.
  - Não enquanto não colocar as minhas mãos no Jong Up e esgana-lo literalmente.
  E então fui deixada a sós com Mark.

- Mark on-

  - E o que vocês fizeram durante a nossa ausência? - Tae perguntou curioso enquanto chutava o castelinho de areia que tinha acabado de fazer.
  - A Alícia encontrou alguma coisa ontem, mas ela não me fala o que é. - Levantei a cabeça para olhar pras pequenas ondas que se formavam na beira da praia e arrastavam areia de volta pro mar. - Acho que ela queria que a Mallya fosse a primeira que soubesse.
  Enquanto eu dava de ombros Tae ficava pensativo.
  - Acho que elas estão perto de pegar o segundo Jong Up, já quanto ao primeiro, vão precisar de mais alguma informação, algo que fosse simplório, algum tipo de pista.
  - Mas de que jeito se ele não deixa rastros? - Indaguei e Tae encolheu os ombros.
  - De algum jeito, o bem sempre vence Mark. - Tae pareceu positivo e eu o fitei com curiosidade. Sempre quis entender essa positividade que os humanos tinham, mostrando que poderia ter esperanças, mesmo quando tudo parecia já ter se perdido. Eles ainda se agarravam a algum fiozinho inútil, e então como se fosse mágica saiam do sucoco com trabalho duro. Chegava a parecer desenho animado.
  Minha mãe não entenderia dessa forma, era caoaz de torturar o Tae de novo por mais um século se o escutasse falando assim. Ela nunca me deixou ter esse tipo de sentimento. Na verdade nunca me deixou ter nenhum, só a sede por poder e a crueldade.
  Mesmo assim eu ainda conseguia sentir coisas boas. E lá no fundo eu queria acreditar que aquilo era real, e não apenas a metade da Alícia que era boa que estava dentro de mim me comovendo.
  - Tae, como você consegue ser tão bom? - Indaguei como quem não quer nada e ele levantou os olhos do castelo desmanchando e me olhou profundamente.
  - Está tentando se tornar mais humano Mark? - Tae semicerrou os olhos incrédulo, e eu assenti. Talvez fosse mesmo o que eu queria.

- Mallya on-

  - Qual era a novidade que tinha pra me contar? - Perguntei inqueieta e percebi que os olhos da Alícia brilharam um pouco. Por um instante achei que estivesse feliz, porém esqueci completamente disso quando ela destrinchou o acontecido.
  - Temos DNA do Gap Dong original.
  - O que??! - Gaguejei estupefata e ela pegou uma papelada curta, me entregando logo em seguida.
  Eram testes, que provavam que aquilo não era falso, era uma amostra de DNA de verdade, e era de algum ser sobrenatural que era humano também.
  - E o que você tinha pra me contar? - Ela indagou e eu apontei pra escada, Daehyun já estava descendo.
  - Temos um novo aliado.

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